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09/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 09/04/2022 às 08h00min

Infarto Agudo do Miocárdio: a doença que mais mata no Brasil

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Estatísticas recentes mostram que, no Brasil, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é, isoladamente, a maior causa de óbito. No mundo, também não é diferente. Estima-se que, só no Brasil, ocorram cerca de 100.000 mortes em decorrência desta doença todo ano. No mundo todo, estima-se que mais de 9 milhões de pessoas perdem suas vidas anualmente em decorrência desta patologia. Em suas diversas formas de apresentação, o IAM constitui uma emergência médica. A perda de tempo para a abordagem destes pacientes significa uma pior evolução. Em geral, o indivíduo que demora a reconhecer seu sintoma e a procurar ajuda médica e aquele que é mal atendido e conduzido no Pronto Socorro evoluem de maneira muito pior do que aqueles que procuram .
 
Chamamos de IAM a patologia relacionada ao comprometimento súbito da irrigação cardíaca causado por obstruções ao fluxo de sangue em um ou mais dos vasos sanguíneos que levam nutrientes ao coração. Na grande maioria das vezes, esta obstrução súbita é causada por uma ruptura espontânea de uma placa de gordura que já existia no interior da parede do vaso. Este “machucado” no endotélio do vaso vai acionar uma resposta reparadora do organismo. Na tentativa de “cicatrizar” a placa de gordura rota, várias células de coagulação se aderem ao endotélio lesionado e o seu agrupamento progressivo e organizado vai formar um trombo (coágulo de sangue)  por dentro do vaso, o que acaba por atrapalhar a passagem de sangue que iria irrigar o coração. Sem sangue, a bomba cardíaca começa a funcionar de maneira adequada e pode levar a quadros graves de Insuficiência Cardíaca Aguda ou arritmias que podem ser rapidamente fatais (o chamado “infarto fulminante”). E, mesmo que o paciente sobreviva, se a artéria não for recanalizada em tempo apropriado, ele pode evoluir com graves sequelas relacionadas ao mal funcionamento da bomba ou a outros tipos de arritmias e problemas. 
 
Os principais sintomas, presentes na maioria dos pacientes, são a dor torácica, de forte intensidade, com irradiação geralmente para braços ou pescoço e que se associa a mal estar, náuseas, vômitos, falta de ar ou sensação de desmaio. A dor fica contínua, podendo durar, em geral, por até 12 horas. O diagnóstico é feito pelas características clínicas do paciente, pelo eletrocardiograma (que deve ser realizado à chegada do paciente ao Pronto Socorro) e pela dosagem de algumas proteínas no sangue (as enzimas cardíacas). A extensão e o local do coração acometidos pela falha de circulação é que vão determinar a presença de outros sintomas (como os de Insuficiência Cardíaca aguda). O tempo de demora para a recanalização (abertura) adequada do vaso é que determina o grau de sequela que o paciente irá apresentar no futuro. 
 
O tratamento da fase aguda (primeiras horas e dias) do IAM inclui a instalação de cuidados gerais, a monitorização do paciente em ambiente de UTI e o tratamento específico da causa básica do infarto. Em geral, são administrados analgésicos de alta potência, medicamentos que tentam alterar a coagulação sanguínea (tentando deixar o sangue menos coagulável), alguns que diminuem o esforço cardíaco e outros que tentam vasodilatar e “desinflamar” a artéria coronária, melhorando o fluxo de sangue para o coração. Muitas vezes, medicamentos para tratamento da Insuficiência Cardíaca aguda recém instalada também são importantes e a detecção e tratamento de eventuais arritmias também. Entretanto, o principal tratamento do IAM é a desobstrução dos vasos ocluídos. Para isso, podem ser utilizados fármacos capazes de quebrar o trombo oclusivo ou a realização (no menor tempo possível) de um cateterismo cardíaco (que identifica a artéria obstruída), seguida pelo procedimento de desobstrução do vaso (através da Angioplastia Coronária por balão seguida pelo implante de stents para tentar manter o vaso aberto). Atualmente, existem protocolos bem estabelecidos que permitiram, nos últimos anos, oferecer ao paciente uma chance muito maior de recuperação de um evento de IAM com o uso destes fármacos trombolíticos e, principalmente, através dos dispositivos mecânicos para a desobstrução do vaso. A maioria dos Hospitais terciários da cidade e região estão altamente qualificados para a condução destes casos muito graves. Entretanto, o acesso ao Hospital terciário, especialmente no sistema público de saúde, ainda dificulta a eficiência e resolutividade da maioria dos casos de infarto em nossa região. 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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