Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
11/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 11/06/2022 às 08h00min

A história da Medicina – parte I

JOÃO LUCAS O'CONNELL

A história da Medicina é milenar. Temos descrições de pessoas realizando avaliação física e mental de pessoas e aconselhando-as a mudar hábitos de vida, participar de rituais para a cura de determinado mal ou a ingerir chás muitos séculos antes de Cristo. A história da Medicina é muito curiosa e entender como ela se desenvolveu até aqui, além de ser muito interessante, nos ajuda a entender como podemos continuar evoluindo. A partir dela, entendemos os princípios, métodos e ideias que orientavam os tratamentos em diferentes épocas, formando um aprendizado contínuo e buscando inspiração para soluções adequadas aos dias de hoje.

 

A História da Medicina está ligada ao surgimento das primeiras civilizações organizadas. Algumas das primeiras descrições de atos relacionados à prática datam de mais de 10 mil anos atrás, com registros (a maioria em forma de gravuras) contendo dicas e técnicas voltadas ao cuidado com ferimentos de guerra e doenças infecciosas. 

 

É comum atribuir à medicina egípcia o título de mais antiga do mundo. Nesse sentido, o primeiro médico da história seria Imhotep (2655 a.C a 2600 a.C). Ele deixou um registro de um tratado com 48 casos médicos, organizados em secções, com o diagnóstico e possibilidade de tratamento de algumas doenças: o papiro de Edwin Smith. 

 

Outro fato interessante é que, desde o início da história da Medicina, já identificamos a preocupação da sociedade organizada em regulamentar a atuação do médico. A tentativa de regulamentação do ato médico já foi descrita no primeiro Código de Leis de que se tem registro. A legislação criada pelo Rei Hamurabi, entre 1792 a.C. e 1750 a.C., já previa obrigações devidas ao médico, como o pagamento de valores pelos clientes, em caso de cura de doenças dos olhos e feridas graves. A mesma lei também era bastante severa, sugerindo a pena de amputação das mãos e outras punições duras ao médico que não tivesse sucesso no tratamento proposto.

 

Vale ressaltar que a Medicina não se iniciou em um único local.  O registro do primeiro livro com práticas de medicina chinesa foi documentado no livro Nei Ching do imperador Huang Ti, que viveu no período entre 2.698 a.C. a 2.598 a.C. Na prática, diversos povos, como egípcios, chineses, babilônios, hebreus e hindus, tiveram práticas ligadas à medicina, nascidas em períodos semelhantes (há mais de 2000 a. C). A maioria das crenças desta época, independente da cultura ou sociedade, ligava o surgimento de doenças e a possibilidade da cura delas à intervenções de forças místicas, seja por intervenção divina ou por maldição lançada por Deus ou pelo diabo. Por isso, a maioria dos médicos era o sacerdote da tribo. Ele era responsável pela elaboração de poções milagrosas ou rituais para a purificação da alma e tentativa de cura do mal.  Apesar de parecer absurda a ideia de que as pessoas da antiguidade acreditavam piamente no poder de um chá ou ritual para a cura de determinada doença, a fé coletiva e cega depositada em algumas medicações para o tratamento “precoce” da COVID numa história recente da Medicina, nos mostra que a esperança da cura pode cegar não só alguns indivíduos, mas boa parte de uma Sociedade!

 

O surgimento da Medicina como um campo específico do conhecimento está ligada à Grécia Antiga. Hipócrates (460 a.C. – 377 a.C.) foi responsável pelo reconhecimento da Medicina como uma área autônoma em relação à Filosofia e desvinculada das artes místicas. E, por isso, ele é considerado o “pai” da Medicina. Em sua época, enquanto a Filosofia buscava leis universais e causas únicas e ligadas ao misticismo, o pensamento de Hipócrates admitia a possibilidade de múltiplas causas para as doenças. Além disso, a observação do paciente (seus sinais e sintomas) e de como ele respondia a determinadas ações, seria a principal linha condutora para fazer os diagnósticos e propor os tratamentos, em vez de se pautar apenas na dedução a partir de ideias preconcebidas e leis do universo. Ainda hoje, o juramento de Hipócrates, que traz princípios éticos para orientar a conduta dos profissionais da medicina, é recitado pelos formandos no curso. Semana que vem, continuaremos a falar sobre a História da Medicina e seus capítulos mais recentes (me referindo aos últimos 2000 anos). 

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90