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21/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 21/11/2020 às 08h00min

E a segunda onda da COVID? Vai chegar por aqui?!

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Estamos completando agora, ao final do mês de novembro, oito meses de epidemia do novo coronavírus no Brasil. Oficialmente, já temos mais de seis milhões de casos confirmados e mais de 168.000 óbitos no país. Apesar destes números alarmantes, vínhamos, desde o início de agosto, comemorando uma queda lenta e progressiva dos números da epidemia por aqui. 

Entretanto, no último mês, fomos surpreendidos negativamente com um aumento significativo do número de novos casos no mundo, em especial, na Europa e nos Estados Unidos. Nesta última semana, houve a quebra do recorde de óbitos por COVID num mesmo dia no mundo! Só na última terça-feira (18/11), foram registrados 11.099 óbitos pela doença, maior número registrado desde o início da pandemia, caracterizando uma segunda onda de disseminação da doença pelo mundo. Paralelamente, a situação também piorou no Brasil! 

Na última semana, fomos surpreendidos negativamente com a divulgação do aumento do número de novos casos, de internações e de óbitos por COVID em vários estados do país. Este aumento do número de novos casos soou um importantíssimo alerta em relação à possibilidade da chegada de uma nova onda de disseminação do vírus também na nossa região. Mas, e esta segunda onda da COVID? Vai chegar mesmo?  

Segundo pesquisadores do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto, que vêm acompanhando os números do novo coronavírus desde o início, o Brasil está vivendo sim, assim como os Estados Unidos e a Europa, uma nova onda de contágio pelo novo coronavírus. Esta conclusão é baseada na análise da taxa de reprodução (Rt) do coronavírus no país. Se o índice fica acima de 1, indica que a pandemia está se expandindo. Quando está abaixo, é um sinal que a pandemia está perdendo a intensidade. 

No Brasil, o Rt do coronavírus desta semana foi de 1,12. Isto significa que 100 pessoas com o vírus transmitiram a doença para 112 outras pessoas. Pior: o aumento de casos não foi um evento local. A Rt foi maior que 1 em 20 Estados da federação. A situação mais crítica é a do Paraná: Rt de 1,62, o que significa franca expansão da infecção! Em outras palavras, depois de três meses de contração, a pandemia voltou a crescer no país durante a última semana. 

Mas, afinal, a que se deve este aumento do número de casos? Provavelmente, a recente expansão do número de infectados se deva ao afrouxamento das medidas de distanciamento social e de higiene manual e respiratória. Sabemos que o distanciamento social e as medidas de higiene respiratória e manual são muito importantes para a prevenção da expansão da doença. Como nas últimas semanas ocorreram descuidos, especialmente em relação a aglomerações em ambientes fechados, era natural que os números voltassem a subir...
Apesar de toda a preocupação gerada com este aumento, esta nova onda de contaminação, provavelmente, não será muito importante! Diferente dos países europeus, que vivem uma segunda onda com grande número de infectados, o aumento do número de casos e de óbitos nesta segunda fase de disseminação no Brasil não deve muito significativo. 

Assim, o aumento do número de casos não deve ser tão impactante ao ponto de se tornar semelhante à primeira onda por aqui! Isto porque, diferente dos países europeus, muitos brasileiros já entraram em contato com o coronavírus nos últimos meses e estão protegidos de uma nova infecção. 

Acredita-se que o número real de expostos ao vírus seja, no mínimo, 6 vezes maior do que apontam as estatísticas oficiais. Portanto, pelo menos 20% dos brasileiros já devem ter sido expostos ao vírus. Assim, o número de indivíduos que estão sob risco de uma infecção agora é menor do que era no início do ano. 

Mas, se é assim, porque muitas cidades brasileiras (como São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro e outras) viveram situações críticas em alguns de seus hospitais públicos e privados esta semana? Isto aconteceu porque, diferente do primeiro semestre, quando os hospitais no Brasil estavam (em sua maioria) vazios aguardando uma eventual demanda exagerada provocada pela COVID, nestas últimas semanas, os novos casos de COVID tiveram que ser internados em hospitais que já haviam retornado à sua rotina habitual e já se encontravam sobrecarregados de pacientes portadores de inúmeros outros problemas de saúde. Assim, um aumento, mesmo discreto, no número de novos casos da doença causou problemas de superlotação em alguns hospitais. 

Apesar de todas estas preocupações levantadas com a possível chegada de “uma nova onda” de disseminação, se aumentarmos os cuidados já conhecidos, este aumento do número de casos pode ser discreto em nossa região. Se cada um fizer a sua parte, poderemos evitar novas necessidades de fechamento de comércios, restaurantes e outros locais de aglomeração. 

Além da conscientização da população em relação à retomada das medidas protetivas individuais, é preciso que os Comitês de Enfrentamento da COVID na região estejam atentos para a retomada de medidas para evitarmos um aumento expressivo do número de casos e a falta de leitos hospitalares para um atendimento adequado aos pacientes. 

A nossa cidade e região já têm uma experiência positiva acumulada sobre como lidar com a pandemia e com o vírus... A testagem em massa e o rastreamento das pessoas infectadas e daquelas que entraram em contato com os infectados também poderia ajudar a estabelecer estratégias para evitarmos uma segunda onda impactante... Se cada um fizer a sua parte, a segunda onda não vai nos afogar!   


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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