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15/10/2022 às 08h00min - Atualizada em 15/10/2022 às 08h00min

Morte súbita na academia! É possível prevenir?

JOÃO LUCAS O'CONNELL

Nas últimas semanas, foi noticiada a morte de duas pessoas da região, que ocorreram de forma súbita, durante a realização de exercícios físicos. Uma delas ocorreu dentro de uma academia de musculação de Uberlândia. As duas mortes chamaram a atenção por terem acontecido em pessoas jovens (com menos de 50 anos de idade) e que ocorreram durante a prática de exercícios físicos. Assim, muitos se perguntaram: se aconteceu com ele, não pode acontecer comigo? Qual o risco que corro ao fazer academia ou atividades aeróbias? Existe algo que eu possa fazer para me precaver de um evento catastrófico como este? E o que a academia e os clubes podem fazer para evitar uma tragédia destas? 

 

A morte súbita é aquela que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência, dentro das primeiras 24 horas após o início do quadro clínico que levou ao óbito. Na maioria das vezes, elas acontecem dentro da primeira hora após o sintoma inicial. A morte súbita (assim como os outros tipos de morte) é mais comum em pessoas com mais de 60 anos. Mas, também pode ocorrer em adultos jovens e em crianças. Atinge tanto pessoas saudáveis, como doentes. Também pode ocorrer em atletas ou, mais comumente, em pessoas sedentárias. Pode ocorrer no repouso ou, mais comumente, durante um esforço físico maior. Quando acontece em jovens, o óbito causa ainda mais espanto e sofrimento aos familiares e amigos da vítima, pois não era algo previsto e não houve tempo para preparação psicológica ou despedidas... 

 

São inúmeras as causas de morte súbita. A grande maioria está relacionada a uma obstrução aguda da circulação sanguínea para o coração, pulmão, cérebro ou à ocorrência de distúrbios agudos na “eletricidade” cardíaca. Assim, o Infarto Agudo do Miocárdio, o Acidente Vascular Cerebral e as Arritmias Cardíacas malignas são as principais causas das mortes repentinas, inclusive daquelas que acontecem durante o exercício físico. Na grande maioria das vezes, há também algum problema de saúde presente já previamente diagnosticado: alterações cardíacos (hipertrofia, isquemia, arritmia ou insuficiência cardíaca), diabetes, hipertensão arterial, colesterol elevado, história familiar positiva de morte súbita ou doenças do coração, obesidade, sedentarismo, infecções ou doenças inflamatórias em atividade, alterações hormonais importantes e outras. Assim, a morte súbita pode acontecer com qualquer um de nós, sem qualquer tipo de aviso prévio. Mas, por outro lado, ela é muito mais comum em pessoas que não se cuidam adequadamente ou em portadores de comorbidades e também naqueles que exageram, fazendo mais esforço físico do que aquele a que está acostumado. Durante o exercício físico, o sistema cardiovascular é submetido a um estresse mais elevado que o habitual. Aqueles mais sedentários, que não estão habituados a sofrer as oscilações agudas em sua frequência cardíaca e pressão arterial provocadas pelo exercício estão sob maior risco de um evento cardiovascular. 

 

Vale destacar também que o uso de outras substâncias ilícitas pode aumentar o risco de morte súbita por aumentar a pressão arterial, a ocorrência de arritmias cardíacas e induzir à hipertrofia ventricular. Assim, os atletas deveriam evitar o uso de energéticos, anti-inflamatórios e outras substâncias como cafeína, efedrina, anfetamina, oxandrolona, nandrolona, stanozolol, clembuterol e testosterona. Todas estas substâncias interferem com o grau de hipertrofia e / ou do ritmo cardíaco e o seu uso pode elevar o risco de um evento fatal.

 

Além de procurar um médico para uma avaliação física adequada antes de iniciar ou aumentar a quantidade de exercícios físicos programados, o controle das situações clínicas acima (hipertensão, diabetes, arritmias e outros) é fundamental para diminuir a chance de um evento cardiovascular acontecer com você. Mais: ficar de olho em qualquer novo sintoma diferente, especialmente àqueles relacionados aos esforços, também é muito importante. Sintomas de dor inédita no peito, falta de ar aos esforços, sensações de “quase-desmaios” e taquicardias podem ser “avisos” de que a saúde não vai bem. Portanto, uma parte dos casos de morte súbita poderia ser prevista e até evitada se houvesse o reconhecimento destes sintomas de alerta que levasse à procura por atendimento e aconselhamento médico. 

 

Orientar os alunos e frequentadores dos clubes a se cuidarem e a procurarem o seu médico antes de iniciar ou incrementar o grau de atividade física é uma medida que pode ajudar. Exigir o atestado médico antes de cada ano é uma medida polêmica, que não evita a ocorrência dos óbitos, mas resguarda legalmente a academia ou o clube caso um evento desse ocorra. A aquisição de desfibriladores automáticos externos e a disponibilização deles em academias de maior movimento pode ser extremamente útil para se resgatar vidas. Entretanto, pouco funcionam se os instrutores e funcionários não estiverem aptos a manusear o equipamento e a conduzir o atendimento inicial à parada cardíaca. 

 

Por fim, vale tranquilizar o leitor que a ocorrência de morte súbita durante o exercício é extremamente rara. Em atletas habituados ao treino, é ainda menor! Vários estudos já evidenciaram que o exercício físico moderado e regular é muito benéfico a longo prazo, por conferir uma melhor adaptação dos vasos sanguíneos à condições de estresse e por promover uma maior elasticidade dos vasos sanguíneos. Procure seu médico. Faça uma avaliação física completa com o cardiologista uma vez por ano, principalmente se você planeja iniciar ou aumentar a intensidade de sua atividade física. Não deixe de se exercitar! Vá devagar! É devagar que se vai longe!


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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