Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
29/10/2022 às 08h00min - Atualizada em 29/10/2022 às 08h00min

Metade do Brasil vai entrar em depressão! E isso é muito ruim!

JOÃO LUCAS O'CONNELL

Desde o retorno das eleições democráticas para a escolha do Presidente do país (na eleição de 1989), a polarização entre a escolha de dois candidatos principais vem se tornando rotina. A polarização tem ficado sempre entre um candidato representante de uma linha mais ligada à intervenção estatal na economia (candidato da “esquerda” ou “progressista”) e um candidato mais favorável à liberdade econômica e menor grau de intervenção estatal (denominada “direita” / “conservadora”). Foi assim nas últimas 8 eleições! Entretanto, esta divisão nunca foi tão gritante, polarizada e agressiva como na eleição deste ano, agendada para amanhã.

 

Desde aquela época, o debate já girava não só em torno da ideologia dos candidatos e dos partidos, mas também acerca da personalidade e do caráter  dos candidatos a Presidente. Em 1989, por exemplo, o país se encheu de medo contra o candidato da esquerda. Lula era um ex-líder sindical, líder do Partido dos Trabalhadores no Brasil, e vinha liderando as pesquisas de intenção de voto até a última semana de campanha em 1989. Entretanto, as ideias progressistas do candidato eram encaradas por muitos como ameaçadoras à democracia e à liberdade econômica do país. A mídia e a maioria do empresariado não o apoiaram e um escândalo pessoal, amplamente divulgado, dias antes do término da campanha (e bem explorado pelo candidato liberal durante o último debate) selou a virada do candidato direitista. Descobriu-se uma mãe de uma filha não assumida do candidato e a mesma apareceu em rede nacional de televisão, chorando, dias antes do embate das urnas, para destruir a imagem do candidato. Afinal, como eleger um candidato a Presidente que não abandonara uma filha? Portanto, desde essa época, parte da intenção de voto era regida pela baixaria e ataques às índoles dos candidatos... Mais do que a “direita” venceu a “esquerda”, em 1989, o caçador de marajás, baluarte do combate à corrupção, venceu o pai que abandonou a própria filha... 

 

Por outro lado, esta definição do que é direita e o que é esquerda também nem sempre foi tão definida assim... O candidato “liberal” venceu em 1989 e, para surpresa geral do país, interveio pesadamente na economia, elaborando um plano econômico que simplesmente confiscou a maior parte do dinheiro que as pessoas tinham guardadas em suas contas bancárias. Acho que nenhum candidato “de esquerda” jamais se atreveria a propor um plano tão intervencionista como esse... O presidente “liberal”, Collor, não só propôs, como impôs o seu plano saqueador. Collor, o candidato puritano que salvaria o país, acabou não conseguindo chegar ao final do seu governo, tendo renunciado a seu cargo antes de sofrer o próprio “impeachment” por denúncias de corrupção.  

 

O próximo presidente, Fernando Henrique Cardoso, também venceu o líder da “esquerda” em duas eleições seguidas e propôs reformas e planos econômicos fortes o suficiente para que o Brasil pudesse controlar a bagunça econômica predominante à época, retomar investimentos do exterior, aumentar a industrialização e produção agrícola e investir mais em saúde, educação e segurança pública. Para isso, foi necessário aumentar alguns impostos e criar outros, como um imposto sob transações financeiras... Criação de novos impostos?! Sobre transações financeiras?! Sim... Algo bem típico de governos progressistas... Entretanto, apesar de ter sido um bom Presidente, com uma boa avaliação ao final do seu mandato, FHC não conseguiu eleger seu sucessor. Por incrível que pareça, o candidato a Presidente (que havia feito um bom trabalho como ministro da Saúde e), não conseguiu se eleger, perdendo, justamente, para o progressista Lula, que havia perdido 3 eleições anteriores seguidas... Vai entender... Provavelmente, boa parte dos brasileiros vota mais por empatia ao candidato do que por concordância com o seu plano de governo... 

 

Mas, por que então falar dos governos da década de 90 e do início do século por aqui?! Primeiro, para lembrar de que, infelizmente, boa parte dos outros pleitos eleitorais também foram decididos não pela discussão de propostas, ideias e linhas de ação dos candidatos mas, sim, por denúncias e debates acalorados sobre a ideologia, a personalidade e o caráter dos candidatos. O que acontece agora, já aconteceu várias vezes antes... Segundo, para nos lembrar que não é a primeira vez que o Brasil está dividido... Amanhã, aproximadamente metade da população vai escolher um candidato e outra metade (quase igual) vai escolher o outro. Portanto, na segunda-feira, 50% dos brasileiros irão acordar tristes, chateados e de humor bastante deprimido! Seu candidato preferido terá perdido a eleição! E isto vai ser muito ruim! 

 

E é para estes 50% de deprimidos, que não conseguirão eleger seu Presidente, que eu gostaria de deixar uma mensagem de esperança na coluna de hoje. Vai por mim:  independentemente de quem vencer a eleição, o Brasil não vai se transformar numa Hungria (governada por um governo de extrema direita) e também, não vai se transformar em uma Cuba ou Venezuela (países socialistas que vêm caminhando progressivamente para a insustentabilidade econômica e a miséria social). O país vai continuar prosperando! A imensa maioria de nós retomaremos a exata mesma rotina na segunda pela manhã, independente de quem vença as eleições. Infelizmente, boa parte da população não vai entender isso e vai continuar deprimida por alguns meses. Talvez, por anos... E, infelizmente, este humor deprimido generalizado de metade da população (em especial de quem empreende) tem um poder imensamente maior de afetar a prosperidade econômica do país do que qualquer política econômica. A prosperidade do país vai continuar depender muito mais da força de trabalho e da capacidade de empreender do brasileiro, do que de qualquer grupo governante... Eu sei que boa parte dos leitores da coluna de hoje vão ficar revoltados com o que eu disse pois preferem claramente um candidato e não conseguem se enxergar vivendo sob a presidência do outro candidato. Mas, não tem problema... Vai ficar escrito e documentado aqui e poderá ser lido novamente daqui a 4 anos, quando viveremos o mesmo embate novamente. Ninguém mais freia o Brasil! A não ser, uma depressão generalizada e sustentada de seu próprio povo... O pensamento negativo sistemático é o primeiro passo para todo fracasso! Não podemos deixar que aconteça! Se você perder amanhã, acorde bem-disposto na segunda e se mantenha firme na luta e no propósito! Faça a sua parte e confie no Brasil, independente de quem esteja no comando! O Brasil vai dar certo!

 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90