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25/10/2022 às 08h00min - Atualizada em 25/10/2022 às 08h00min

Odilon Custódio Pereira

ANTÔNIO PEREIRA
Odilon Custódio Pereira
Li, no jornal, o convite para a missa de sétimo dia. Havia falecido há alguns dias (4 de novembro de 2001) o cidadão Odilon Custódio Pereira, com cem anos e quatro meses de idade. Uma longevidade que, por si, já era notícia interessante. Entretanto, ninguém noticiou com o destaque merecido a sua passagem pela vida. Custódio não foi apenas um ancião cuja melhor referência seja o centenário. Ele está na História do Município como condutor de partidos políticos, como empresário, como membro de instituições valorosas.
                   
Nasceu em Monte Alegre, em 1901. Sua família veio do sul de Minas, em 1888. Em 1906, vieram para Uberabinha. Odilon era filho de Francisco Custódio e Maria das Dores Machado Pereira. Eram dez irmãos: Maria Custódio Bernardes, Laura, Áurea Bernardes, Laudomira, Geny, Odilon Custódio Pereira, Custódio Pereira Sobrinho e José Custódio Pereira. Não sei se houve bailes carnavalescos antes de 1911, em Uberabinha, mas, nesse ano, seguramente o comerciante Francisco Custódio cedeu sua sala de visitas para que jovens “de boa sociedade” oferecessem “às distintas famílias uberabinhenses” – como se dizia na época - talvez, o nosso primeiro baile de Carnaval. Um precursor.
                   
Odilon viveu os dias sobressaltados da revolução política municipal de 1910, viveu a inauguração da energia elétrica em 1912, conheceu e conviveu com próceres como o coronel Carneiro, Fernando Vilela, Joanico, Antônio Rezende (figura distinta, mas que não dispensava os chinelos quando estava atrás do balcão). Viu o primeiro e o segundo automóveis que entraram na cidade: o “gafanhoto” do Ignácio Pinheiro Paes Leme e o do comerciante Francisco Ramella, passou pela Revolução de 1930, foi muitas vezes buscar boiadas longe, montado numa mula, acompanhado pela peonada, foi pecuarista e lavourista de bom nível com fazendas em Uberlândia, Pontalina, Canal de São Simão, Tupaciguara, Cremone, Piracanjuba etc, foi diretor por muitos anos da ACIUB  e presidente do Sindicato Rural, depois de um período de lassidão do grêmio, a pedido de Nicomedes Alves dos Santos, José Zacarias, João Naves, Mizael de Castro e outros. Realizou uma difícil Exposição quando os pavilhões estavam tomados pelas vítimas da enchente do córrego Antônio Domingues (das Tabocas). Foi presidente do Patronato do Buriti e fez parte de Lion’s.
                   
Foi Presidente do PSD e trabalhou muito na tentativa de apaziguamento das relações entre UDN e PSD. Depois, foi presidente da ARENA-2.
                   
Gostava de contar casos pitorescos como quando José Zacarias Junqueira participava de um jantar em casa do Tomazinho Rezende, em 1930, e os soldados revolucionários foram treinar tiro com festim na praça dos Bambus (Tubal Vilela). Quando começaram a atirar, Zacarias sacou do revólver, quase derrubando a mesa, e correu para a rua achando que a cidade estava sendo invadida pelos inimigos. O caso do cavalo que refugou quando o Ramella passou por ele com seu automóvel pioneiro derrubando uma dama que o montava. E a senhora gritava: “Gente! O Delegado tem que proibir essa coisa de entrar na cidade!” E o seu tio Custódio da Costa Pereira, dos primeiros motoristas da cidade, que, quando chegava nas esquinas, descia e ia ver se não vinha outro carro, ou carroça, ou charrete, para que ele passasse o cruzamento sem perigo. E a comemoração da primeira vitória de Renato de Freitas, quando o Odilon era Presidente da Arena-2, que começou na casa do Odilon, antes de se abrir a primeira urna, tão seguros estavam de que ganhariam. E tantas coisas mais.
                   
Odilon casou-se com Alayda Rezende Pereira, filha do Tomazinho Rezende. Tiveram dez filhos; o Odilonzinho (Odilon Pereira de Rezende), João Batista Pereira, Reinaldo Custódio Pereira, Maria Helena Pereira Barão, Nice Pereira de Sá, Vinício Custódio Pereira, Valdomira Custódio Pereira Mendes, Laura Pereira Martins e Cilene Custódio Pereira.
                   
Era muito vaidoso, gostava de andar bem vestido, cortava o cabelo duas vezes por mês e fazia a barba diariamente. Enquanto foi vivo, nunca se viu um fio de cabelo branco na sua cabeça. Ele mandava pintar. Depois que enviuvou passou a viajar pelo mundo com seu irmão Custodinho (que foi Diretor do Banco de Crédito Real). E comprava sempre muitas roupas na Europa. Só deixou as viagens depois de um susto brabo: o avião em que viajava entrou num profundo vácuo e despencou no vazio dando-lhe aquela impressão desconfortante de vertigem. Ah... o nosso Odilon aprontou um escândalo, gritou, gritou, saltou, desesperou, mas como não adiantava querer descer, aguentou o resto da viagem para nunca mais repetir.
                   
Foi enterrado com um terno adquirido na Inglaterra.
 
Fontes: Odilon Custódio Pereira, João Batista Pereira e Vinício Custódio Pereira.


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