Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
10/04/2021 às 13h51min - Atualizada em 10/04/2021 às 13h51min

Resultado de uma receita indigesta sobre o novo coronavírus

TÚLIO MENDHES
Após um longo período de isolamento social, reclusos em nossos lares por razões obvias como a questão sanitária – para evitar o contágio e evolução do Covid-19 (novo coronavirus). Entretanto, está mais que evidente a necessidade do retorno às ruas, especificamente o retorno aos empregos, empresários reabrindo suas empresas, comerciantes vendendo seus produtos. Com a ressalva de um retorno responsável, isto é, respeitando as diretrizes para enfrentamento e tratamento da Covid-19.

A ambígua realidade diante desse cenário demanda de muita atenção, porque além da retomada e recuperação das rotinas, empregados e empregadores estão marcados por abatimentos psicológicos. Digo isto devido à crescente demanda de pessoas buscando atendimento psicológico e psiquiátrico. Infelizmente, o retorno às atividades não será um coisa tão fácil como se imagina. Antes de toda essa loucura, a depressão era o principal motivo na busca de ajuda profissional que lida com a saúde mental. Hoje, caminha lado a lado com a pandemia novo coronavírus – Covid-19, preocupando autoridades e especialistas na área de saúde mental. Como?

Basta acompanhar o passo a passo da receita. Os ingredientes são: aflições em excesso, um punhado de inseguranças, bastante medos fermentados, uma pitada na sobrecarga de atividades e alterações na rotina e muito isolamento social. Leve tudo ao forno e o resultado será um volumoso e recheado fardo de ansiedade e depressão. Essa receita nada agradável e difícil de engolir serve o suficiente para parte da população.

Os transtornos mentais, como depressão e ansiedade, estão impactando certeiramente as emoções e razões das pessoas ameaçando colapsar nosso sistema de saúde, agredindo, inclusive, a economia num futuro em curto prazo.

Algumas pessoas sentem-se tão inseguras em voltar a circular nas ruas e retomar o convívio social que sentimentos de angústia, receio e até crises de pânico estão tomando conta delas. Essas pessoas, especialmente os profissionais de saúde, têm maior probabilidade de ter episódios de plena exaustão, distanciamento social, ansiedade frente a pacientes febris, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, indecisão, prejuízo na performance da rotina do trabalho que é efetuado há tanto tempo. Outra característica da soma de tudo comentado tem gerado forte relutância ao trabalho ou até mesmo o desenvolvimento do que a psicologia chama de Síndrome de Esgotamento Emocional.

Na imensa lista de preocupações para o cotidiano de todos temos inseguranças quanto à nossa saúde e ao futuro, também temos tido dificuldade para nos adaptarmos à nova e incerta realidade. O medo de perder uma pessoa querida chega ao ponto de nos causar taquicardia. Nunca na história do Brasil vivemos tantos dolorosos lutos de uma vez. Houve casos de casais morrerem com poucos dias de diferença. Se pararmos pra refletir, enxergaremos milhares de crianças e adolescentes que até pouco tempo tinham pais saudáveis, tinham uma família estruturada, mas agora estão nas estatísticas que quantificam o número de órfãos. Quantas viúvas choram nesse momento? Quantas mães choram pelos filhos que perderam, inclusive, mães de filho único. Dói até escrever sobre tudo isso.

É sabido que tenho uma doença rara que causa um estrago danado se eu não seguir todas as recomendações dos meus médicos. Assim, faço parte do grupo de risco, e confesso que escrevi a coluna de hoje digerindo cada ingrediente da receita nada agradável e difícil de engolir, que citando novamente, infelizmente tem servido a parte da população.

Por fim, é difícil falar sobre, mas muitos aspectos psicológicos resultantes da pandemia baseados em evidências ainda estão em andamento devido à contemporaneidade do fenômeno, ainda sem previsão de término. Sendo assim, deve-se abrir mão do chulo preconceito quando o assunto trata sobre o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Devemos buscar ajuda, pois é a melhor solução quando os problemas se tornam indigestos demais. Esse momento transitório de pandemia tem sido uma oportunidade interessante para refletirmos sobre a vida e nossos relacionamentos.




Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90