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13/09/2020 às 09h00min - Atualizada em 13/09/2020 às 09h00min

COVID-19: Se os números no Brasil estão caindo, por que regredimos para a onda vermelha?

JOÃO LUCAS O'CONNELL

Os números da pandemia no país continuam aumentando. Mas, a velocidade do contágio finalmente começou a cair. Isto significa que o pico em platô da curva de disseminação da doença já está em seu descenso. Já passamos o pico de disseminação da doença! Mas, apesar disso, a nossa cidade (e toda a macrorregião do Triângulo Norte) foi penalizada com um retrocesso em relação às medidas protetivas de isolamento! Entramos novamente na chamada “onda vermelha”. Isto significa que o Comitê Estadual Covid-19, que estabelece as normas de abertura e fechamento dos serviços que podem funcionar durante a pandemia, decidiu que apenas aqueles considerados essenciais para a população poderão funcionar. Mas, se já atravessamos o chamado “pico da curva” no país, por que este retrocesso?

Acontece que, infelizmente, apesar da queda de transmissão da Covid-19 em várias regiões e estados do país (inclusive em Minas Gerais), em nossa região, o pico de disseminação ainda não caiu. Ainda temos tido a transmissão de muitos casos e muitos óbitos vêm ocorrendo em casa e, principalmente, nos hospitais da cidade. Mas, se o número de novos casos está estável (a curva permanece em platô), de novo: por que retroceder? Por que só não manter as medidas de contenção mantendo a chamada “onda amarela”?

Desde o início da pandemia, sempre houve muita discussão em relação a como proceder em relação às medidas de isolamento. Muitos argumentam que, se a velocidade de disseminação da doença só vai cair depois que atingirmos a chamada “imunidade coletiva”,  seria importante colocarmos logo toda a população em possibilidade de contato com o vírus para tentarmos chegar mais rápido nesta potencial proteção coletiva... Já que muitos de nós teremos que entrar em contato com o vírus mesmo, que isto seja feito o mais rápido possível! Desta forma, venceríamos a pandemia mais cedo! Este argumento foi defendido por diversos políticos e esta foi a orientação oficial inicial de enfrentamento de alguns países, como Inglaterra e Suécia.

Entretanto, alguns problemas gravíssimos nesta estratégia de enfrentamento: nesta estratégia, mais gente adoece e morre do que numa abordagem mais protetiva! Além disso, o número de casos simultaneamente infectados seria muito maior, levando a sobrecarga importante nos hospitais públicos e privados. Desta forma, a maioria dos países optou por tentar enfrentar a doença estabelecendo políticas oficiais de contenção, propondo medidas de isolamento mais efetivas da população para evitar a disseminação rápida da doença. Alguns países conseguiram elaborar uma tática tão eficaz de isolamento, que o número de casos e de óbitos foi surpreendentemente baixo! O exemplo mais claro da efetividade das medidas de isolamento para o enfrentamento da pandemia é o da China. O país mais populoso do mundo, com mais de um bilhão de habitantes, onde a pandemia começou, teve pouco mais de 85.000 casos (no Brasil, já foram mais de 4 milhões). Tiveram 4.634 óbitos (no Brasil, já são mais de 130.000). Assim, podemos até discutir se as medidas de isolamento devem ser ou não intensificadas ao analisar o risco x benefício da agressão que essas medidas trazem à economia e as suas consequências. Mas, não podemos questionar a eficácia das medidas de isolamento social em diminuir o número de doentes e de óbitos.

O fato é que, neste momento, ainda enfrentando o pico em platô de disseminação do vírus em nossa região, enfrentamos um sobrecarga do sistema público de saúde. A taxa de ocupação dos hospitais públicos, especialmente das UTIs, é maior que 90%. Além disso, a maioria dos serviços de saúde responsáveis por enfrentar a pandemia estão desfalcados. Muitos profissionais estão doentes ou afastados do trabalho.

Por tudo isso, enfrentamos nas últimas semanas um agravamento da situação da Covid-19 na nossa região que, infelizmente, justifica uma necessidade de retrocesso das medidas protetivas para que possamos cuidar dos doentes e salvar mais destas vidas que necessitam de tratamento hospitalar. Entretanto, as medidas mais restritivas não irão funcionar, se a população também não fizer a sua parte! Infelizmente, por mais desgastante que isto seja, é novamente necessário reforçarmos nossos cuidados de isolamento e intensificarmos as medidas de higiene manual e respiratória. Se já melhorou em várias regiões e estados do país, vai melhorar daqui pouco tempo por aqui também!

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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