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30/08/2022 às 08h00min - Atualizada em 30/08/2022 às 08h00min

João e os primeiros habitantes

ANTÔNIO PEREIRA
O que havia por aqui até 1818?
                   
Indianópolis, Uberaba, Prata e Sacramento.
                   
E aqui, na região do futuro Município de Uberlândia?
                   
Havia indígenas domesticados alocados em áreas ao longo da estrada do Anhanguera e algum morador branco, sem intuito de permanecer, onde, certamente, havia pouso para os viajantes que demandavam Goiás, e algum mantimento.
                   
Há citações de um certo lugar chamado “Rossinha”. De Sant’Anna do Rio das Velhas (Indianópolis) mandava-se lá buscar algumas coisas. O padre José de Castilhos, dos primeiros de Indianópolis, abriu uma estrada até a tal Rossinha onde mandava buscar alimentos. Saint’Hilaire, naturalista francês que andou se embrenhando pelos nossos sertões, também a cita.
                   
Saint’Hilaire atravessou o rio das Velhas, ali pelas alturas de Indianópolis e, em terras do futuro município de Uberlândia, chegou até a tal Rossinha, que era uma pequena propriedade onde havia um agricultor branco. Marcelino, um dos peões do francês, já conhecia a região pois contou ao patrão que tinha feito parte de uma Folia de Reis que perambulou por ali uns oito meses recolhendo esmolas para a festa do Divino Espírito Santo. Recolheu porque havia outros moradores, claro.
                   
Dali, o francês saiu e foi para as margens do riacho "Uberaba Verdadeira”, que era o nosso rio Uberabinha. Nesse lugar morava, numa choupaninha, um velho doente. O velho sempre tinha milho para vender aos viajantes.
                   
O barão alemão Luis Guilherme von Eschwege esteve na região em 1816 estudando os limites da capitania de Minas Gerais e conta, num de seus livros, que recebeu proposta de um caudilho paracatuense de expulsarem devagar os indígenas donos de áreas na região e se apossarem delas. Eschwege repeliu energicamente a proposta. Mas convenhamos que as coisas não mudaram muito. Sempre que se fala em demarcação de terras indígenas, nos tempos atuais, já se sabe que vão tirar deles alguns pedaços já grilados.
                   
Como se sabe, Pires de Campos, quando dizimou os caiapós que existiam na região, que atacavam as caravanas brancas, menos por agressão e mais por medo de serem caçados e escravizados, colocou seus aborígenes, bororos domesticados, em terras doadas pelo governo ao longo da estrada do Anhanguera para impedirem o retorno dos caiapós.
                   
Como se sabe também, em 1816, d. João VI desligou de Goiás, os Julgados do Araxá e Desemboque e toda a região subordinada juridicamente aos dois, e os passou para Minas Gerais.
                   
Depois da saída de Eschwege e das tropas que o acompanhavam para protegê-lo, os geralistas do lugar começaram a pressionar os indígenas e estes foram abandonando suas terras e se internando no sertão. Essas terras abandonadas foram recolhidas ao Patrimônio Nacional e daí redistribuídas como sesmarias a quem as requeresse.
                   
João Pereira da Rocha, que não era da região, mas do Paraopeba, chegou estimulado pelos padres José Ferreira e José Nogueira.
                   
João, atravessou o rio das Velhas à altura de Indianópolis e fez um giro pelas terras do futuro Município indo até perto da foz do Uberabinha no rio das Velhas.
                   
Escolheu três áreas e nas três deixou roça plantada: Salto, São Francisco e Letreiro. Em seguida voltou ao Paraopeba e trouxe a família. Manoel Pedro da Silva ficou nas terras da fazenda São Francisco tomando conta da posse. Mesmo assim, o fiel do Porto do Registro, na Aldeia de Santana (Indianópolis) invadiu a área e construiu nela uma meia água. João teve que comprar-lhe a construção por doze mil réis, que foi o preço de uma égua que o fiel, em seguida, adquiriu do João.
                   
Depois de assentado em sua fazenda, chegou, da mesma região do Paraopeba, seu amigo e aparentado José Alves de Rezende que ficou com a fazenda Monjolinho.
                   
João casou-se duas vezes. Com dona Genoveva teve doze filhos, com dona Francisca, uma filha. Além dessa enorme família, ainda trouxe consigo dois filhos naturais que colocou na fazenda do Salto.
                   
Esse é o comecinho da nossa História.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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