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20/11/2021 às 08h00min - Atualizada em 20/11/2021 às 08h00min

Quando a morte te visitar, a sua mesa estará posta?

DÉBORA OTTONI

Todos fomos pegos de surpresa com a notícia da morte da cantora Marília Mendonça, de 26 anos, na tarde daquela sexta-feira, 05 de novembro. Após a queda do avião de pequeno porte, perto de uma cachoeira na serra de Caratinga, no interior de Minas Gerais, a cantora foi dada como morta, o que foi um choque, não apenas para os admiradores do sertanejo, mas para todos os brasileiros.

O acontecimento nos trouxe tamanho impacto por vários motivos. O fato de a moça ainda ser jovem, por ter um filho pequeno, por ela ser famosa e, principalmente, porque a sua morte precoce fez muita gente refletir sobre as suas próprias vidas.

Uma das coisas que mais ouvi naqueles dias foi: “aquela moça tinha um futuro brilhante pela frente”. Será? Erroneamente idealizamos cenários muitas vezes inalcançáveis de um estilo ou meta de vida. Estamos sempre correndo atrás de uma boa vida, porém, nunca nos preocupando com a boa morte! 

O que seria um futuro brilhante se não temos em vista a finitude da nossa existência e não vivemos para cuidarmos e nos dedicarmos ao que realmente importa?

Acredito que somos pegos de surpresa pela morte porque não nos atentamos ao fato de que a vida é finita e que as nossas ações, na maioria das vezes, são muito mais voltadas para um futuro fantasioso do que para a vida real presente.

O ocorrido e a maneira como as pessoas se sensibilizaram com a morte da jovem famosa, me trouxe uma recordação da infância:

Fui criada com meus avós maternos na capital de Minas e cresci vendo a minha avó replicar o bom costume mineiro da hospitalidade. Ela sempre recebia as pessoas em nossa casa para almoçar, passar o dia, uma noite e, até mesmo, alguns meses. Muitas dessas visitas, chegavam sem avisar ou anunciavam sua chegada em cima da hora. 

Isso marcou a minha infância e, desde pequena, passei a admirar o dom da hospitalidade.
Minha avó sempre recebia as suas visitas sorrindo e fazia questão de demonstrar sua alegria através da receptividade.

Retirava da cristaleira a melhor porcelana para servir um cafezinho passado na hora. E quando era para oferecer “pouso” ao visitante, as toalhas e roupas de cama estavam sempre limpas, separadas e organizadas nos maleiros dos guarda-roupas.

Ainda que fosse tudo muito simples, era impossível não ser tocado pela BELEZA em cada detalhe, cuidadosamente, colocado na composição da mesa, nos forros das camas e nos lençóis limpos.

Bem como pela presença da BONDADE expressa pelo acolhimento, e da VERDADE presente na generosidade que fazia qualquer um se sentir especial.

Parecia que minha avó preparava a casa sabendo que a qualquer momento uma pessoa pudesse chegar. Assim, ela nunca era pega de surpresa!

Relembrando esses momentos, foi inevitável não fazer uma analogia com a chegada da morte.

Erramos ao considerá-la uma visita inesperada. Se a nossa sala está arrumada, se diariamente preparamos a nossa casa, organizamos nossas coisas e cuidamos do que é nosso, não temos com o que nos preocupar se a morte aparecer. 

Na verdade, devemos esperar pelo dia em que seremos visitados por ela.
Se a nossa biografia é grafada com traços de virtudes que anunciam a Verdade, a Beleza e a Bondade das coisas, o encontro com a morte não será assustador.

Será como receber a visita já esperada, da companheira que veio abraçar aquele que não teme a eternidade, antes, por ela se dedica noite e dia.

Você está se preparando para a chegada desta visitante? Estás certo de que ela encontrará tudo em ordem?

Arrume a sua sala de jantar.

Deixe a mesa posta. 

Faça o que tiver que fazer, e não será pego de surpresa!

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



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