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25/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 25/06/2022 às 08h00min

A história da Medicina – Parte II

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Na última edição de nossa coluna, na semana passada, escrevemos um pouco sobre a história milenar da Medicina. Falamos sobre como existem relatos de atividades relacionadas à orientação e cuidados em saúde há mais de 2.000 anos. Lembramos que, por milhares de anos, independente da sociedade e da cultura, a maioria das doenças era atribuída a uma espécie de maldição lançada pelos deuses contra o Homem ou contra a humanidade. As pragas individuais ou coletivas eram lançadas para mostrar ao Homem o poder dos deuses. Assim, rezar contra as mazelas, clamar pela absolvição e cura e realizar rituais aos deuses eram as principais atividades dos médicos, que naquela época, eram também os sacerdotes das tribos. Eles eram os responsáveis pela elaboração de poções milagrosas ou rituais para a purificação da alma e tentativa de cura do mal ou, pelo menos, para amenizar o sofrimento do corpo e da alma dos enfermos. 

Hipócrates (por volta de 400 a.C.) foi o primeiro a admitir a possibilidade de múltiplas causas (independente de uma pré-determinação mística) para as doenças. Ele propôs que a observação do paciente (seus sinais e sintomas) e de como ele respondia a determinadas ações, seria a principal linha condutora para fazer os diagnósticos e para propor os tratamentos, em vez de se pautar apenas na dedução a partir de ideias preconcebidas e leis do universo. 

Entretanto, mesmo após as ideias de Hipócrates serem difundidas, o destino da Medicina continuou intimamente relacionado às questões religiosas por outros 2000 anos! Até a Idade Média, as ciências se desenvolveram tendo a religião como parâmetro. Ou seja, só atuavam naquilo que não afrontava os dogmas fundamentais da Igreja. Portanto, a origem da maioria das doenças continuou sendo explicada de maneira mística, por uma punição divina pré-determinada. E, obedecer às orientações dos sacerdotes (participando de rituais e ingerindo poções), parecia ser a única maneira de se tentar combater os males. Era uma maneira de manter uma sociedade submissa e receosa. Afinal, quem ousaria questionar o poder absoluto de quem serviria como mediador na Terra entre a divindade e a humanidade, sujeita a receber os castigos?! 

Apenas a partir do Renascimento, com o surgimento de cientistas independentes à submissão da Igreja, é que a sociedade consegue romper com a ordem tradicional, e começa o desenvolvimento do método científico e da Medicina moderna. Assim, a Idade Moderna marca o nascimento da Medicina como disciplina mais próxima do que vemos nos dias atuais. Embora o propósito do cientista e do médico sejam distintos — o cientista tenta descobrir a verdade a partir de evidências e o médico busca a saúde como fim — as atividades sempre foram muito complementares. A partir de 1500 d.C., médicos e cientistas passam a observar o comportamento dos doentes e a tentar estabelecer causas específicas para os principais males que afligiam a Sociedade. Entretanto, sem a tecnologia e rede de comunicação disponíveis atualmente, o desenvolvimento dos entendimentos e soluções era extremamente lento. 

Enquanto naquela época, a Medicina demorou alguns séculos para entender como uma doença como a peste negra era transmitida e como os indivíduos poderiam evitá-la, mais recentemente, em poucas semanas o mundo inteiro (inclusive pessoas não ligadas à Medicina) passou a entender como um vírus chinês estava sendo transmitido e levando alguns milhares de pessoas à insuficiência respiratória e morte. Em poucos meses, centenas de estudos científicos e Diretrizes sobre o assunto já haviam sido publicados, e soluções práticas para o diagnóstico, monitorização, prevenção e tratamento da doença já haviam sido disponibilizadas pelo mundo. 

Assim, a Medicina atual se utiliza bastante da tecnologia e de estudos científicos. Novos equipamentos, medicamentos, vacinas e métodos de diagnóstico e tratamento surgem frequentemente dessa união. Na próxima edição, encerraremos esta conversa sobre o desenvolvimento da Medicina, relembrando alguns nomes e descobertas que foram fundamentais para o fantástico desenvolvimento da Medicina obtido nos últimos 500 anos. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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