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04/02/2023 às 08h00min - Atualizada em 04/02/2023 às 08h00min

O tipo de dieta e o risco de câncer e doenças cardíacas

JOÃO LUCA O'CONNELL

Existem muitas dúvidas e muito debate nas redes sociais em relação ao real benefício de alguns padrões de dieta e também de diferentes alimentos. Existem aqueles, por exemplo, que defendem fervorosamente a dieta do jejum intermitente e existem vários cientistas e especialistas que não a recomendam. Existem muitas pessoas que defendem o óleo de coco e inúmeros outros que o condenam. Já discutimos, em nosso último artigo, que estas dúvidas são naturais (até mesmo na literatura médica) porque a maioria dos dados científicos em relação aos benefícios das dietas e dos alimentos são obtidos por meio de estudos observacionais, aonde não conseguimos controlar inúmeros fatores de confusão para uma adequada interpretação dos resultados e que produzem, muitas vezes, resultados diferentes e contraditórios a depender de outros fatores (extra-dieta) que diferenciam as populações estudadas. 

 

Entretanto, os estudos observacionais nos permitem fazer inferências e levantar hipóteses sobre uma provável relação benéfica (ou maléfica) entre um determinado tipo de dieta e a saúde. Se hoje já temos, por exemplo, uma clara relação entre o tipo de alimentação e o risco para o desenvolvimento de algumas doenças, não era bem assim há alguns anos atrás. Sobre esta relação dieta-doença, uma das observações científicas mais valiosas das últimas décadas foram os estudos que mostraram uma clara mudança no perfil da prevalência do câncer na população oriental, que varia muito de acordo com o local do mundo em que viviam. 

 

Os japoneses que moram no Japão costumam ter mais cânceres de boca e de estômago (atribuídos ao tipo de alimentação mais rica em arroz, raízes e chás quentes). Porém, quando os orientais se mudam para o Brasil ou para os Estados Unidos (que têm uma alimentação com muito mais carne, comida processada, carboidratos e gordura animal), outros tipos de cânceres (como o do intestino grosso) aumentam em proporção, enquanto os de estômago diminuem sua prevalência. Além desta mudança na dieta, uma vida mais estressada e mais sedentária também faz com que a prevalência do Diabetes e das doenças cardiovasculares seja muito maior entre os japoneses das Américas do que entre os japoneses que permaneceram na Ásia. 

 

Outras inferências sobre os prováveis benefícios do plano alimentar são obtidas a partir da observação de dados objetivos baseados em exames de sangue ou de composição corporal. Assim, se após a ingestão sequencial (por alguns dias) de alimentos de alto valor calórico, observamos aumento dos níveis séricos de glicose, triglicérides, colesterol e aumento do peso corporal e dos níveis pressóricos, fica fácil estabelecer a relação entre o consumo de carboidratos e de sal com uma série de doenças relacionadas à obesidade e alteração do perfil metabólico e de pressão arterial do indivíduo. 

 

Por mais que hoje nos pareça muito claro e transparente a relação do consumo exagerado de carboidratos com o ganho de peso e com uma série de malefícios ao coração e aos vasos sanguíneos, nem sempre foi assim. Por algumas dezenas de anos, as sociedades médicas eram muito mais preocupadas em frear o consumo de gorduras (especialmente as de origem animal) do que em alertar a sociedade em relação ao poder destrutivo dos carboidratos de alto índice glicêmico. 

 

Além dos carboidratos, outros tipos de alimentos têm sido considerados como grandes vilões para a saúde em geral. Em especial, para a saúde cardiovascular e para uma maior propensão ao desenvolvimento de câncer. Dentre os alimentos mais perigosos, podemos citar: alimentos ultraprocessados, as carnes gordurosas, as frituras, os óleos saturadas (de origem animal), as gorduras trans (muito presentes em margarinas, glacê, requeijão, sorvete e biscoitos e bolachas empacotadas), os carboidratos simples e alto índice glicêmico (chocolates, doces, bolos, cereais açucarados, sucos de caixinha, refrigerantes), os embutidos e os enlatados e o excesso de consumo de bebidas alcoólicas. Na próxima edição de nossa coluna, vamos discutir sobre quais tipos de dietas e de alimentos são considerados como os mais benéficos na tentativa de permitir uma melhor saúde cardiovascular e menor risco de adquirirmos alguns dos principais tipos de cânceres. Até lá. 

 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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