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11/10/2020 às 08h00min - Atualizada em 11/10/2020 às 08h00min

Verdades e Fakes sobre a Covid-19!

JOÃO LUCAS O'CONNELL

O ritmo de disseminação pelo novo coronavírus começou a diminuir! Dados oficiais mostram que o pico da curva de disseminação no Brasil aconteceu entre o final de julho e início de agosto e, desde então, o número diário de novos casos e de óbitos vem diminuindo progressivamente. Apesar disso, novos casos continuarão aparecendo por, pelo menos, mais alguns meses.

Já são mais de 5 milhões de brasileiros que testaram positivo até aqui e a Covid-19, e suas complicações já causaram mais de 150.000 óbitos. Como vínhamos discutindo por aqui, a pandemia trouxe inúmeras controvérsias entre políticos, gestores, cientistas e agentes de saúde. No último artigo, discutimos um pouco sobre a polêmica envolvendo a origem do vírus e a eficácia do isolamento social. Hoje, vamos falar um pouco sobre o que é mais provavelmente verdadeiro sobre os métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento da Covid-19. Digo mais provavelmente porque, infelizmente, ainda há muito conhecimento científico que precisa ser construído para entendermos melhor todos os aspectos relacionados ao SARS-COV2.

Para ser breve e didático, a maioria dos cientistas concordam que para o diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus, a clínica do paciente é soberana. Isto é, em cenário de pandemia, todo indivíduo que apresentar sintomas gripais deve ser encarado como possível portador do vírus e deve ser isolado por, pelo menos, 10 dias. Especialmente se o indivíduo teve contato com um caso confirmado. A confirmação do diagnóstico deve ser feita, preferencialmente, com a pesquisa direta do material genético do vírus através da coleta do material do nariz ou da orofaringe do 4º ao 7º dia de sintomas e através da análise da produção de anticorpos contra o coronavírus (sorologia) a partir do 7º dia. Atendimento hospitalar e realização de outros exames de sangue e de imagem (radiografia, tomografia) devem ser reservados para aqueles pacientes que apresentarem piora importante dos sintomas (especialmente da tosse, falta de ar ou febre) a partir do 5º dia, ou para aqueles com evidências de baixa oxigenação sanguínea.

Em relação a prevenção, parece certo que a resposta adequada ou inadequada do organismo contra o vírus depende mais de fatores genéticos e comorbidades prévias individuais do que de qualquer outro fator. Assim, alguns pacientes apresentam uma resposta imunológica exagerada e diferente contra o vírus e tendem a evoluir com maior gravidade. Outras comorbidades como idade avançada, obesidade, cardiopatia, doença arterial, diabetes, hipertensão arterial, neoplasias, problemas crônicos de pulmão, rim e fígado também aumentam o risco de má evolução. E, quanto mais fatores destes o indivíduo tiver, pior! Apesar disso, medidas preventivas como boa alimentação e hidratação, sono adequado, controle de estresse, prática regular de exercícios físicos, tomar sol comprovadamente aumentam a imunidade e devem ser estimuladas. Um nível sanguíneo adequado de vitamina D, vitamina C e, possivelmente, de zinco também parecem exercer um efeito positivo na resposta contra infecções em geral. A vacina contra o coronavírus é a maior esperança de prevenção e deve, realmente, estar disponível até 2021!

Já em relação ao tratamento, muito se especulou ao longo dos últimos meses. Por enquanto, existem poucas verdades já estabelecidas. Algumas medicações e cuidados intra-hospitalares se mostraram muito eficazes e salvaram muitas vidas! Assim, um suporte de UTI adequado, com médicos experientes, bons equipamentos, hidratação endovenosa, oxigênio, suporte ventilatório e antibióticos adequados; medicações para controle da pressão e glicemia; uso de corticoides em pacientes que necessitam de oxigênio... Todas estas medidas já se mostraram muito eficazes e salvaram muitas vidas!

O que ainda permanece bastante duvidoso é a eficácia de outros tratamentos que prometiam muito no início da pandemia. Entretanto, para a maioria dos tratamentos promissores, ainda aguardamos estudos científicos que possam comprovar seu real benefício. Tratamentos provavelmente benéficos (em ordem de esperança): anticorpos monoclonais, transfusão de plasma convalescente, inibidores de interleucinas (todos utilizados apenas para pacientes graves, já internados ou para presidentes de países desenvolvidos). Tratamento anti-viral pouco benéfico (para casos leves e graves): remdesivir. Tratamentos definitivamente ineficazes (tanto para prevenção da doença ou para uso em casos graves): cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina.

Tratamentos que vêm sendo utilizados em fase precoce e para casos leves, mas que ainda carecem de evidência científica sobre sua real eficácia ou benefício: ivermectina, zinco, vitamina D, vitamina C, famotidina, bromexina. Muito provavelmente ineficazes em uso precoce e casos leves: hidroxicloroquina e azitromicina. Assim, apesar do grande debate entre cientistas e políticos sobre a eficácia de algumas medicações para o tratamento da Covid-19, existe pouca evidência para aplicação de muitas delas.

Por fim, vale lembrar que, como a doença tem um curso benigno em 99% (ou mais) das pessoas com menos de 50 anos e sem comorbidades, fica difícil comprovar que qualquer tratamento precoce seja realmente eficaz (uma vez que a grande maioria dos paciente infectados sobrevive e não precisa nem ficar internado). Talvez, algumas destas medicações possam, no futuro, mostrar real eficácia pelo menos em alguns subgrupos de pacientes de maior risco, como idosos e cardiopatas. Por enquanto, dizer que são milagrosas, é FAKE NEWS.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 

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