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05/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 05/03/2022 às 08h00min

COVID-19: Teremos uma nova onda pós-Carnaval?!

JOÃO LUCAS O'CONNELL
A análise dos gráficos de disseminação do novo coronavírus evidencia que a sua velocidade do contágio vem caindo significativa e progressivamente desde o início de fevereiro. Nas últimas duas semanas, a queda ficou ainda mais evidente. O ritmo de transmissão caiu e em praticamente todos os estados do país, incluindo no Triângulo Mineiro! Mas, com as aglomerações e festividades do carnaval, uma pergunta paira no ar: os números não voltarão a subir nas próximas semanas? Muito provavelmente não. Apesar dos descuidos, os números de novos casos e óbitos não voltarão a subir de maneira significativa! 

A ausência de impacto das aglomerações de carnaval nos números da COVID é explicada por alguns fatores... Primeiro, porque mais de 80% da população já recebeu duas doses de alguma das vacinas contra a COVID, o que gera uma proteção considerável a boa parte da população (pelo menos contra forma graves da doença). Vale lembrar ainda que, mesmo a variante Ômicron sendo capaz de driblar o poder imunizante das vacinas em pelo menos metade das pessoas, ela é eficaz também para prevenir o quadro gripal em pelo menos um terço das pessoas que tomaram a vacina. 

Entretanto, apesar da excelente proteção contra o desenvolvimento de casos graves de COVID, se a proteção das vacinas contra a Ômicron é apenas parcial contra a síndrome gripal, por que as aglomerações de carnaval não implicaram em incremento tão importante de novos casos nos últimos dias? Muito provavelmente, não observamos este impacto por dois motivos principais:  primeiro porque a população não estava mais respeitando o isolamento e boa parte das pessoas já estava muito exposta à contaminação nos últimos meses e a exposição às festividades do carnaval não foi tão impactante a ponto de expor pessoas susceptíveis. O outro fato notável é que, além de que pelo menos um terço das pessoas já estavam imunizados pela vacinação, uma outra parte considerável da população foi exposta ao próprio vírus (e suas várias variantes) nos últimos dois anos e já desenvolveu uma imunidade relativamente boa contra o coronavírus. 

Além disso, vale lembrar que além desta proteção imunológica garantida pela vacinação e desta proteção provinda da exposição prévia à infecção, temos boa parte da população que adquiriu imunidade das duas formas: se expondo ao vírus e também tomando a vacina (ou vice-versa). Estudos evidenciam que, por enquanto, esta dupla exposição é a que gera o melhor tipo de defesa do indivíduo contra infecções futuras. Assim, temos, atualmente, uma grande parte da população com uma defesa imunológica bem estabelecida contra o coronavírus. Deste modo, dificilmente experimentaremos outra onda de disseminação da doença nos próximos meses. É importante lembrar que estudos que avaliaram a dosagem de anticorpos em laboratório nos mostram que esta alta nos anticorpos perdura por, pelo menos, 6 meses. Sendo assim, há muitos motivos para acreditarmos que, pelo menos pelos próximos 6 meses, não seremos mais ameaçados pelo coronavírus. 

Por mais animadora que seja esta expectativa, é preciso deixar claro que o coronavírus já nos pregou muitas peças nestes dois anos. Ninguém pode garantir ao certo que isto realmente irá acontecer. Afinal de contas, por duas vezes já fomos surpreendidos com novas variantes do vírus que driblaram esta imunidade coletiva e nos agrediram de maneira mais ou menos importante ao longo dos últimos dois anos... Entretanto, o que nos deixa mais esperançosos é que agora, a maior parte da população foi exposta simultaneamente ao vírus nos últimos 12 meses, o que garante uma barreira coletiva muito significativa que pode SIM ser capaz de evitar novos ciclos de epidemia ou novas ondas de contaminação. 

Esta previsão só vai mudar se o vírus for capaz de se mutar para uma variante bastante diferente e que use mecanismos inéditos de entrada na célula, ainda não descritos. Mas, pelo fato da variante Ômicron ter desenvolvido vários mecanismos diferentes de acesso às nossas células, a possibilidade desta variante “dribladora” surgir começa a ficar mais baixa. Por todo o exposto acima, temos vários motivos para acreditar que estamos finalmente chegando ao controle da pandemia da COVID. Esperamos que nas próximas semanas as autoridades comecem a nos liberar da obrigatoriedade do uso de máscaras (pelo menos em locais bem arejados) e liberar reuniões presenciais com mais pessoas. Já é hora de pensarmos em voltar ao nosso “novo normal”.   


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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