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18/07/2020 às 14h31min - Atualizada em 18/07/2020 às 14h31min

Agora que chegamos ao pico da curva da COVID-19, o que mais esperar dela?

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
Já se passaram mais de 6 meses desde que a infecção pelo novo coronavírus surgiu na China e começou a se espalhar por outros países do mundo. A pandemia chegou ao Brasil no final de Fevereiro e já contaminou mais de 2 milhões de pessoas por aqui nos últimos 5 meses, levando mais de 77.000 brasileiros ao óbito. Apesar destes números já serem suficientes para nos causar tristeza e indignação, eles ainda estão, infelizmente, bastante subestimados. Levantamentos epidemiológicos conduzidos por pesquisadores da Universidade de Pelotas mostram que, o número real de infectados seja, pelo menos, 6 vezes maior do que os oficialmente confirmados. Assim, muito provavelmente, mais de 10 milhões de brasileiros já foram contaminadas pelo novo coronavírus. Ainda, como muitos dos pacientes que morreram por síndromes respiratórias agudas nos últimos meses não fizeram o exame para a detecção do SARS-COV2, o número real de óbitos deve ser maior que 100.000!

A análise dos gráficos do número diário de novos casos confirmados (e de óbitos) sugere que estejamos atravessando o pico da curva de contaminação da doença no país. Entretanto, o chamado “pico da curva” por aqui foi muito diferente do pico observado na grande maioria dos países do mundo (incluindo a China e os países europeus inicialmente acometidos pela pandemia). O isolamento social de parte da população (com o fechamento das escolas, universidades, comércio, bares, restaurantes, clubes, academias, praças públicas) fez com que a curva de disseminação da doença fosse, sim, bastante achatada (em relação ao que aconteceu em lugares que não fizeram nenhum tipo de distanciamento). Assim, estamos vivendo um pico em platô da curva de disseminação, que já dura várias semanas... O pico em platô significa que número de novos casos da doença foi distribuído ao longo de alguns meses, permitindo que, na maioria das cidades do país, os sistemas público e privado de saúde tivessem condições de atender todos os pacientes que evoluíram com gravidade e necessitaram de internação hospitalar.

Se, por um lado, a curva alongada e o pico em platô atenuaram a pressão sobre os sistemas público e privado de saúde, por outro, fez com que a epidemia tivesse uma duração muito mais longa por aqui do que a de outros países. Assim, muito provavelmente, apesar de que o número de casos diários deva começar a cair nas próximas duas semanas, teremos novos casos surgindo e nos preocupando por mais alguns meses no Brasil (por, no mínimo, mais 3 meses). Além disso, o número de casos e de óbitos foi muito mais elevado do que muitos, incluindo o governo federal, previam... Este número elevado de casos e de óbitos é explicado, entre outros, por nossas dimensões populacionais e continentais, pela confusão na política nacional de enfrentamento à pandemia, pelas dificuldades econômicas, sociais e culturais para a realização de um isolamento adequado e pela falta de um isolamento integrado.

Entretanto, apesar de saber que teremos que enfrentar a pandemia no país por mais alguns meses, temos alguns motivos para nos tranquilizar. Dados do boletim semanal emitido pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais indicam que, apesar dos 76.822 casos e dos 1.615 óbitos confirmados, nas últimas duas semanas, houve uma diminuição importante do número de internações por Síndromes Respiratórias Agudas nos Hospitais públicos do estado. Isto sugere que, pelo menos por aqui, o número de casos graves da doença esteja começando a cair. Em Uberlândia, nas últimas duas semanas, também houve uma queda no crescimento médio diário de casos confirmados, o que também indica uma chance boa de melhora progressiva dos números de novos casos e óbitos na cidade a partir de agora.

Um outro motivo para nos tranquilizarmos é que por aqui, do ponto de vista médico, a COVID-19 tem se comportado da maneira esperada: trazendo, na maioria das vezes, gravidade maior apenas aos pacientes pertencentes aos grupos de risco para pior evolução clínica. Segundo dos dados oficiais, a maioria das pessoas que se infectam pelo vírus tem menos de 50 anos e não tem comorbidades. Nesta população, a letalidade oficial da doença até aqui é de 0,36%. Isto significa que pelo menos 99,6% das pessoas com menos que 50 anos que se contamina sobrevive à doença (mesmo sem o uso de qualquer medicamento milagroso). Entretanto, a doença continua mais perigosa para pessoas com mais de 60 anos (letalidade oficial de 9,3%, provavelmente superestimada pela subnotificação) e para portadores de comorbidades como doenças do coração, pulmão, rim, fígado, câncer, obesidade, diabete, hipertensão e problemas de imunidade. Assim, continue se protegendo e protegendo aos que você mais ama. A melhor maneira de fazer isso não é tomando qualquer remédio milagroso, mas mantendo todos os cuidados que já discutimos anteriormente por aqui.
 



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