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27/06/2020 às 10h34min - Atualizada em 27/06/2020 às 10h34min

Lutando contra a síndrome do pânico e o novo coronavírus

TÚLIO MENDHES
Passou mais uma semana e, sim, novamente falarei com você sobre os impactos do coronavírus que, diga-se de passagem, impactou todo o mundo. Bom, meses atrás escrevi que tenho síndrome do pânico, TOC etc. Deixei claro que somente quem têm sabe o quão devastadora essa doença é. Mas enfim, como fica a relação entre o coronavírus e a síndrome do pânico?

Pois bem, nos últimos meses, temos vivido num mundo completamente novo e angustiado. Temos medo de sair de casa, de ficar doente, vir a morrer, perder o emprego, não conseguir pagar as contas etc. Pra somar a tudo isso, temos sentido o baque da solidão. A coisa está tão caótica que chegamos ao ponto de impedir ou sermos impedidos de nos relacionar com nossos amigos, filhos, sobrinhos, namorados, avós ou qualquer pessoa mais suscetível à contração do vírus. Ir à academia se exercitar, sair para trabalhar em serviços essenciais, fazer compras, tornou-se um grande risco. Por tudo isso, a preocupação com a saúde mental vive o auge das preocupações.

Desde que o mundo constitui e compreendeu o que é viver em sociedade, nossa história está marcada por inúmeras guerras territoriais e, diga-se de passagem, duas guerras mundiais. Já enfrentamos incontáveis crises e inclusive várias pandemias. E especificamente nessa pandemia da Covid-19, um fator não pode ser desconsiderado, o aumento na demanda de avaliações psiquiatras, sessões com psicoterapeutas, inclusive por meio de consultas via aplicativos. Esse estresse taciturno, todavia, altamente prejudicial à saúde humana contrastando com o grito da tempestuosa ansiedade tem acentuado os casos de depressão, síndrome do pânico e o pior de todos, casos de suicídios. Só pra se ter uma ideia, 5,8% da população brasileira sofre com depressão, em média 32 pessoas se suicidam diariamente. As pessoas estão apavoradas, sobretudo as pessoas como eu diagnosticadas com TOC, nós, que somos muitos (cerca de 18 milhões apenas no Brasil, de acordo com a OMS).

Para os que tomam medicação tratando essas diagnoses, é mais que recomendado não deixar de forma alguma tomar a medicação de acordo com a prescrição médica e, se for o caso, redobrar o acompanhamento com o terapeuta. Lembrando que muitos profissionais estão atendendo online, inclusive oferecendo tratamento gratuito. Tenho certeza de que ninguém vai recusar auxílio nessa fase que tem nos tirado o fôlego. Bom, relacionando o que eu disse acima sobre nosso histórico de guerras, crises e adjacentes, é fato que experiências catastróficas sempre deixam marcas, hoje a pior delas é a longa e NECESSÁRIA “temporada” de quarentena, resultando evoluções negativas na saúde mental das pessoas. Fora a vivência das normas de isolamento, fora o fato de precisar sair de casa é obrigatório redobrar o cuidado com a assepsia como usar álcool, máscaras, luvas etc. tem sido como vivermos no meio de mais uma guerra, invisível, mas uma guerra. Enfim, estamos aflitos com o medo de nos contagiar, com nossa vida social, vida financeira. Entretanto, NECESSITAMOS seguir todas as diretrizes de saúde pública zelando por nossa integridade física e saúde mental. A recomendação de muitos psiquiatras tem sido para que lutemos e não deixemos esse caos vir pra dentro de nós – literalmente, porque senão vamos nos desorganizar completamente.

Assim encerro cantando e o convidando a cantar comigo, a letra de “Tocando em frente”, composta por Almir Sater e Renato Teixeira: “Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte mais feliz, quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco sei ou nada sei, conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor para poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir. Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente (...) Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz (...) como um velho boiadeiro levando a boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou.



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