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23/01/2021 às 08h30min - Atualizada em 23/01/2021 às 08h30min

Devo tomar a vacina da Covid-19?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
O número de novos casos diários de Covid-19 no Brasil vem aumentando muito nas últimas semanas. Infelizmente, em nossa região, o número de casos vem se aproximando daqueles obtidos entre junho e agosto de 2020. É certo que, atualmente, existem mais testes disponíveis do que há seis meses, por isso, a capacidade de diagnóstico é bem maior. Mas, mesmo assim, o aumento importante do número de internações e de óbitos relacionados à Covid-19 nas últimas semanas não deixa dúvidas de que a pandemia voltou a pressionar todo o sistema de saúde - tanto público quanto privado.  Estamos vivendo, neste momento, uma importante segunda onda da doença de disseminação também em nossa região!

Mas, apesar desta triste realidade, tivemos uma outra excelente notícia na última semana: a aprovação de duas vacinas contra a Covid-19 para uso emergencial no país – a Coronavac e a vacina de Oxford. A avaliação oficial do perfil de eficácia e segurança destas duas diferentes vacinas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi acompanhada com extrema expectativa no fim de semana passado. Entretanto, apesar de que a divulgação da aprovação de duas vacinas para uso emergencial no Brasil trouxe emoção, alegria e esperança para grande parte da comunidade médica e científica no Brasil, infelizmente, ela foi mal recebida por uma outra parte da população. Por incrível que pareça, uma parcela da população enxerga com descrédito o potencial benefício da vacina no combate à pandemia...

A Medicina moderna não é feita de achismos. Para que qualquer medicamento possa ser validado para aplicação em humanos no Brasil, ele precisa passar por uma profunda análise por um órgão fiscalizador. No caso do Brasil, a Anvisa é a instituição responsável por esta avaliação. A Anvisa é uma instituição muito respeitada e suas avaliações sempre foram muito sérias e muito técnicas. Para autorizar o uso de determinada vacina, medicação, prótese ou dispositivo implantável, é necessário enviar uma série de documentos que comprovem a realização de estudos científicas que determinem a real eficácia e segurança do medicamento ou dispositivo para a saúde humana.  

Não foi diferente com as vacinas contra a Covid-19. A agência precisou analisar, cuidadosamente, todos os estudos científicos realizados durante o desenvolvimento das vacinas, para avaliar se elas tinham o perfil mínimo de segurança e eficácia para serem utilizadas dentro do território brasileiro. Num próximo artigo, analisaremos, comparativamente, todas as vacinas já aprovadas para uso em humanos no mundo. Hoje, trataremos especificamente daquela que está já disponível em grande parte das cidades brasileiras e que já foi aplicada em milhares de brasileiros na última semana: a Coronavac.

A Coronavac é uma vacina que foi desenvolvida em um laboratório chinês muito bem conceituado e que já trabalha há anos desenvolvendo e fabricando outros tipos de vacinas: Sinovac. Trata-se de uma vacina de vírus vivo inativado, sendo, portanto, incapaz de se replicar no corpo humano ou de causar infecção ativa ou agressão viral ao organismo. Os estudos iniciais realizados tanto no Brasil quanto em outros países do mundo evidenciaram a capacidade da Coronavac em induzir a formação de anticorpos (glicoproteínas produzidas por linfócitos) que ajudam a destruir o coronavírus em caso de contágio do indivíduo. Além disso, esses estudos iniciais (fases 1 e 2) também ajudaram a estabelecer, dentre outras, a melhor dose da vacina, sua segurança e seus principais efeitos colaterais...

Após esta avaliação inicial, outros estudos (chamados de fase 3) foram realizados. Só no Brasil, mais de 9 mil voluntários participaram da pesquisa para avaliação da Coronavac. Neste estudo, foi evidenciado que os profissionais de saúde (maioria adultos) que tomaram a vacina tiveram uma redução significativa (pela metade) no risco de desenvolverem sintomas de gripe ao longo das semanas após a vacinação (quando comparados ao grupo que não tomou a vacina). A incidência de gripe foi de 1,8 no grupo vacinado versus 3,6% nos não vacinados. Mais importante que isso, ficou evidenciado uma importante redução (de 78%) na chance da população vacinada apresentar sintomas de Covid moderada ou grave ou de precisar internação hospitalar. Este é um resultado fantástico e que deve ser bastante celebrado! Poucas intervenções na Medicina têm tanta capacidade de alterar a evolução de uma doença quanto esta! Provavelmente, a vacinação de boa parte da população irá diminuir, em muito, o número de internações e de óbitos pela Covid ao longo dos próximos meses.

Além de toda a eficácia da Coronavac em reduzir o número de casos de Covid grave, este estudo com mais de 4,6 mil voluntários vacinados mostrou que, em comparação ao grupo não vacinado, não houve surgimento de efeitos colaterais graves e preocupantes relacionados à vacina. Apesar da presença de reações leves e comuns à maioria das vacinas (dor local, febre, dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza, mal-estar, náuseas e vômitos e alergia cutânea), não houve registro de reações graves atribuídas à vacina. Na próxima coluna, falaremos mais sobre a eficácia das vacinas contra o coronavírus. Enquanto isso, evite aglomerações, reuniões com mais de 10 pessoas, ou com quem você não convive habitualmente. Siga as medidas de higiene manual e respiratória exaustivamente discutidas por aqui e mantenha a esperança de um 2021 melhor! Se for chamado para receber a vacina, não vacile: tome a Coronavac! Eu já tive a oportunidade de tomar a minha primeira dose! E estou ansiosamente aguardando a segunda...


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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