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27/09/2020 às 08h05min - Atualizada em 27/09/2020 às 08h05min

COVID-19: Uma epidemia de falsas notícias

JOÃO LUCAS O'CONNELL

A análise dos gráficos de disseminação do novo coronavírus evidencia que a sua velocidade do contágio vem caindo desde agosto no país. Nas últimas duas semanas, a queda ficou ainda mais evidente. O ritmo de transmissão caiu e em praticamente todos os estados! Isto significa que o pico em platô da curva de disseminação da doença ficou para trás. Os dados do boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde de MG mostram que o pico de disseminação da doença no estado foi nos meses de junho e julho! No entanto, vale lembrar que assim como aconteceu em agosto e setembro, novos casos continuarão ocorrendo por, pelo menos, mais alguns meses. E, muito provavelmente, a transmissão só será bem minimizada a partir da vacinação de uma boa parte da população, o que deverá ocorrer somente em meados de 2021. 

Desde o início da pandemia, inúmeras dúvidas foram levantadas em relação a inúmeros aspectos relacionados à Covid-19. Tudo virou motivo de polêmica e de opiniões divididas, muitas “fake news” surgiram. Muita coisa, até hoje, ainda é dúvida! Mas, existem vários aspectos da doença que são consenso entre os maiores estudiosos e pesquisadores nacionais e internacionais. Foram tantas polêmicas que fica impossível abordar todas elas neste espaço. Assim, falarei um pouco sobre a polêmica relacionada à origem do vírus e à eficácia das medidas de isolamento social na coluna de hoje e comentarei a respeito das polêmicas envolvendo o diagnóstico e o tratamento da doença no nosso próximo bate-papo. 

Polêmica 1: O vírus veio da natureza ou foi criado em laboratório? A maioria dos pesquisadores acredita que o SARS-COV2 seja um vírus que já habitava o organismo de morcegos chineses há algum tempo e que tenha passado do morcego para o homem através da ingestão da carne destes animais. Este tipo de transmissão geralmente acontece por um fenômeno conhecido como “spillover” (termo inglês que significaria transbordamento). Isto acontece por uma série de fatores: a destruição de habitats naturais, mudanças climáticas levando a migração de animais para áreas urbanas, aumento do consumo de animais silvestres e manuseio de carne sem adequados protocolos de higiene são alguns dos fatores principais. Este fenômeno também já foi responsável por algumas outras epidemias. A fórmula é simples: quanto mais nos aproximamos de áreas ambientais preservadas e inexploradas, quanto mais entramos em contato próximos com animais silvestres, mais entraremos em contato com patógenos ainda desconhecidos, para os quais não temos defesas formadas. Este tipo de transmissão animal-homem já aconteceu com outras epidemias (EBOLA, HIV, febre amarela). E vai continuar acontecendo no futuro! A tese de que o SARS-COV2 foi um vírus criado em um laboratório chinês pode até ser verdade. Mas, aparentemente, ele passou para o homem através da carne do morcego. E não de maneira proposital, através da contaminação do homem dentro de um laboratório, como muitos defendem!

Polêmica 2: Isolamento social: O isolamento social verdadeiro nunca ocorreu no Brasil. Mas, o distanciamento social ocorrido no segundo trimestre do ano foi, sem dúvida, uma medida fundamental para diminuir o número de casos, o número de óbitos e, principalmente, para permitir que a curva de disseminação da doença fosse achatada. Isto evitou uma situação mais caótica nos serviços públicos e privados de saúde na maioria dos estados do país. Também permitiu que a maioria dos pacientes que precisaram de hospitalização, pudessem ser atendidas. Assim, na maioria dos estados brasileiros, os pacientes puderam receber um tratamento minimamente digno, permitindo, inclusive, uma boa taxa de recuperação dos pacientes internados (melhores até do que o da maioria dos países do mundo). Não podemos aceitar a ideia que o isolamento social não deveria ter sido feito.

Aliás, a monumental confusão criada em relação ao isolamento social, com inúmeras autoridades oficiais defendendo o isolamento e outras autoridades ignorando-as por completo, acabou criando um paradoxo extremamente interessante no Brasil. Explico: o isolamento social no segundo trimestre foi o principal responsável por achatar a curva de disseminação da doença. Entretanto, a falta de eficiência das medidas de isolamento nos últimos meses (girando entre 30 e 50%) fez com que a epidemia no Brasil durasse muito mais tempo do que observado em outros países. Assim, muito mais gente foi contaminada e tivemos muito mais óbitos do que o esperado. Mas, o paradoxo é que, apesar dos pontos negativos de um isolamento social ineficaz já apontados, há, pelo menos, um aspecto positivo: a primeira onda de contaminação acabou atingindo uma parte significativa da população brasileira. Acredita-se que cerca de 20% da população brasileira já possa ter tido contato com o vírus até aqui. Isto foi extremamente importante pois, além de ter permitido que a taxa de contaminação pessoa a pessoa caísse no último mês, também vai tornar mais difícil a ocorrência de uma segunda onda de disseminação do novo coronavírus, como tem acontecido em vários países da Europa nas últimas semanas.

No nosso próximo artigo, nos despediremos do tema Covid-19, falando um pouco mais sobre o que é considerado verdadeiro em relação a outras polêmicas criadas em torno do diagnóstico e do tratamento.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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