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10/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 10/07/2021 às 08h00min

A perigosa cultura de que homem não “chora”

TÚLIO MENDHES
Por que alguns homens evitam ir ao médico? Por que, para o homem, é tão “tensa” essa realidade de relacionar-se com sua saúde? Por que, para o homem, é algo demorado a ida ao médico? (Isso quando ele vai!).

Poderíamos pensar em várias respostas ou tentativas de respondê-las, mas vamos refletir alguns pontos que podem nos ajudar a chegar a um possível consenso.

Bom... uma das coisas que contribuem para que nossos colegas regidos por conceitos antiquados de masculinidade, vulgo machões, realmente não vão ao médico, são aquelas baboseiras absurdas que ouvimos desde moleques: “Homem não chora”; “Você é homem ou um saco de batatas?”; Você tem que ser durão, rapaz”... entre outras. Infelizmente, ainda é bem forte a cultura de gerações passadas que homens têm que ser criados pra ser durões. E o mais “incrível” é que as mulheres compactuam dessa premissa – mesmo que indiretamente. Quer um exemplo? Pois bem...

Imagine um garotinho de seis anos correndo na quadra da pracinha perto de casa. Todo serelepe, indo de um lado para o outro, puxando seu carrinho, de repente, ele tropeça e cai de frente. Na queda, ralou um dos joelhos e imediatamente a querida mamãe corre pra levantar sua cria, que chora sem parar. O que a mãe faz pra amenizar o sofrimento do garoto?

– “Calma filho... você é superforte, afinal, homem não chora, né? Foi só um raladinho, e você, como homem beeem forte, aguenta qualquer dor!”.

Nesse momento. você está pensando: “Nocinhora” do exagero, Túlio! A mãe só quis ensinar que ele é mais forte do que pensa. Só isso!

Mas muita calma nessa hora e muita hora nessa calma! Eu deixei bem claro que esse tipo de “lição” ensinada desde a infância também é cometido INDIRETAMENTE pelas mulheres, no exemplo acima. Hora nenhuma foi afirmado que é proposital esse tipo de comportamento. Uma vez que, nossos pais, tios, avôs, inclusive nossas avós, mães, tias, professoras... reforçam constantemente a lembrança desse tipo de pensamento.... Tornando, assim, mais que natural a absorção da ideia. Consequentemente, com o passar dos anos, inclusive na fase adulta, não é nada fácil reorientar esse drástico e perigoso ponto de vista, uma vez que fora fixada a convicção de: “Quanto mais dor aguentarmos, mais machos somos”. Ou seja, potencializa a prática de não buscar ajuda médica. Por conta disso, somos acometidos por enfermidades que geram sérias complicações, quando poderiam ser tratadas precocemente.

Mas quais os argumentos que sustentam essa ameaça à saúde do homem? Seria o medo de descobrir uma possível doença? Talvez, o preconceito plantado de que os exames são vexatórios? O constrangimento em responder as perguntas pessoais, inclusive sexuais feitas pelos médicos? A cisma de ficar nu diante de um desconhecido (outro homem)?

Assustadoramente, são muitas as desculpas para fugir da indispensável ajuda dos profissionais com jaleco branco! Infelizmente, eles só procuram ajuda quando a doença se encontra em um estágio avançado e requer um tratamento mais complexo, nem sempre efetivo. O que coloca em risco suas próprias vidas ao não tomar as devidas medidas preventivas.
Por exemplo, doenças crônicas, como diabetes, requerem tratamento por toda a vida, além de hábitos saudáveis para o controle da glicose no sangue - principalmente no que diz respeito à alimentação. Aliás, a falta do diagnóstico e dos devidos cuidados pode levar a complicações e, até mesmo, à morte. Daí a importância de ir ao médico com regularidade e cuidar da saúde.

Portanto, devemos nos apropriar de nossa masculinidade, perdermos o medo de nos libertar desses clichês que aniquilam nossa essência masculina. Precisamos assumir que nossa fortaleza não está no fato de sempre sermos fortes e poderosos, mas na capacidade de reconhecer nossas fraquezas e limites, buscando enfrentá-los. Temos de assumir que nossa dor pode ser diminuída quando assimilada com a nossa verdade. Precisamos integrar nosso eu interior quando nos colocarmos em relação com o outro, buscando ali novas respostas. O desconhecido só amedronta, porque eu o desconheço. Quando o reconheço, encontro nele novas oportunidades de superá-lo.

Por fim, a prevenção é a melhor maneira de evitar as doenças. Por isso, não importa a idade, nós, homens, devemos visitar o médico periodicamente, pelo menos uma vez ao ano – pra fazermos um checkup e qualquer exame solicitado. Porque, quando temos alguma enfermidade descoberta na fase inicial, temos maiores chance de recuperação, uma vez que, no início, as doenças são mais fáceis de tratar e curar. Precisamos entender o fato de que, cada vez mais, devemos procurar a ajuda de profissionais médicos e de saúde mental, e que isso é perfeitamente natural e não nos torna menos másculos ou mais fracos.
 

Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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