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02/02/2020 às 08h27min - Atualizada em 02/02/2020 às 08h27min

Coronavírus: mais que uma gripe

ÂNGELA SENA PRIULI
Os coronavírus humanos (HCoVs) foram há muito tempo considerados patógenos irrelevantes, causando o "resfriado comum" em pessoas saudáveis. No entanto, no século XXI, 2 HCoVs altamente patogênicos - coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) e coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) - emergiram de reservatórios animais para causar epidemias globais com alarmante morbidade e mortalidade. Em dezembro de 2019, outro HCOV patogênico, o novo coronavírus de 2019 (2019-nCoV), foi reconhecido em Wuhan, China, e tem causado doenças graves e morte. O efeito final desse surto não está claro no momento, pois a situação está evoluindo rapidamente.

Esses pequeninos são ecologicamente diversos, com a maior variedade observada em morcegos, sugerindo que eles são os reservatórios de muitos desses vírus, e esses mamíferos peridomésticos podem servir como hospedeiros intermediários, facilitando eventos de recombinação e mutação com expansão da diversidade genética. A transmissão de humano para humano foi documentada, principalmente em instituições de saúde. Vários eventos importantes de transmissão ocorreram na comunidade, como o bem caracterizado minissurto no Hotel Metropole em Hong Kong, de onde os clientes infectados viajaram e espalharam a SARS internacionalmente. Outro surto ocorreu no complexo habitacional Amoy Gardens, onde mais de 300 moradores foram infectados, fornecendo evidências de que a transmissão aérea de SARS-CoV às vezes pode ocorrer. Quase 20 anos depois, os fatores associados à transmissão de SARS-CoV, houve uma transmissão autolimitada de animal para humano a eventos com humanos supercontagiosos e esse mistério permanece pouco compreendido.

Os coronavírus representam 10% a 30% das infecções do trato respiratório superior em adultos. Os sintomas comuns da SARS incluem febre, tosse, dispneia e diarreia ocasionalmente aquosa. Dos pacientes infectados, 20% a 30% necessitam de ventilação mecânica e 10% morrem, com taxas de mortalidade mais altas em pacientes idosos e com comorbidades médicas. Em última análise, medidas clássicas de saúde pública encerraram a pandemia da SARS, mas não antes de 8.098 indivíduos serem infectados e 774 morrerem. A pandemia custou à economia global entre 30 e 100 bilhões de dólares americanos.

Outro CoV saltou de animais para humanos em 2012 para causar a síndrome respiratória no Oriente Médio (MERS). Ao contrário do SARS-CoV, que não causou casos humanos adicionais desde que foi eliminado vários meses após o surto inicial, o MERS-CoV continua a ser transmitido devido à transmissão esporádica dos camelos - o hospedeiro intermediário do vírus - para os humanos e também ocorre transmissão entre humanos.

O CoV mais recente a surgir é o coronavírus de 2019 (2019-nCoV), reconhecido pelas autoridades chinesas em Wuhan em 31 de dezembro de 2019. Ele se espalhou para além de Wuhan para outras cidades chinesas e para vários países. Embora a trajetória desse surto seja impossível de prever, a resposta eficaz requer uma ação imediata do ponto de vista das estratégias clássicas de saúde pública, para o desenvolvimento e implementação oportuna de contramedidas eficazes.

Os estudos atuais em institutos americanos de pesquisa incluem esforços que se baseiam em trabalhos anteriores sobre SARS e MERS-CoVs. Por exemplo, os pesquisadores estão desenvolvendo testes de diagnóstico para detectar rapidamente a infecção 2019-nCoV e explorando o uso de drogas antivirais de amplo espectro para tratar 2019-nCoVs. Os pesquisadores também estão adaptando as abordagens usadas com as vacinas SARS e MERS para investigar o desenvolvimento de vacinas candidatas para 2019-nCoV. Os avanços tecnológicos desde o surto de SARS adiantaram bastante o cronograma de desenvolvimento da vacina. Assim, os pesquisadores indicam que uma vacina candidata para 2019-nCoV pode estar pronta para testes em estágio inicial em humanos em menos de três meses, em comparação com 20 meses para o desenvolvimento inicial de uma vacina SARS em investigação.

Com quase 8.000 pessoas infectadas e mais de 170 mortos até a última sexta-feira (30), o 2019-nCoV veio para assustar a todos, alertar para ações básicas de higiene e contato e, mais uma vez, desafiar a ciência, que se responder a tempo como descrito irá trazer um alívio em forma de picadinha. Deixo aqui duas reflexões: o quanto a educação em saúde e hábitos influenciaria na contenção de pandemias como essas? Com a velocidade de uma pandemia em meio a multidões, será que devemos criticar a prevenção de doenças por meio das vacinas? 

Nossa parte nisso tudo? Vamos cuidar das nossas famílias, educar nossos filhos para terem uma boa higienização com as mãos e em locais públicos, e por fim, usar com orientação médica as ferramentas que a ciência nos traz para nos prevenirmos, como é o caso das vacinas, hábitos e alguns medicamentos.

Fonte: 
Catharine I. Paules, Hilary D. Marston, Anthony S. Fauci. Coronavirus Infections—More Than Just the Common Cold. JAMA, 2020.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 
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