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06/03/2020 às 08h02min - Atualizada em 06/03/2020 às 08h02min

Há silêncios que estouram os tímpanos

JERÔNIMO JÚNIOR | PUBLICITÁRIO E PALESTRANTE

Hoje, romances acabam, amizades verdadeiras se distanciam, casamentos se desfazem, justamente porque o ser humano está perdendo a capacidade de se relacionar, dialogar, respeitar o espaço e opinião do outro. Preferem deduzir e simplesmente se afastar, julgando, sem ao menos se dar a oportunidade de entender o outro lado.

E o pior, é que quando escutamos, não escutamos com a intenção de entender, mas de responder. Com isso, a relação que era para ser de cumplicidade e entendimento, se transforma em um conflito de quem fala mais alto ou de quem tem a melhor capacidade de fantasiar e deturpar a informação. E o prêmio para o mais criativo é um pacote repleto de fantasmas, decepções e mágoas.

O mais triste disso tudo é que via de regra, o “ponto x” da questão é consenso para todas as partes envolvidas, no entanto, no calor da discussão, os indivíduos criam vias paralelas que seguem juntas, às vezes em velocidades distintas, mas para a mesma direção, porém, cada uma com o seu valor de pedágio que nenhum nem o outro estão dispostos a desembolsar para criar um trevo, unir as vias, ganhar força e transpor a barreira do consenso.

O mundo está ficando doente, e todos nós, de certa forma, estamos contaminados, uns mais, outros menos, e a cura depende diretamente da forma como lidamos com as interações humanas. Precisamos ter a sabedoria necessária para deixar a vida com um sabor mais leve e somente atingiremos esse nível quando aprendermos primeiramente a segurar a língua e quando tivermos a consciência de que, na maioria das vezes, o que endurece a jornada não é o que dizemos, mas sim o que deixamos de dizer.

E é sempre bom lembrar que as palavras só devem ser proferidas para construir, apoiar, elogiar, nunca para diminuir, humilhar, desencorajar. Se nada de bom temos para falar, aí sim melhor silenciar. E se engana quem acredita que esses conflitos de ideias, culturas, interesses, palavras, silêncios e sentimentos acontecem somente na vida pessoal. Essas barreiras são construídas dia a dia, tanto nos lares e relacionamentos afetivos quanto em ambientes corporativos.

A diferença é que estamos acostumados a criar personagens para atuar nesses ambientes onde julgamos não podermos ser nós mesmos, e trocamos esses personagens com a mesma facilidade, ou até melhor, do que trocamos de roupa. E, de personagem em personagem, vamos levando a vida, fazendo de cada ambiente que estamos inseridos um palco para apresentarmos mais uma cena de uma peça de gêneros variados, às vezes, comédia, romance, ação, drama, com o famoso jeitinho brasileiro do “empurrando com a barriga” ou como diria o poeta Zeca Pagodinho: deixando a vida nos levar.

Não que os personagens que criamos sejam prejudiciais, porque sem dúvida não são. Me arrisco a dizer que eles são fundamentais para conseguirmos nos relacionar e dar vazão ao turbilhão de emoções que somos submetidos ao longo da nossa trajetória. O ponto de atenção está na importância que damos a cada um desses personagens dentro de cada 24 horas da nossa existência.
Damos vida a personagens de uma história que nós mesmo escrevemos e, nessa trilogia, somos autor e protagonista ao mesmo tempo.

O problema é que, em diversas situações, que não são poucas, esquecemos que só o dono da casa sabe onde ficam as goteiras e oferecemos a caneta do nosso destino para outras pessoas, dando total autonomia para que estas pessoas possam escrever a história do nosso destino e com isso chancelamos autores que não tem a mínima noção das nossas dificuldades, angústias e trajetória de vida, a serem mais do que o autor da nossa história, e sim, diretores, espectadores e críticos ferrenhos de uma atuação que não temos o controle, pois nesse cenário renunciamos ao papel de autor e nos limitamos apenas a atuar em um filme de gênero perigoso, injusto e duvidoso.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.















 

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