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15/02/2022 às 08h00min - Atualizada em 15/02/2022 às 08h00min

Hélio Marincek

ANTÔNIO PEREIRA
Em 2010, aos 87 anos, faleceu o coronel aviador Hélio Marincek, um pioneiro da aviação brasileira.

Hélio foi o padrinho de formatura do tenente-coronel aviador César Bombonatto, patrono do nosso Aeroporto.

Pouca gente conhece, ou ouviu falar do Hélio Marincek. Na verdade, viveu poucos anos em Uberlândia, mas tem uma interessante história. Já que falamos, no número anterior, no Aero Clube de Uberlândia, o primeiro do país, com origens na Escola de Aviação do Marincek, pai do Hélio, vamos dar continuidade a este tema.

A aviação civil chega a Uberlândia em 1937, com o piloto brevetado em Ribeirão Preto, Antônio Marincek, que se estabeleceu comercialmente na avenida Afonso Pena com uma recauchutadora de pneus. Não demorou muito instalou sua Escola de Aviação utilizando um campo de pouso já existente e construído por iniciativa particular de José Alves dos Santos. Ele tinha conversado com muitos rapazes e notou que se interessavam pela prática do voo. Criada a escola, abertas as inscrições, o primeiro a se apresentar foi um senhor já maduro, o memorialista Tito Teixeira, com 54 anos de idade. Talvez o mais idoso aluno de aeronáutica do país. Em seguida, vieram Carlos Vilela Marquez, Galileu Vilela Marquez, Eurico de Andrade Vilela, Said Neto, Amadeu Marchiori, Antônio Poli, Jeremias Silva, Dr. Antônio Mendes dos Santos, José Camin Filho (Tiquino), Aristóteles Silva, Damartina de Freitas (Titina) e Levindo da Costa Pereira. A turma tinha o seu “mascote”, o menino Hélio Marincek que já pilotava desde os 13 anos. Era aluno nas aulas do pai e instrutor dos candidatos ao brevê. Seguramente o mais novo piloto do mundo. Havia instruções teóricas e práticas, pela manhã e à tarde. Depois de bem orientado tecnicamente, o “manicaca” (apelido dado aos principiantes) ia para o batismo de voo com o coração na mão. Marincek, pai,  ia junto.

A primeira turma de aviadores de Uberlândia formou-se em 1938, entre eles, Tito Teixeira, o mais idoso piloto brevetado no país, de Antonieta, a primeira mulher brevetada em Minas Gerais (mãe do seu instrutor, pasmem! - o Hélio). Entre eles, também o menino Hélio que tanto era aluno quanto instrutor. Era o mais jovem piloto do mundo só que não podia brevetar-se por causa da idade. Os oficiais examinadores ficaram encantados com a sua perícia e alguns fizeram questão de voar sob sua pilotagem.

Lá um dia, Antônio e Hélio estavam em Ribeirão Preto comemorando a “Festa de Aviação de Guatapará”, em homenagem ao famoso piloto português Gago Coutinho. Presente, entre várias autoridades e oficiais da Aeronáutica, o Assis Chateaubriand, presidente dos Diários Associados. Levado à presença de Chatô, este, com seu jeito mandão ordenou-lhe: “Me disseram que você voa sozinho, então pegue aquele avião ali e decole!” Hélio respondeu-lhe: “Eu não voo sem ordem do meu pai!” Chatô gostou da resposta e disse ao seu representante em Ribeirão Preto:  “Santana, cuida deste menino, quero vê-lo voar no Rio de Janeiro.”

No dia 12 de julho de 1939, o menino decolou de Araguari num Fairchild PP-TAY levando consigo seu pai e um amigo. Pousaram em Ribeirão Preto e em São Paulo. Foi recebido por Chatô e por Austregésilo de Athayde (presidente da Academia Brasileira de Letras). Chatô manteve o menino no Rio por 40 dias com um extenso programa de homenagens e voos. Os Diários Associados e outros jornais noticiaram toda a trajetória do menino talentoso. Visitou todos os jornais e emissoras de rádio. Desfilou em carro aberto, em campos de futebol. Alguns repórteres voaram com ele. As crianças rodeavam-no onde estivesse. Ganhou flores e presentes e promessas de matrículas no Colégio Militar e no Colégio Pedro II (e realmente Hélio foi coronel aviador). Foi recebido pelos ministros da Educação, da Guerra e da Marinha. Participou com destaque de solenidades importantes como a posse do Comandante da Escola Militar. O Ministro da Marinha levou-o a visitar a Base Naval da Aviação (aqui ele chegou em seu avião). E voou, e voou para a estupefação de toda a gente carioca. E mais visitas e mais isso e mais aquilo até ser recebido pelo presidente Getúlio Vargas que lhe disse: “Voarei com você, no seu avião, sem fazer seguro de vida!” Soltou uma baforada do indispensável charuto e deu aquela risada gostosa que tanto o caracterizou.
 
Fontes: Tito Teixeira, Sérgio Ferreira Cardoso



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