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04/05/2020 às 08h23min - Atualizada em 04/05/2020 às 08h23min

“Quando você acha que vamos voltar?”

ANGELA SENA PRIULI
Hoje de manhã recebi essa mensagem de uma colaboradora, após ela me enviar um emoji tristinho e dizer “saudades”. Nesse momento, senti um mix de sentimentos: saudade da minha vida “normal” de trabalho, responsabilidade pelo meu time, pela minha família e por mim mesma; vontade de ficar em casa e mudar o esquema para sempre (pois ficar em casa também tem tido lado positivo); mas lá no fundo apenas uma certeza: não sei o tempo, mas temos a opção de continuar o isolamento físico necessário, então ainda não voltaremos.

Lockdown, quarentena, distanciamento social, isolamento físico (como a OMS tem defendido). O coronavírus trouxe novas palavras, novas regras e novas formas de vida. Nunca uma boa comunicação, usando linguagem simples, foi mais importante do que agora. Embora relembrar a Segunda Guerra Mundial pareça popular no momento, a grande maioria de nós está sob restrições totalmente desconhecidas para nós e está mudando tão rapidamente que é difícil acompanhar. Como nossos cientistas estão realizando proezas incríveis de produzir evidências sobre muitas coisas relacionadas ao coronavírus, há uma necessidade de comunicação eficaz para que todos entendamos o que é necessário de nós. Agora é a hora de falar com simplicidade para ajudar todos a entender informações vitais. Entendeu? Falo pra você que repassa informações para sua família diariamente.

Embora todos nós precisemos saber o que devemos fazer e também o porquê, garantir que as pessoas sigam as regras de quarentena pode precisar de mais do que apenas comunicação clara. Pesquisadores do Kings College London fizeram essa rápida revisão para ver quais evidências publicadas e revisadas por pares existem sobre o que influencia as pessoas a manter a quarentena - ou a desrespeitar as regras. Vamos dar uma olhada (junte aos seus argumentos na hora de explicar para a sua família):
 
O QUE É QUARENTENA?
 
Os pesquisadores explicam que quarentena é a separação e restrição do movimento de pessoas que foram potencialmente expostas a uma doença contagiosa, a fim de limitar a propagação da doença. Isso é diferente do isolamento, que se aplica às pessoas que foram realmente diagnosticadas com a doença, mas os cientistas apontam que os termos às vezes são usados ​​de forma intercambiável.

No momento, no Brasil, aparentemente estamos saindo gradualmente da quarentena (???) - mas até outro dia estávamos a maioria em casa, exceto em circunstâncias específicas que precisamos sair.
 
O QUE JÁ SABEMOS?
 
O ponto principal é que a quarentena só funciona para limitar a propagação da doença se as pessoas a mantiverem. Até que ponto a quarentena funciona é menos certa e ainda não sabemos quão eficaz ela é comparada com outras medidas, como distanciamento físico, fechamento de escolas e cancelamento de reuniões em massa. Mas se as autoridades de saúde pública decidirem que é necessário, é importante entender o que torna as pessoas mais propensas a fazê-lo. E se não decidirem, melhor optar por continuar em casa de verdade, considerando a atual situação.

De acordo com estudos de modelagem matemática, dez relacionados à COVID-19, é relatado consistentemente os benefícios da quarentena por reduzir o número de pessoas infectadas pelo vírus e que morrem por causa dele.
 
REGRAS
 
Os pesquisadores reuniram 14 estudos que pudessem ajudar a responder a essa pergunta. Tratava-se de estudos que envolviam pessoas que pediam para entrar em quarentena por pelo menos 24 horas em casa, e que examinavam as razões pelas quais as pessoas se mantinham em quarentena ou não.

Os principais fatores que influenciaram ou foram associados às decisões de adesão foram: o conhecimento das pessoas sobre o procedimento da doença e quarentena, normas sociais, benefícios percebidos da quarentena e risco percebido da doença, além de questões práticas como falta de suprimentos ou consequências financeiras de estar sem trabalho.
 
CONSCIENTIZAÇÃO
 
Para melhorar isso, as autoridades de saúde pública devem fornecer uma justificativa clara e oportuna para a quarentena e informações sobre protocolos; enfatizar normas sociais para incentivar esse comportamento altruísta; aumentar o benefício percebido que o envolvimento em quarentena terá na saúde pública; e garantir que suprimentos suficientes de alimentos, medicamentos e outros itens essenciais sejam fornecidos.

Sim, sei que parece lindo em um mundo ideal. Mas o fato é que, ainda que haja um conflito de interesses políticos, econômicos e sociais, muitos pais, mães, filhos, amigos, continuam sendo infectados e até mesmo mortos. Isso é uma justificativa clara e oportuna.

Na necessidade extrema em sair: use máscara, higienize as mãos, fique distante das pessoas, não cumprimente com as mãos, tenha cuidado na volta pra casa (retirar roupa e sapato, lavar mantimentos), aja com civilidade: isso tudo parece um protocolo mínimo e uma norma social adequada, certo?

Quanto aos benefícios, o que sabemos é que os vírus não viajam, mas as pessoas sim. Intuitivamente, esperamos que a imposição de barreiras físicas ao espaço funcione para erradicar a infecção. No entanto, a eficácia da quarentena durante um surto viral depende do tempo e da precisão do período de quarentena, bem como da capacidade de indivíduos e prestadores de cuidados de saúde de seguir os procedimentos de quarentena.

Então, diante da complexidade, de algumas certezas e outras tantas incertezas, minha resposta à pergunta de hoje cedo continua sendo: fiquemos em casa. Qual sua resposta?
 
FONTE:
https://www.evidentlycochrane.net/quarantine/
https://www.cebm.net/covid-19/is-a-14-day-quarantine-effective-against-the-spread-of-covid-19/
Webster et al. How to improve adherence with quarantine: rapid review of the evidence. Public Health. Volume 182, 2020, 163-169.
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Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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