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09/05/2020 às 14h46min - Atualizada em 09/05/2020 às 14h46min

O novo coronavírus chegou aqui! E agora?!

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
Há cerca de 5 meses, começamos a ouvir rumores de uma pneumonia misteriosa que estava levando algumas dezenas de pessoas aos hospitais numa região da China que, apesar de populosa, poucos sabíamos que existia. Inicialmente, o vírus foi relacionado a uma mutação de um agente viral que já contaminava morcegos e outros mamíferos naquele país e que acabou contaminando uma dezena de pessoas que haveriam consumido uma sopa feita com carne de morcegos. Uma situação tão distante e estranha que nenhuma festa de virada de ano, em nenhum país mundo afora foi atrapalhada por qualquer sensação de insegurança ou temor. Quando a doença foi inicialmente descrita, nem mesmo as autoridades chinesas deram valor aos relatos iniciais sobre a potencial gravidade do problema. O próprio médico que descreveu os primeiros casos (e alertou o mundo sobre a possibilidade de que a ameaça pudesse extrapolar as fronteiras chinesas) morreu antes de vivenciar a ameaça global em forma de pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Mesmo após o vírus ter chegado à Europa, nos perguntávamos se esta ameaça chegaria ao Brasil. Muitos negligenciaram o problema: “É só uma gripe!”; O vírus não sobrevive no nosso clima!”; “O brasileiro está acostumado com coisa muito pior e nosso sistema imunológico está preparado”; “Não precisamos temer o vírus, pois já existe um tratamento que a ‘mídia terrorista’ não quer divulgar”; “O sol ou aquela vacina vai nos proteger. Apesar de todas as suposições de que estaríamos mais protegidos do vírus por características locais, a razoabilidade científica prevaleceu e, muito provavelmente, a contaminação não chegou com tanta força muito mais por todas as medidas de distanciamento tomadas do que por qualquer outro dos vários motivos sugeridos. Apesar do isolamento social mais efetivo ter durado apenas algumas semanas (por diversas razões culturais, financeiras e pressões políticas), ele foi suficiente para garantir uma situação tranquila da epidemia na nossa região até aqui.

Entretanto, com o afrouxamento das medidas de distanciamento em quase todas as cidades do país, era natural que a infecção atingisse também a nossa região. E ela acabou chegando. Nas próximas semanas, conviveremos com uma progressão do ritmo de contaminação e de óbitos pela doença também em Uberlândia e outras cidades do interior do país. E agora?! O que fazer?!

O mais importante agora é mantermos a calma! Termos empurrado o chamado “pico da curva de contaminação” até aqui foi muito importante. Apesar de não termos tido tempo para o surgimento de uma vacina ou de um tratamento específico muito efetivo, tivemos tempo para estudar o comportamento da doença em outras populações e os médicos puderam observar como a doença se comporta. Tivemos um pouco mais de tempo para nos preparar! Medidas de higiene manual e respiratória foram reconhecidas, divulgadas e implementadas; vagas em hospitais foram criadas; exames diagnósticos foram disponibilizados; respiradores foram comprados; tratamentos - supostamente benéficos - foram disponibilizados. Apesar de não termos um tratamento efetivo, conhecemos muito melhor nosso inimigo agora.

Acreditamos que a doença deva se comportar, nesta primeira onda de contaminação na região, de maneira similar ao resto do mundo e das cidades brasileiras que já viveram o seu pico inicial. Ela vai gerar contaminação de uma minoria da população, especialmente de indivíduos de 20-60 anos (grupo em que a doença costuma se comportar de maneira mais benigna, com letalidade inferior a 0,5%). Infelizmente, algumas centenas de pacientes necessitarão atendimento médico e algumas dezenas irão a óbito, a maioria pertencente aos chamados grupos de risco para pior evolução clínica.

Apesar disso, a epidemia não deverá causar grandes transtornos em serviços de saúde públicos e privados da região. Em especial, a cidade de Uberlândia foi bem preparada para o enfrentamento da tempestade. Mérito para as autoridades envolvidas diretamente com a preparação, especialmente Prefeitura, Secretaria Municipal de Saúde e Hospital de Clínicas.

Nós, também, precisamos continuar fazendo a nossa parte. Mais do que nunca, precisaremos intensificar nossa participação no combate à epidemia. Neste mês, é necessário termos ainda mais paciência, evitar sair de casa, usar máscaras sempre que precisar sair, higienizar frequentemente as mãos, nos isolarmos bem se sinais de gripe e procurar deixar nosso organismo preparado para enfrentar qualquer agressão. No nosso próximo artigo, em duas semanas, falaremos sobre a maneira mais racional e científica para sairmos do isolamento e avaliarmos a necessidade de retornarmos ao isolamento durante o inverno, se for necessário.



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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