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05/06/2021 às 09h00min - Atualizada em 05/06/2021 às 09h00min

Acidente Vascular Cerebral

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Foto: PIXABAY
Estatísticas recentes mostram que no Brasil o Acidente Vascular Cerebral (AVC) (vulgo derrame cerebral) e o Infarto Agudo do Miocárdio são as patologias que mais causam óbito. Em suas diversas formas de apresentação, os AVC constituem uma emergência neurológica. A perda de tempo para a abordagem destes pacientes significa uma pior evolução. O AVC, portanto, deve ser conduzido prontamente, por uma equipe com vários especialistas coordenados por neurologista clínico e por um médico intensivista.

Chamamos de Acidente Vascular Cerebral a patologia relacionada ao comprometimento súbito da função cerebral causado por alterações patológicas que decorrem de obstruções ao fluxo em um ou em vários vasos sanguíneos intracranianos ou extracranianos. Aproximadamente 80% dos AVC são causados por um baixo fluxo sanguíneo cerebral (isquemia) e outros 20% por hemorragias (sangramento). Além de uma alta mortalidade associada ao AVC, existe um grande transtorno relacionado à alta morbidade relacionada à patologia. Um indivíduo que sofre um AVC pode apresentar sequelas definitivas como dificuldade para se locomover, para falar e compreender a fala e até para se vestir ou alimentar de maneira independente. Além, é claro, de todos problemas socioeconômicos gerados por estas limitações.

A extensão e o local do cérebro acometido pela isquemia cerebral é que vão determinar os sinais e sintomas que o paciente irá apresentar. A diminuição do fluxo sanguíneo pode ser causada pela obstrução de um vaso sanguíneo que nutre determinada região do cérebro ou pela compressão extrínsica e espasmo dos vasos - identificados nos casos de sangramento (AVC hemorrágicos).

O tratamento da fase aguda (primeiras horas e dias) do AVC inclui a instalação de cuidados gerais e o tratamento específico da causa básica do AVC. Assim, nos casos de AVC isquêmico (aquele causado pela interrupção do fluxo sanguíneo cerebral) pode ser tentado a desobstrução dos vasos ocluídos. Para isso, utilizam-se fármacos capazes de quebrar o trombo oclusivo. Existem também dispositivos mecânicos que podem ser utilizados em um ambiente adequadamente preparado para intervenções neurovasculares. Assim, atualmente, existem protocolos bem estabelecidos que permitiram, nos últimos anos, oferecer ao paciente uma chance muito maior de recuperação de um evento de AVC com o uso destes fármacos trombolíticos e dispositivos de extração do trombo intra-cerebral.

Nos casos de sangramento intra-cerebral, o rápido controle da pressão arterial é fundamental para se evitar a progressão e a recorrência do sangramento. A possibilidade de alívio da compressão do tecido cerebral causada pelo sangue extravasado no cérebro (com a cirurgia intra-craniana) deve sempre ser cogitada. A rápida identificação dos sintomas e transporte deste paciente até um hospital capaz de oferecer o tratamento ao paciente é fundamental e modifica substancialmente a mortalidade e a morbidade do paciente com AVC. O risco de morte e de sequelas definitivas relacionadas ao evento depende muito da rapidez com que o próprio paciente ou seus familiares identificam os sinais de AVC e encaminham o paciente a um hospital que possua uma estrutura adequada para realizar o tratamento.

Após o tratamento inicial, o paciente deve permanecer por, no mínimo, 24 horas em ambiente de Terapia Intensiva. Serão fundamentais, nas primeiras horas e dias pós AVC, a manutenção da permeabilidade das vias aéreas, a oxigenação adequada do paciente, o controle do nível de açúcar do sangue (glicemia) e de outros sais (sódio e potássio), o controle rigoroso da pressão arterial e da temperatura corporal. A prevenção de situações que podem dificultar a recuperação neurológica ou a geração de outras situações que podem piorar a situação do paciente também é fundamental nos primeiros dias pós AVC. Assim, é fundamental a atenção para a prevenção de: convulsões; atelectasias pulmonares, aspirações traqueais, pneumonias; trombose de membros inferiores e consequente embolia pulmonar; escaras; infecções urinárias e outras complicações que podem ocorrer nos dias que seguem o evento.  O suporte adequado de água e outros nutrientes também é mandatório, assim como a fisioterapia motora e respiratória precoces para aumentar a possibilidade de recuperação dos danos motores sofridos.

O uso de outras medicações como anti-agregantes plaquetários, anti-coagulantes, anti-hipertensivos, hipolipemiantes e vasodilatadores cerebrais também devem ser considerados. Eventualmente, poderá ser necessária a intubação orotraqueal, a hiperventilação mecânica, o uso de diuréticos osmóticos e o controle invasivo da pressão intra-cerebral através de cateteres instalados dentro dos ventrículos cerebrais na tentativa de maior proteção cerebral nos casos mais graves.

Por fim, destacamos que, apesar dos inúmeros avanços obtidos com a melhoria do tratamento relacionado ao AVC, a prevenção dos fatores de risco que aumentam a chance do evento ainda é a melhor forma de diminuir a mortalidade e a morbidade relacionadas ao evento. Assim, só obteremos uma melhora na mortalidade e uma diminuição do número de pacientes sequelados por esta patologia se a população, de um modo geral, passar a adotar as medidas preventivas direcionadas para os fatores de risco primários, em especial, o abandono do tabagismo, o controle dos níveis de pressão arterial, do colesterol, da glicemia, e o combate intensivo à obesidade e ao sedentarismo. A prevenção do AVC é uma meta que deve desafiar todos os envolvidos com cuidados de saúde e todos os pacientes e familiares de pacientes que estão sob um risco mais elevado. 


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