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13/06/2020 às 09h22min - Atualizada em 13/06/2020 às 09h22min

Confesso que julguei

IARA BERNARDES
No começo da quarentena, analisava as aulas online, buscava defeitos, entrava nas polêmicas dos grupos de WhatsApp, achava que a escola tinha demorado a começar, que os professores estavam despreparados, enfim, via exatamente nos outros, em que pé está a minha formação e capacidade de adaptação. A verdade é que me sentia amargurada por estar tão mal preparada quanto todos aqueles profissionais que tentavam, a todo custo dar boas aulas, mas ainda patinavam. No entanto, permanecia numa posição privilegiada de ainda não precisar me expor. Até que um dia a ficha caiu, aliás, foi enfiada goela abaixo pela Val, uma amiga psicóloga que me chamou à realidade com uma frase mais ou menos assim: “você parou para pensar que essas professoras estão se esforçando para fazer o melhor para suas filhas?” Eita! Essa doeu, como eu costumo brincar, foi uma chinelada na cara. Aquelas que precisamos tomar para parar de julgar e praticar a empatia.

A partir desse momento, passei a refletir sobre a necessidade de modificações nos modelos atuais da Educação estar cada vez mais latente. O desenvolvimento de atividades lúdicas e envolventes que despertam o interesse e estimulam a formação integral das crianças é motivo de preocupação e análise por professores e educadores. Novos paradigmas, voltados à integralidade de desenvolvimento humano, impõem à escola o mister de ensinar crianças e adolescentes não apenas o conteúdo programático do currículo, mas também habilidades na tomada de decisões diante dos desafios cotidianos, bem como à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN).

Diante do atual contexto social, a mudança do perfil educacional brasileiro passou a ser uma realidade inquestionável. Com a pandemia da Covid-19, problemas que antes eram tratados teoricamente ou vivenciados esporadicamente, agora fazem parte do cotidiano de professores, alunos e responsáveis, fazendo com que estes se sintam perdidos fora do modelo escolar presencial, com aulas adaptadas, prints de apostilas, atividades destinadas à realização em grupo, dinâmicas e aulas teóricas que têm se tornado um verdadeiro martírio para a comunidade escolar, deixando às claras a necessidade imediata de ferramentas capazes de transformar a educação formal na nossa sociedade.

Por incrível que pareça, a primeira Competência Geral da Educação Básica, normatizada na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é: “Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”. Logo, chamo a atenção para a necessidade do desenvolvimento dos conhecimentos de âmbito digital, preconizada no documento mais recente e abrangente da Educação Nacional.

Sendo assim, diante de tantas observações e vivências, mostra-se urgente a necessidade de uma força tarefa, principalmente da escola, que, teoricamente, deveria estar preparada para qualquer contexto educacional, visando transformar a Educação. Por isso, é necessário apresentar soluções personalizadas para o ambiente digital que se perpetuará pós Covid-19, haja vista a notória inadequação do modelo tradicional ao novo perfil social que foi trazido à luz pela pandemia.

Por isso, o investimento em novas ferramentas, treinamentos, formação de professores e equipe pedagógica em geral deve ser encarada como investimento prioritário por parte das instituições educacionais, visando capacitar seus colaboradores para a permanência na continuidade das transformações, reforçando valores como resiliência. Além disso, é importante que as famílias e cuidadores também estejam abertos às mudanças irreversíveis que a educação está passando para validar e valorizar, cada vez, mais o papel fundamental desse profissional que, por muitos anos, está sendo colocado de escanteio na sociedade e tem um papel fundamental na educação intelectual, moral, emocional e social de nossas crianças: o professor.



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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