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28/01/2023 às 08h00min - Atualizada em 28/01/2023 às 08h00min

Qual tipo de dieta ou alimento é mais saudável?

JOÃO LUCA O'CONNELL
Uma parte do que é definido como boa prática ou bom aconselhamento médico é obtido a partir de observações do que acontece mundo à fora. Mas, observações clínicas feitas a um único indivíduo, ou mesmo quando algumas dezenas de indivíduos são avaliados, podem gerar dúvidas em relação à interpretação dos dados daquela análise. Assim, observar que 99% dos pacientes portadores de COVID sobrevivem se fizerem uso de Cloroquina no início dos sintomas pode não significar absolutamente nada se 99,2% daqueles que não tomaram Cloroquina também sobreviveram à infecção. 

Assim, para termos uma real avaliação se determinado hábito ou intervenção é ou não a melhor conduta a ser sugerida, o ideal sempre é a realização de um estudo clínico bem controlado, onde os grupos (semelhantes entre si) serão divididos apenas em relação ao uso ou não daquela intervenção ou medicamento a ser testado. Mas, quando se trata de dieta, esta divisão e o acompanhamento dos pacientes passa a não ser tão fácil assim... Primeiro porque os grupos precisariam ser acompanhados por vários anos para que as diferenças comecem a aparecer. Segundo, porque podem haver inúmeros fatores confundidores que, em geral, nem sempre são tão facilmente identificados. 

Assim, para saber se o ovo faz bem ou não à saúde, não é preciso saber apenas se o indivíduo come ovo ou não. Mas, também, quantos ovos ele come, em quantas refeições, se come todo dia, se são fritos ou cozidos, se são acompanhados apenas de um café ou se o são por bacon, requeijão, óleo, presunto, salsicha e assim por diante... É preciso entender ainda se o consumo de ovos é a única diferença entre os grupos. Seria injusto, por exemplo, comparar um grupo que come 3 ovos por dia e mantém outros hábitos alimentares e de exercícios invejáveis, com um outro grupo que come 6 ovos ao dia mas, associados a hábitos alimentares muito ruins e ao sedentarismo. Se um grupo evoluir pior, terá sido o consumo de ovos ou o resto que definiu a desvantagem? E é por isso que existem tantas dúvidas na literatura médica em relação ao real impacto do consumo de ovos na nossa saúde. Os resultados dos estudos científicos realizados até aqui vão desde um potencial prejuízo (a maioria deles) até um possível efeito protetor (passando ainda por outros estudos que não definem benefícios e nem prejuízos). 

Outro produto alimentício que sempre desperta bastante curiosidade e debate é o vinho. Vários estudos já observaram um possível efeito protetor (em especial para o coração e os vasos sanguíneos) para aqueles que têm o hábito de tomar vinho pelo menos 3 vezes por semana. Mas, de novo... Se o vinho realmente tem efeito protetor, ele guarda alguma relação com o tipo de uva utilizada no vinho? À quantidade de álcool contida na formulação da bebida? À quantidade de vinho tomada por semana? O benefício vem da uva ou vem do consumo do álcool?  Ou só funciona se eles são ingeridos ao mesmo tempo? Tomar vodka e suco de uva teria o mesmo efeito? Outros acham que a análise é ainda mais complexa e envolveria não só o hábito de ingerir a bebida como também o modo como os bebedores de vinho vivem. Assim, pode ser que o maior benefício da ingestão de vinho esteja no fato de que os bebedores de vinho tendem a ser pessoas mais sociáveis, mais calmas, que meditam mais, que gostam de apreciar mais momentos especiais da vida, que celebram mais, que têm mais contato com os amigos do que ao hábito de ingerir o vinho propriamente dito... 

Enfim, quando se trata de dieta, muitas dúvidas ainda permanecem, pois é muito difícil realizar um estudo bem controlado e conduzido em que se consiga isolar os inúmeros fatores confundidores que podem estar presentes na análise de um estudo estritamente observacional. E é por isso que existem tantas dúvidas e polêmicas em relação ao ovo, ao vinho, ao tipo de óleo que deve ser utilizado para o preparo de alimentos, em relação aos benefícios da dieta fracionada ou do jejum intermitente e dezenas de outras polêmicas ainda atuais. Até aqui, muitas dúvidas em relação a alimentos e dietas ainda permanecem estimulando o debate científico que, cada vez mais, se propaga para as redes sociais e para o nosso dia-a-dia... Semana que vem vamos ver o que os maiores estudos científicos já realizados até aqui e o que as Sociedades Médicas organizadas nos dizem sobre o papel protetor das dietas e dos alimentos. Até lá!


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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