Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
25/04/2020 às 08h00min - Atualizada em 25/04/2020 às 08h00min

Aos paparazzi de plantão

IARA BERNARDES

Um clique e pronto, seu rosto está nas redes sociais com uma descrição perfeita do quanto você é uma péssima mãe por manusear o celular enquanto seu filho está preso a um colete de passeio. Na descrição e comentários da foto falam que você trata seu filho como um animal por prendê-lo daquela maneira ao se distrair nas redes sociais. Porém, na maioria das vezes, o que há por trás da foto e do textão abaixo dela, nada mais é que uma pessoa que não tem muito o que fazer. Afinal, o fotógrafo amador gosta mesmo é de cuidar mais da vida do outro que da sua própria e se compromete com um contexto bem deturpado do que é sair com crianças.

Esse tipo de atitude que visa as críticas não é recente, pois há anos vemos pessoas comentarem sobre o quanto acham errado e estranho as crianças usarem coletes ou pulseiras com uma espécie de cordinha elástica enquanto passeiam nas ruas com seus pais ou responsáveis. No entanto, você sabia que, de acordo com Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 190 pessoas desaparecem todos os dias no país, sendo a grande maioria crianças? É claro que existem diversos motivos pelos desaparecimentos, mas um deles, sem dúvida, é a distração e a oportunidade que se abre a sequestradores nesses momentos. Então, antes de julgar uma mãe distraída, saiba que nem sempre sair com crianças é tão fácil quanto parece, estas querem usar, nos momentos mais inapropriados, toda sua autonomia e pseudo-independência por terem aprendido a andar, logo os incidentes acontecem ao atravessar a rua, nos corredores do supermercado, em frente a uma vitrine ou no caixa da loja de roupas e o risco de se perder um pequeno nesses momentos existe, afinal, as pessoas se distraem ao pegar a carteira no caixa da loja; numa compra ou ao acudir uma birra do outro filho que insiste em espernear em frente à loja de brinquedos.

Sempre fui a favor do uso dos coletes e pulseiras infantis, a criança sente a liberdade de andar sem precisar ficar segurando na mão do adulto o tempo todo, alguns passos à frente, brincando com os próprios pés enquanto seu responsável mantêm as mãos livres, ou ocupadas com as diversas tralhas que as crianças fazem a gente carregar. Não só apoio como uso nos meus projetinhos: amarro duas em uma mão, o outro na outra, carrego sacola e todo mundo ali, na garantia de ninguém se perder e, se cair, cai todo mundo junto, mas estamos unidos e fico super tranquila por saber que estão conectados à mamãe polvo.

Manter a segurança dos filhos nem sempre é fácil e julgar como os pais vão fazer isso é bem simples quando não se sabe a dinâmica familiar, ou não se conhece o temperamento daqueles pequenos seres que cismam em correr em direções opostas mesmo tendo sido avisados duzentas vezes antes de sair de casa, que é para ficar de perto da mamãe. Crianças são imprevisíveis, mesmo quando as orientamos e insistimos em medidas de segurança. Já falamos antes, podemos planejar tudo nos mínimos detalhes e ainda assim alguma coisa sair do controle. Por isso, compete aos responsáveis criar meios de garantir que se algo fugir do esperado, possamos retomar a ordem e seguir o fluxo, seja amarrando os meninos aos nosso corpo, colocando em carrinhos de múltiplos, conversando mil vez ou segurando os pulsos ao atravessar a rua.

Inadmissível é sacar o celular e sair tirando foto das pessoas na rua e publicar em redes sociais, pois além de crime, é uma falta de bom senso imensurável, principalmente quando os paparazzi de plantão têm filhos, dando o pior exemplo de conduta possível. Educação social e cidadania devem ser iniciada pelos pais, o respeito ao próximo, o cumprimento das leis precisa ser ensinado desde cedo no seio do lar e para que os pequenos aprendam realmente o que é certo, nada mais efetivo que o espelho de conduta parental.

Aproveite esse momento mais próximo aos seus pequenos para ensinar que o julgamento não pertence a nós, que o diferente nem sempre é pior, talvez seja só diferente e se for algo é ruim, que sirva de exemplo para que façamos diferente.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
















 

Tags »
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90