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06/08/2022 às 08h00min - Atualizada em 06/08/2022 às 08h00min

A varíola dos macacos chegou por aqui

JOÃO LUCAS O'CONNELL
A varíola dos macacos é uma doença atualmente tratada como uma emergência de saúde global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesta semana, os Estados Unidos declararam situação de emergência de saúde devido à epidemia que chegou por lá. Muitos casos também já foram registrados no Brasil e a doença também tem preocupado as autoridades sanitárias do nosso país, já tendo sido registrados mais de 1.700 casos da doença até aqui. A probabilidade é que tenhamos mais milhares de casos nos próximos meses. Entender a doença, saber reconhecê-la e saber como é feito o tratamento é, portanto, extremamente importante.

O que é a varíola dos macacos? 
A varíola dos macacos é uma doença viral provocada por um vírus A varíola dos macacos é transmitida pelo vírus monkeypox, que pertence ao gênero orthopoxvirus. É considerada uma zoonose viral (o vírus é transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas muito semelhantes aos observados em pacientes com a varíola tradicional (que havia sido erradicada), embora seja clinicamente menos grave. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias. Isto significa que a doença não vai se manifestar imediatamente após o contato com um paciente doente e sim, de 2 a 3 semanas após. 

Como a doença é transmitida?
Uma ideia errada, que pode causar confusões, é a de que a doença só é transmitida entre homossexuais ou pelo sexo anal. Isto não é verdade. Aparentemente, a porção final do intestino é um local onde o vírus pode se multiplicar de maneira importante e causar muita inflamação local. A dor intensa na região anal costuma ser, inclusive, um dos principais motivos que leva o indivíduo a necessitar de internação hospitalar (para controle da dor). Assim, há realmente uma maior incidência de contágio entre homossexuais. Entretanto, esta não é a única forma de transmissão. A transmissão do vírus também pode ocorrer por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama e toalhas. Assim, o contato próximo com pessoas infectadas (principalmente o contato sexual ou diretamente com as lesões de pele) deve ser evitado. É preciso muito cuidado também com o contato com materiais contaminados pelo indivíduo doente. Luvas e outras roupas e equipamentos de proteção individual devem ser usados ​​ao cuidar dos doentes, seja em uma unidade de saúde ou em casa.

Quais são os principais sintomas da doença?
A OMS descreve quadros diferentes de sintomas para casos suspeitos, prováveis e confirmados. Passa a ser considerado um caso suspeito qualquer pessoa, de qualquer idade, que apresente pústulas (pequenas bolhas avermelhadas) na pele de forma aguda e inexplicável e esteja em um país que esteja enfrentando um surto da doença (como o Brasil). Se este quadro for acompanhado por dor de cabeça, febre, linfonodos inchados, dores musculares e no corpo, dor nas costas e fraqueza profunda, é necessário fazer exame para confirmar ou descartar a doença. Casos considerados “prováveis” incluem sintomas semelhantes aos dos casos suspeitos, como contato físico pele a pele, contato sexual ou com materiais contaminados 21 dias antes do início dos sintomas. Soma-se a isso, ter tido contato próximo com possíveis infectados no mesmo período. Casos confirmados ocorrem quando há confirmação laboratorial para o vírus da varíola dos macacos por meio do exame PCR.

Tem vacina?
A vacinação contra a varíola tradicional é eficaz também para a varíola dos macacos, mas as pessoas com 50 anos ou menos podem estar mais suscetíveis já que as campanhas de vacinação contra a varíola foram interrompidas pelo mundo quando a doença foi erradicada em 1980. A OMS trabalha na verificação dos estoques atuais de vacina da varíola para ver se precisam ser atualizadas.

Como podemos nos prevenir?
A prevenção e o controle dependem da conscientização das comunidades e da educação dos profissionais de saúde para prevenir a infecção e interromper a cadeia de transmissão. 

Qual o tratamento?
Infelizmente, não existe um tratamento específico altamente eficaz e amplamente disponível para a doença. Na maioria das vezes, o tratamento de suporte com sintomáticos para dor, coceira e febre é o que deve ser administrado. Algumas medicações, especialmente para o tratamento das infecções secundárias de pele e pulmão podem ser consideradas após avaliação médica. Como todo quadro viral, descansar, se alimentar e se hidratar bem são condições fundamentais para uma rápida recuperação. Manter uma boa higiene da pele e das mãos, evitar coçar as feridas e cuidar para que elas não evoluam com infecção secundária, também é muito importante. Em raros casos, a varíola dos macacos pode evoluir com uma resposta inflamatória sistêmica grave (geralmente associada a infecção generalizada) que pode matar, especialmente pacientes com baixa imunidade. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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