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28/02/2020 às 08h00min - Atualizada em 28/02/2020 às 08h00min

Infelicidade, TV e pescaria

WILLIAM H STUTZ

Estudo recente realizado pela Universidade de Maryland, EUA, comprova que pessoas infelizes ficam mais tempo à frente da televisão. Quem sou eu para duvidar de pesquisas sérias e com base científica? Mas constatações dessa natureza me levam sempre a um devaneio.

Os tempos atuais, que daqui a pouco já serão versão beta, mudaram radicalmente nosso comportamento. Calma, sei, eu não disse nada de novo. Os perigos mudaram de endereço. Saíram dos quintais e das ruas pacatas de outrora, onde o maior risco era uma queda de muro ou de uma árvore, uma briguinha por causa de um jogo de bete ou pique bandeira, no meu caso, um tombo de carrinho de rolimã nas ladeiras ainda seguras de uma Belo Horizonte que, drumonianamente, virou retrato na parede e, estão agora vivendo lado a lado conosco em nossas casas. O mundo virtual transformou-se em campo minado, com grande poder de fogo, ameaça para nossos filhos, atraindo-os para armadilhas por vezes fatais. Paradoxalmente desenvolvemos diariamente mecanismos para patrulhar um mundo autorizado a entrar sem cerimônia em nossas alcovas.

Até o então inocente telefone virou arma de crime, e não estou me referindo às agressões cinematográficas com aqueles aparelhos pretos enormes não, falo de golpes variados praticados com o uso da invenção de Graham Bell. O isolamento familiar aumenta a olhos vistos. Raras as famílias que podem desfrutar de um almoço de domingo juntas. Não que todos não estejam em casa, mas um está no computador, outro, esse deve ser o mais infeliz, vendo televisão.

A prosa doméstica vem diminuindo. Se o filho quer falar com o pai, que mande um e-mail, ou um SMS. Viu as fotos de meu filho? Não? Estão no Instagram. O garoto está crescendo sô, tem tempo que não o vejo offline.

Até boletim escolar é virtual e pais só têm acesso se tiverem a senha. Se tiver nota vermelha fica uma semana sem computador ou sem ver televisão. Isso é que é castigo severo. Realmente as janelinhas de plasma, ficam mais tempo abertas do que as da casa, e o sol, a vida de verdade, presos do lado de fora. Também, quem liga?

Levantar da cama e correr para o quintal é coisa do passado na maioria das residências. Abrir as cortinas, deixar os sonhos ou pesadelos saírem e se dissiparem à luz do dia está cada vez mais difícil. Cá pra nós, tem coisa mais estranha do que levantar e ficar de pijama até a hora do almoço? E luz acesa de dia? Mas voltemos à televisão como indicador de infelicidade e por tabela da falta de prosa doméstica. Outro dia um amigo me contou história que demonstra que os tempos modernos estão contaminando até nós mineiros de alma simples e caipira. O caso: Dois compadres estão na barra do rio Tijuco pescando, bebendo uma cervejinha gelada e observando com atenção a boia, quando um deles diz:

- Tonho, vou me separar da minha mulher. Já faz três meses que ela não fala comigo.

O outro, após refletir por alguns momentos, lhe diz:
- Pensa bem Zé, hoje em dia é muito difícil achar uma mulher assim, com essas qualidades...

Quanta tristeza. Estes dois devem ver televisão demais da conta. Resta ainda uma dúvida a ser esclarecida pela tal pesquisa: se a felicidade leva as pessoas a ver menos TV, ou se o tempo em frente à TV leva à infelicidade.

Portanto, amigos, há esperança.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.











 

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