Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
16/05/2020 às 07h36min - Atualizada em 16/05/2020 às 07h36min

Deixa a mãe ser mãe

IARA BERNARDES
Ela descobriu que está grávida, começaram os palpites, as sugestões, a sogra se disponibilizando a tirar férias quando a criança nascer, para poder cuidar da pequena, planos de parto, cuidados diversos, marido surtando, mãe ainda tentando se identificar no papel de avó e a grávida perdida no caminho, como se todos quisessem estar no lugar dela, no entanto, ela quem carrega no ventre aquela criança. Já avisei que as mãos serão direcionadas para a barriga dela e a confissão veio: já começou e não estou aguentando mais! Pior que ainda faltam 7 meses. Coitada dessa mulher.

Parece que a história se repete, pessoas diferentes e sempre a mesma coisa: a falta de protagonismo materno. Por mais que muitas mulheres tentem e queiram exercer de maneira integral a maternidade, à maneira dela, sentindo o prazer e o peso de dar os primeiros banhos, amamentar em livre demanda, trocar fraldas de madrugada, colocar para arrotar e todas as outras tarefas rotineiras de cuidar de um recém-nascido, suas escolhas normalmente são ceifadas, ela é colocada como inválida, inexperiente e incapaz, perdendo assim a oportunidade de fazer o que tem vontade.

Não estou dizendo que ter uma rede de apoio é desnecessário e que precisamos assumir todos os cuidados no puerpério. Importante é ter suporte físico e emocional e isso implica em ajudar quando a recém parida solicita, sem pressão, sem colocar ela no escanteio, invalidar a opinião e autonomia dela como mãe.

Esse movimento é muito latente nas relações geracionais, quando as avós, tias, mulheres que desempenham papel de matriarcado, em toda sua boa vontade de ajudar, passam por cima dessa mulher que está sofrendo uma transição hormonal, física e emocional, fazendo com que ela perca a grande chance de aprender a viver a maternidade e a se descobrir mãe.

Mas não se engane, essas intromissões não acontecem apenas nas situações de parto, o corpo de baile vira e mexe quer se enfiar na frente dos solistas, desautorizando-os, criticando suas condutas e caminho parental.

Aí você me fala que eles não fazem por mal, que querem ajudar. Sim, entendo a disponibilidade e não dispensamos ajuda desde que ela seja solicitada, não se torne invasiva e que não limite o papel dos pais na criação de seus filhos. Os integrantes da rede de apoio devem ter seus papéis definidos e o limite que podem interferir na educação das crianças precisam ser acordados e seguidos por todos, inclusive pelos pais. Logo, se a criança fica na responsabilidade dos avós parte do dia, por exemplo, eles serão os adultos responsáveis, ou seja, a criança deve obedecê-los, no entanto, se a regra geral é o menor não comer doces, ou tomar refrigerantes, esse tipo de alimento não deve ser oferecido, pois, foi uma escolha dos pais levarem esses hábitos para a vida de seu filho. As regras estabelecidas pelos pais são superlativas e não deve ser quebrada por ninguém, mesmo que esses não estejam no cuidado parental em determinado momento.

Pode parecer ingratidão, mas é objetividade, é saber que papéis bem definidos geram segurança e evitam transtornos nos relacionamentos. É o famoso evitar fadiga.

Então, rede de apoio, seja apoio, suporte, amor e disponibilidade, mas não se estresse se os pais quiserem viver integralmente seus papéis da maneira que eles escolherem. Sugira, converse, mostre seu ponto de vista sem esperar que tudo seja acatado, afinal, vocês já viveram isso, agora é a vez de cada um aprender ao seu modo. Pais, entendam que sua rede de apoio se construiu na base do amor, confiança e cuidado mútuos, ou seja, da mesma maneira que vocês confiam nessas pessoas para cuidar de seus filhos, muitas vezes deve confiar no que eles têm para ensinar e opinar, logo, por mais que sejam autoridades máximas na educação de suas crias, em certos momentos, é necessário repensar e  validar a experiência e observações de quem nos ama.
Portanto, é imprescindível que a teia de cuidadores esteja bem estruturada e aberta a diálogos e limites, buscando sempre o benefício da harmonia dentro do caos que pode ser educar nossos pequenos.



O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90