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19/11/2022 às 08h00min - Atualizada em 19/11/2022 às 08h00min

Quinze minutos de exercícios por semana diminui a chance de morte!

JOÃO LUCAS O'CONNELL

Já sabemos, há algumas décadas, que o exercício físico faz muito bem ao sistema cardiovascular. Inúmeros estudos científicos, avaliando a mortalidade de diversas populações, já nos mostraram que o indivíduo que pratica exercícios físicos com certa regularidade tem menos chance de morrer ao longo dos anos subsequentes. O benefício mais claramente observado é o da redução da mortalidade por problemas cardiovasculares. Mas, hoje, sabemos que o impacto na redução da mortalidade da população envolve não somente o benefício cardiovascular da atividade física, mas também a melhora da mortalidade por outras patologias. Já sabemos, por exemplo, que o indivíduo ativo, comparado ao sedentário, controla melhor os seus níveis de glicemia, pressão arterial, citocinas inflamatórias circulantes, peso corporal e outras... E tudo isto impacta na redução da mortalidade também de outras doenças como o Diabetes, a Hipertensão Arterial, a Obesidade e até do câncer. Até a mortalidade relacionada às sequelas de quedas (e fraturas de quadril) também é impactada pela melhora osteomuscular e de reflexos promovida pela atividade física regular. 

 

Apesar de todo o benefício já demonstrado pelo exercício físico, ainda não está muito bem estabelecido qual seria o mínimo necessário para trazer algum benefício. Alguns estudos populacionais prévios já haviam demonstrado que algo em torno de 150 minutos semanais de atividade física mais intensa, ou 250 a 300 minutos de exercícios moderados seria o mais próximo do benefício ideal. Assim, em 2020, a Organização Mundial de Saúde publicou um guia que recomendava estas “doses” semanais de exercício. Assim, acreditava-se que pouca atividade física semanal ou um exagero na quantidade de exercícios não deveria ser tão bom assim... 

 

Entretanto, apesar de parecer fácil, na prática, é muito difícil convencer a maioria dos sedentários ou que pouco se exercitam, a mudarem os seus hábitos de vida e inserirem uma programação de exercícios na sua programação semanal. Além da preguiça, a falta de tempo é uma lamentação compartilhada pela maioria dos sedentários que, mesmo entendendo a importância da atividade física, não conseguem inseri-la em sua rotina semanal. 

 

Na última semana, uma das mais importantes revistas médicas mundiais, o European Heart Journal, publicou um estudo científico prospectivo (de acompanhamento da população desde o início do estudo) que observou, no Reino Unido, mais de 70.000 homens e mulheres, de 55 a 68 anos de idade (média de 62 anos), que foram acompanhados durante 6 anos, em média. No início do estudo, 80% dos participantes foram classificados como sedentários. Os pacientes foram então divididos quanto à quantidade de exercícios físicos vigorosos realizados por semana. Simplificadamente, exercícios vigorosos eram: andar rápido, pedalar rápido, correr, jogar exercícios de bola ou subir escadas rapidamente. O estudo observou que, ao longo de 6 anos, a mortalidade geral foi, em média, 50% menor mesmo naquele grupo que fez apenas 10 minutos de exercícios semanais (quando comparados àqueles que permaneceram sedentários). Se os indivíduos conseguiam se exercitar pelo menos uma hora por semana, o benefício era ainda melhor (mortalidade 50% menor do que o grupo que se exercitou por menos de 10 minutos). A mortalidade geral foi de 4,17% entre sedentários; 2,1% de zero a 10 minutos semanais e 1,1% para quem praticou mais de 60 minutos por semana. Também houve relação inversa entre o volume de atividade física vigorosa semanal e a mortalidade por câncer e por doenças cardiovasculares analisadas isoladamente. A prática considerada ideal, aquela associada à menor mortalidade segundo este estudo, foi a de 53 minutos de exercícios vigorosos por semana. É possível que outras atividades mais prolongadas consigam um impacto que seja ainda maior, mas o número dos que as praticaram foi insuficiente para atingir a significância estatística. 

 

Por fim, é importante destacar que este não é um resultado isolado. Outros estudos recentes também chegaram a resultados semelhantes. No mesmo número da revista em que foi publicado este artigo, outra pesquisa realizada com o acompanhamento de 88 mil ingleses também mostrou que andar rápido por 7 minutos todos os dias, reduz mais a mortalidade do que andar 14 minutos devagar. Em 2011, outro estudo publicado na prestigiada revista The Lancet mostrou que a prática de exercícios vigorosos (como correr 5 a 10 minutos por dia) também diminuiu a mortalidade geral na população acompanhada no estudo. 

 

Assim, a desculpa de “falta de tempo” utilizada por muitos sedentários para justificar a falta do exercício físico na sua rotina diária ou semanal não vai poder mais ser utilizada. Fica o alerta para os pacientes cardiológicos do consultório. Esta desculpa, não temos mais como aceitar! 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 

 
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