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26/09/2020 às 08h30min - Atualizada em 26/09/2020 às 08h30min

A quarta geração dos antidepressivos

TÚLIO MENDHES

O texto é que a depressão conquistou o desafortunado título de principal causa de incapacidade no mundo. Superando as doenças cardiovasculares.

 

O contexto eu fundamentei na assertiva de que um em cada três pacientes com depressão não responde aos remédios tradicionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão atinge aproximadamente 4% da população do planeta, ou seja, sensivelmente 350 milhões de cidadãos. Ha uma década, entre 2005 e 2015, o número de pessoas com o transtorno subiu 18,4% no mundo todo. A maior taxa do continente americano está na América latina com os brasileiros, tendo 5,8% de pessoas sofrendo com a doença.

 

Um fato é que a depressão é uma doença crônica entre os jovens, já que 80% dos casos têm início antes dos 30 anos. Os antidepressivos podem ter um papel valioso em auxiliar no alívio dos sintomas, permitindo que essas pessoas retomem a vida relativamente normal. No entanto, para aqueles que apresentam uma forma conhecida como depressões resistentes ao tratamento, às medicações padrão proporcionam pouquíssimo ou nenhum alívio. Embora existam vários medicamentos para tratar a doença e tratamentos como terapias eficazes, infelizmente também oferecem pouco resultado, cerda de 10% a 30%. Pessoas com depressão quase sempre apresentam outras diagnoses como ansiedade, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer - acredite. Todos esses fatores contribuem para uma impressionante redução de dez anos na expectativa de vida.

 

Aproximadamente 55 antidepressivos distintos, mesmo com a facilidade de se encontrar, apenas um em cada três pacientes reagem bem após o tratamento, essa situação apesar de ser óbvia é caracterizada como depressão resistente ao tratamento. A depressão resistente está associada a prejuízos ainda maiores. Pacientes nessa condição apresentam maior grau de incapacitação, têm um risco de internação três vezes maior e, quando internados, apresentam hospitalizações mais longas.

 

Os 55 princípios ativos citados anteriormente apresentam o mesmo mecanismo de ação, por exemplo, o aumento de neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, cetamina todos pertencentes ao grupo das chamadas monoaminas. 

 

A partir da identificação de moléculas que tratam satisfatoriamente os quadros de depressão resistente, apresentam melhora dos sintomas quase que imediatamente, o que tem é descrito no meio científico como os avanços terapêuticos nos últimos 50 anos.

 

Ao contrário dos antidepressivos tradicionais, a cetamina atua em outro neurotransmissor (o glutamato) e tem se mostrado bastante eficaz no tratamento de quadros resistentes de depressão. A demonstração de sua eficácia e segurança em diversos estudos garantiu sua aprovação nos Estados Unidos e na Europa no ano passado. Baseando-se nos resultados, o Brasil tem usado off label no Brasil em diversas clínicas em sua apresentação injetável. Neste momento, a Agência Nacional de Agência Sanitária (Anvisa) analisa dossiês científicos para aprovação final em bula de sua indicação para o tratamento de quadros de depressão resistente. 

 

Esse medicamento será um avanço enorme. Por que não dizer ser a quarta revolução no tratamento da depressão? A primeira foi a eletroconvulsoterapia (ECT), nos anos 1930. A segunda, os antidepressivos tricíclicos, nos anos 1950. Por fim a terceira, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Fechando assim a cetamina. E isso representa um novo alento para cerca de 10 milhões de pessoas que não se beneficiam dos tratamentos atualmente aprovados no Brasil.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 

 
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