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18/09/2021 às 08h00min - Atualizada em 18/09/2021 às 08h00min

Arritmia Cardíaca é perigoso?

JOÃO LUCAS O'CONNEL
A principal função do coração é a de bombear o sangue (oxigenado nos pulmões) distribuindo-o para todos os tecidos e órgãos do corpo. Esta função de bomba é garantida pela passagem de um estímulo elétrico gerado no próprio coração. Na maioria das vezes, um grupo específico de células (localizadas no teto do átrio direito) gera um estímulo elétrico que desce pelo coração fazendo com que as células do tecido cardíaco se contraiam quase que simultaneamente (primeiro os átrios, depois os ventrículos), gerando uma contração forte e coordenada, que impulsionará o sangue através da Aorta e de suas inúmeras ramificações (vasos sanguíneos).  
 
Chamamos de arritmias cardíacas, alterações elétricas que provocam modificações no ritmo normal das batidas do coração. Elas podem ser de vários tipos: taquicardia (quando o coração bate rápido demais); bradicardia (quando as batidas são muito lentas), e casos em que o coração pulsa com irregularidade (descompasso do ritmo). 
 
A maioria das arritmias cardíacas não estão associadas a maior chance de ocorrência de óbito, sendo popularmente chamadas de benignas. Estas costumam causar sintomas como palpitações (batedeiras no peito) e sensações de desconforto (coração acelerado e batendo forte), mas não causam transtornos importantes.
 
Entretanto, existem outras arritmias que alteram significativamente a capacidade de bombeamento do coração, diminuindo muito a quantidade de sangue ejetado pela bomba.  Estas arritmias (chamadas de malignas) podem levar a sintomas graves como desmaios, dor no peito, falta de ar, confusão mental e, inclusive, a morte súbita cardíaca.
 
Normalmente, as arritmias cardíacas malignas ocorrem em quem já apresenta problemas cardíacos importantes, como em pacientes que já tiveram infarto, cirurgias cardíacas prévias, insuficiência cardíaca, cardiopatia chagásica, defeitos de formação cardíaca (cardiopatias congênitas) e outros problemas nas válvulas ou no músculo cardíaco... A ocorrência de arritmias fatais em um indivíduo sem doença cardíaca estrutural é extremamente rara.
               
Mesmo um coração estruturalmente normal pode apresentar distúrbios no ritmo cardíaco. Entretanto, muitas arritmias se dão por algum grau de sobrecarga às câmaras cardíacas. Assim, a melhor forma de prevenir o surgimento delas é o controle adequado dos fatores de risco que levam a sobrecarga ao coração e aos vasos sanguíneos. Portanto, a melhor forma de prevenção é manter um bom controle dos níveis de pressão arterial, colesterol e glicose sanguíneas, a cessação do tabagismo e diminuição do consumo de substâncias nocivas ao ritmo cardíaco (café, álcool, energéticos e outros). A diminuição do peso e a atividade física regular também são medidas fundamentais.
               
Se você apresenta alguns dos sintomas relatados acima, é importante que você procure um cardiologista para uma boa avaliação clínica. A partir daí, poderão ser solicitados alguns exames simples, que podem estabelecer o diagnóstico do tipo de arritmia que você apresenta. Os exames mais comuns e corriqueiros solicitados de início são: eletrocardiograma, teste ergométrico, ecocardiograma e holter de 24 horas). Raramente, outros exames mais sofisticados podem ser necessários para estabelecer o correto diagnóstico e prognóstico da alteração do ritmo cardíaco encontrada, como, por exemplo, o estudo eletrofisiológico. Este último é um exame realizado através da introdução de cateteres através da punção de uma veia profunda (geralmente na virilha) que vão avaliar a passagem dos estímulos elétricos cardíacos pela parte de dentro dos átrios e ventrículos.  
               
O tratamento depende do tipo de arritmia encontrada. Para a maioria das arritmias benignas, basta o controle dos fatores de risco que levam à sobrecarga cardíaca. Por outras, é necessário a investigação e correção de outros distúrbios sistêmicos como os distúrbios de íons sanguíneos, a hipóxia, distúrbios de tireóide, anemia e outras. Outras vezes, o uso de medicamentos antiarrítmicos pode ser necessário para a diminuição dos sintomas ou diminuição do número de crises de arritmia. Existem inúmeros medicamentos que podem ser usados para esta finalidade.

Em casos de pacientes portadores de arritmias malignas (potencialmente ameaçadoras à vida), pode ser necessário o uso de medicações mais potentes. Pode haver também a indicação de procedimentos terapêuticos mais intervencionistas, como a ablação das arritmias por cateteres intra-cardíacos ou o implante de marcapassos, ressincronizadores cardíacos ou de cardio-desfibriladores automáticos implantáveis. A ablação é uma técnica avançada, mas popularmente pouco conhecida, que é realizada por cateter com energia de radiofrequência e trata diversas arritmias, sendo também o procedimento mais eficiente para o tratamento definitivo de boa parte das arritmias. A ablação é realizada através de cateterismo de veias profundas, com a cauterização dos focos das arritmias, utilizando cateter com radiofrequência (tipo de bisturi elétrico por meio de cateter), sem a necessidade de abertura do tórax, totalmente indolor e com alta médica rápida. Todos os procedimentos intervencionistas descritos acima já são realizados há algumas décadas no Brasil, nos principais centros clínicos, com elevado índice de cura das arritmias e baixo índice de complicações. Eles também têm sido realizados com altas taxas de eficácia por diversos colegas cardiologistas em nossa região.


 Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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