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11/12/2021 às 08h00min - Atualizada em 11/12/2021 às 08h00min

Morte súbita em atletas! É possível prevenir?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Nos últimos meses, os noticiários televisivos divulgaram a morte súbita de alguns atletas de alta performance durante a realização de exercícios físicos. As mortes em atletas chamam a atenção por geralmente acontecerem em pessoas jovens, bem preparadas fisicamente, já acostumadas à prática de exercícios mais vigorosos, incluindo a prática de atividade física competitiva. 

O que é morte súbita? 
Chamamos de morte súbita a morte que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência, dentro das primeiras 24 horas do início do quadro clínico que desencadeou o óbito (em geral, acontecem dentro da primeira hora). A morte súbita pode ocorrer em adultos, idosos e também em crianças. Atinge tanto pessoas sãs como doentes, de sedentários a atletas. Como tudo acontece muito rápido e sem aviso, o óbito causa ainda mais espanto e sofrimento aos familiares e amigos da vítima pois não há tempo para preparação psicológica e nem para despedidas. A morte súbita é ainda mal aceita pela sociedade e vista pelas pessoas como uma quebra injusta do ciclo natural da vida, principalmente quando envolve pessoas mais jovens. 

O que leva à morte súbita? 
Em adultos e idosos – especialmente em atletas -  a maioria dos óbitos que acontecem subitamente estão relacionados a obstruções agudas da circulação sanguínea para o coração, o cérebro ou à ocorrência de distúrbios agudos na “eletricidade” cardíaca. Assim, o Infarto Agudo do Miocárdio, o Acidente Vascular Cerebral e as Arritmias Cardíacas malignas são as causas da grande maioria das mortes que acontecem durante o exercício físico. 

O exercício aumenta a chance da morte súbita? Por que?
A ocorrência de morte súbita durante o exercício é extremamente rara (1 para cada 100.000 praticantes por ano). Em atletas bem treinados, é ainda menor: 1 para cada 160.000 praticantes por ano. O exercício aumenta o risco da ocorrência do óbito súbito pois, mesmo nos atletas bem preparados, durante a atividade física intensa, é normal que a frequência cardíaca triplique em relação ao repouso. Também é comum que a pressão arterial atinja níveis de 160 a 200 mmHg de pressão arterial sistólica mesmo em pessoas normotensas. Ou seja, durante o exercício físico, o sistema cardiovascular está sob contínuo estresse. Este estresse é ainda mais importante em indivíduos que não estejam devidamente preparados fisicamente e nos “atletas de final de semana”. 

Também pode acontecer comigo? 
Na verdade, a morte súbita pode acontecer com qualquer um de nós, sem qualquer tipo de aviso prévio e sem qualquer possibilidade de detecção prévia. Infelizmente, muitas vezes, não há qualquer sintoma antecedendo o óbito. E, quando ocorrem sintomas prévios de alerta, na maioria das vezes, estes são negligenciados pelo próprio doente ou pelos seus familiares. Assim, sintomas de dor inédita no peito, falta de ar aos esforços, sensações de “pré-desmaios” e taquicardias são atribuídos a algum alimento ingerido, noite mal dormida, estresse emocional ou problemas estomacais e não são percebidos como um aviso do organismo de que a saúde não vai bem. Portanto, uma parte dos casos de morte súbita poderia ser prevista e até evitada com o reconhecimento destes sintomas de alerta e com a procura por atendimento e aconselhamento médico. 

É possível prever ou prevenir a morte súbita?
Infelizmente, não existe uma bola de cristal que possa prever a ocorrência de morte súbita. Entretanto, a presença de algumas alterações estruturais cardíacas contraindicam a realização de exercícios físicos vigorosos pois o risco de arritmias ou infarto é muito alto. Mesmo em um indivíduo com o coração normal, nós podemos estimar (estatisticamente) a chance de um indivíduo ter um evento catastrófico (como infarto, AVC ou morte súbita) nos próximos 10 anos. Existem várias tabelas, baseadas em estudos populacionais, que nos auxiliam neste cálculo. Assim, podemos classificar os pacientes como portadores de risco baixo, intermediário ou alto para a ocorrência de eventos cardiovasculares graves ou morte súbita. De acordo com esta classificação de risco do indivíduo, é proposta uma mudança no estilo de vida do indivíduo, avaliado que tipo de exercício físico o indivíduo pode fazer e indicado medicações que poderão levar à uma diminuição  do risco de morte súbita do indivíduo. Já o uso de outras substâncias podem aumentar o risco de morte súbita por aumentarem a pressão arterial, a ocorrência de arritmias cardíacas e induzir à hipertrofia ventricular. Assim, os atletas deveriam evitar o uso de energéticos, anti-inflamatórios e outras substâncias como cafeína, efedrina, anfetamina, oxandrolona, nandrolona, stanozolol, clembuterol, testosterona. Todas estas 

É possível tratar a morte súbita?
O único tratamento reconhecido disponível para a morte súbita é a aplicação imediata da cadeia de sobrevida (SAVIC) para atendimento ao paciente vítima de morte súbita. Esta terapêutica, baseada fortemente na aplicação de massagem cardíaca efetiva e desfibrilação cardíaca, se disponibilizada rápida e corretamente, pode recuperar muitos pacientes da morte súbita. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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