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12/02/2022 às 08h00min - Atualizada em 12/02/2022 às 08h00min

Possíveis danos cardiovasculares resultantes da COVID

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Inúmeras sequelas a longo prazo da síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) - o vírus que causa a doença do coronavírus 2019 (COVID-19)- pode envolver os pulmões e vários órgãos extrapulmonares, incluindo o sistema cardiovascular. Um estudo americano de extrema importância, avaliando mais de  150.000 pacientes que já tiveram COVID-19, foi publicado, nesta semana, na revista científica Nature (uma das mais importantes revistas científicas do mundo). A análise dos dados dos pacientes infectados pelo novo coronavírus ao longo dos últimos dois anos mostrou que a infecção pelo vírus realmente aumenta as chances de inúmeras complicações cardiovasculares como infarto, hipertensão arterial, AVC, miocardite, trombose, insuficiência cardíaca, embolia de pulmão, dentre outros males. O risco se estende a todos os que tiveram a doença (inclusive que apresentou formas leves e moderadas da doença), mas aumenta de acordo com a gravidade do quadro (quanto mais grave o quadro inflamatório, maior a chance de lesões cardiovasculares). 

As complicações cardiovasculares da doença aguda da COVID estão bem descritas, mas as manifestações cardiovasculares pós-agudas da COVID-19 ainda não foram caracterizadas de forma abrangente. O estudo em questão analisou bancos de dados de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA para avaliar a evolução clínica de 153.760 indivíduos com COVID-19, bem como de dois conjuntos de coortes de controle com 5.637.647 (controles contemporâneos – pessoas que não tiveram documentação da doença no mesmo período) e 5.859.411 (controles históricos), para estimar riscos e encargos de 1 ano de um conjunto de desfechos cardiovasculares pré-especificados. O estudo conseguiu demonstrar que, mesmo depois dos primeiros 30 dias após a infecção, os indivíduos com COVID-19 correm maior risco de doença cardiovascular incluindo AVC, arritmias, doença cardíaca isquêmica e não isquêmica, pericardite, miocardite, insuficiência cardíaca e doença tromboembólica. 

Vale destacar ainda que esses riscos foram evidentes mesmo entre indivíduos que não foram hospitalizados durante a fase aguda da infecção. Entretanto, percebeu-se que aumentaram de forma gradual de acordo com o grau de comprometimento durante a fase aguda. Assim, pacientes que necessitaram de internação em UTI apresentaram mais eventos que pacientes internados em enfermaria que, por sua vez, apresentaram mais eventos que pacientes não hospitalizados. Os riscos eram evidentes independentemente da idade, raça, sexo e outros fatores de risco cardiovascular, incluindo obesidade, hipertensão, diabetes, doença renal crônica e hiperlipidemia. Eles também eram evidentes em pessoas sem qualquer doença cardiovascular antes da exposição à COVID-19, fornecendo evidências de que esses riscos podem se manifestar mesmo em pessoas com baixo risco de doenças cardiovasculares. 

Em conjunto, os resultados deste importante estudo mostram que os riscos e cargas de doenças cardiovasculares entre aqueles que sobrevivem à fase aguda da COVID-19 são substanciais e abrangem vários distúrbios cardiovasculares por, pelo menos, 1 ano após a infecção aguda. As implicações mais amplas dessas descobertas são claras. Primeiro, os achados enfatizam a necessidade de otimização contínua das estratégias de prevenção primária de infecções por SARS-CoV-2,ou seja, a melhor maneira de prevenir a COVID Longa e suas inúmeras complicações, incluindo o risco de sequelas cardiovasculares graves, é prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 em primeiro lugar. Assim, manter todas as medidas já consagradas de precaução é fundamental. Manter o forte apoio à campanha de vacinação também pode ajudar a diminuir as sequelas provocadas pela infecção, uma vez que quanto pior o quadro agudo, maior é a chance de morte ou de sequelas tardias. Por fim, é preciso destacar que os riscos de doenças cardiovasculares relatadas podem se traduzir em um aumento ainda maior do número de eventos cardiovasculares na população. Assim, governos e sistemas de saúde em todo o mundo devem estar preparados para lidar com a provável contribuição significativa da pandemia de COVID-19 para o aumento da carga de doenças cardiovasculares ao longo dos próximos meses. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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