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29/01/2022 às 08h00min - Atualizada em 29/01/2022 às 08h00min

Em pleno pico de novos casos de covid-19, a volta às aulas é segura?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
O ritmo de disseminação da COVID-19 subiu assustadoramente durante o mês de janeiro. A chegada no país da variante Ômicron – altamente transmissível – fez com que a média diária de novos casos atingisse os maiores valores desde o início da pandemia. Desde o início da pandemia – há dois anos – nunca tivemos tantos novos casos simultâneos de Síndrome Gripal por COVID. Os Prontos Socorros ficaram lotados durante todo o mês de janeiro. Muitos ficaram de cama e muitos não puderam trabalhar por alguns dias do mês. Além disso, desta vez, uma parte maior da população infantil também foi infectada e adoeceu por COVID. 

A boa notícia foi que este aumento expressivo no número de novos casos de síndrome gripal não foi acompanhado de um aumento significativo no número de internações e óbitos por COVID. Com mais de 75% da população de nossa região já completamente imunizada (cerca de 15% inclusive com uma dose adicional), não sofremos com a superlotação de hospitais e UTIs. Na grande maioria dos pacientes em que o diagnóstico foi feito, a doença evoluiu como uma síndrome gripal comum, que deixou sintomas leves a moderados que duraram alguns dias.  Muito provavelmente, a maioria dos contaminados pela nova variante nem ficou sabendo que estava infectada. A grande maioria deve ter evoluído de maneira assintomática e o diagnóstico acabou nem sendo feito.

Para nosso azar, estamos no pico bem na véspera do retorno de milhares de crianças e adolescentes às aulas presenciais. A partir da próxima semana, dezenas de escolas públicas e privadas da cidade e da região estarão recebendo seus alunos para a inauguração de mais um ano letivo. Várias cidades do Brasil optaram por adiar este retorno em algumas semanas. Não seria mais prudente que as autoridades de nossa região também tivessem esse cuidado?! 

Esta é uma pergunta bastante controversa. Vários aspectos precisam ser analisados para uma tomada sábia de decisão. Sabemos que esta nova variante atinge muito mais as crianças e adolescentes do que as anteriores. Mesmo a letalidade pela doença tendo continuado muito baixa nesta faixa etária, milhares de menores de idade adoeceram de uma vez no último mês. Centenas necessitaram de internação hospitalar em nossa região. Os leitos de internação pediátrica em Uberlândia (especialmente os de UTI) ficaram sobrecarregados pela primeira vez desde o início da pandemia. Além disso, a maior parte da população menor de 12 anos ainda não foi vacinada. Assim, o temor do retorno às aulas neste momento se faz correto. O retorno ao convívio escolar pode levar a um novo aumento do aumento do número diário de casos em crianças por mais algumas semanas.

Por outro lado, adiar o retorno às aulas presenciais agora, aos 46 minutos do segundo tempo, poderia gerar enormes transtornos às escolas. A mudança do calendário poderia provocar enorme estresse (e custo) para a reprogramação do calendário escolar e para a readaptação das escolas ao ambiente virtual. Além da privação do contato social entre os estudantes e o ambiente escolar, inúmeros outros problemas precisam ser contabilizados como o menor aproveitamento acadêmico dos estudantes no ambiente virtual e a necessidade de readaptação dos lares para manter as crianças em casa.

Por fim, para aqueles que estão ainda inseguros com o retorno das aulas na próxima semana, vale lembrar alguns pontos que favorecem a manutenção da decisão pelo retorno imediato: 1) a chance de má evolução da COVID em crianças e adolescentes continua muito baixa. Apesar de existir o risco, o benefício emocional do retorno à sua rotina habitual e do contato físico entre os estudantes deve compensar este baixo risco de adquirirem a COVID; 2) muito provavelmente, boa parte dos estudantes já teve contato com o coronavírus nas últimas semanas. A maior parte deles não desenvolveu e não desenvolverá sintomas se entrar em contato com o vírus de novo; 3) boa parte dos alunos com mais de 12 anos em nossa região já estão completamente vacinados; 4) já atingimos, provavelmente, o pico de novos casos desta nova onda. Muito provavelmente a incidência de novos casos da doença começará a diminuir a partir de agora, com ou sem o retorno às aulas; 5) a sobrecarga dos leitos pediátricos nos hospitais deve durar apenas mais algumas semanas. Em breve, esta pressão sobre os leitos hospitalares infantis será aliviada. Em pouco tempo, estaremos deixando esta nova onda (ou melhor, este Tsunami) para trás. 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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