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28/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 28/11/2020 às 08h00min

Suicídio e o “e se?”

TÚLIO MENDHES

Um tema difícil! Eu reconheço... Contudo, mais que necessária a discussão, pois o estigma e o preconceito ainda pesam muito quando o assunto é colocado em pauta. O tabu social sobre suicídio afasta o assunto de nossos pensamentos e conversas, atuando inclusive sobre os profissionais de saúde. Todo ano, cerca de 800 mil pessoas ao redor do mundo cometem suicídio, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa é a segunda maior causa de morte na faixa dos 15 aos 29 anos. Apesar do tamanho do problema, há pouco apoio para os familiares que convivem com esse vazio. Infelizmente é fato que não existe fórmula mágica capaz de curar a perda de um ente querido, ainda mais quando a causa da morte é o autoextermínio.

Quando chega a notícia de que “fulano” cometeu suicídio! A nossa primeira reação é o espanto seguido das indagações e expressões: “Como assim?” | “Por quê?” | “Nossa, mas ele estava tão bem!” | “Caramba! Eu o vi ontem mesmo, não parecia estar com nenhum problema!” etc. Expressões que se pudéssemos, escolheríamos deixar no privado. Entretanto, cada frase como estas vêm como minas explodindo debaixo de nossos pés, detonando nossa dor íntima, deflagrando-a e esbravejando para o domínio público. Afinal, não morreu conosco. “Se jogou do oitavo andar!” | “Enforcou-se no rancho da família!” | “Jogou o carro na contramão!” | “Teve polícia?” | “Apareceu na TV?” | Como estava o corpo? etc.

O suicídio é um fenômeno preocupante, multifacetado e de múltiplas deliberações, que pode afetar a sociedade independente de origens, classes sociais, idades, religião, orientação sexual ou identidade de gênero. Contudo, o suicídio pode ser prevenido! Para isso, precisamos reconhecer os sinais de alerta em nós mesmos ou em alguém próximo, esse é o primeiro passo. Talvez o mais importante.

É sabido que a depressão é uma das principais causas que levam a pessoa tentar ou consumar o suicídio. Já falamos sobre depressão aqui na coluna, sabemos que ela pode ser desencadeada por diversos eventos, por exemplo, problemas conjugais, um relacionamento infeliz, briga com os pais, bullying, a perda de um ente querido, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, assédio moral no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado, conflitos familiares, doenças crônicas, dolorosas ou incapacitantes. Por isso, se você desconfiar de que alguém tem se comportado de modo que possa tentar contra a própria vida, assegure-se de que essa pessoa não tenha acesso a meios para provocar a própria morte, por exemplo, armas de fogo, veneno, objetos perfurocortantes, medicamentos, etc. Não há uma “receita” para detectar seguramente quando a pessoa está vivenciando uma crise suicida ou tenda em se autoexterminar.

Pensamentos e sentimentos de intuir contra a própria vida podem ser insuportáveis e muito difíceis e o que fazer para superar esses sentimentos.

Tragicamente, quando ocorre a consumação do suicídio... os parentes, amigos e médicos tendem se culpar, envergonhados e com remorso por não terem evitado. E é nessa hora que ficam os vários “e se?”. “E se eu tivesse falado mais sobe consequências do autoextermínio?”, “E se eu tivesse enfrentado as perguntas sem respostas?”, “E se eu tivesse encontrado explicações pra o que seria inexplicável?”, “O que eu poderia ter feito?”.

É necessário respondermos os “e se?” antes da autotragédia. Precisamos sim, falarmos das consequências da morte, devemos sim enfrentar todas as perguntas sem respostas, é nossa obrigação provar as explicações sem comprovações, é necessário que supramos as ausências de familiares e amigos, devemos de coração lidar com especulações sobre a vida daquele que se matou e o que poderíamos ter feito.

Enfim, para evitarmos essas consequências, devemos saber que o luto pós-suicídio exige mais respeito que arrependimento de não prevenir. É importante esquecermos que o luto transforma ou faz com que a pessoa evolua ou regrida. O mais importante nisso tudo é que após a perda do que amamos, não seremos mais os mesmos. Emociono-me quando escrevo, porque é muito difícil reconhecer o quanto as pessoas estão desamparadas diante de uma dor tão grande como o luto.
 
Pra hoje é isso. Até a próxima!

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a  opinião do Diário de Uberlândia.

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