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15/12/2019 às 11h00min - Atualizada em 15/12/2019 às 11h00min

Uma luz no fim da... barriga!

ANGELA SENA PRIULI
Quanto a luz influencia na sua vida? Você se sente melhor durante o dia ou durante a noite? Essa história toda começou lá dentro da barriga da sua mãe e a ciência só descobriu agora.

Veja só que interessante: acreditava-se que as células sensíveis à luz presentes nos olhos, mais precisamente na retina em desenvolvimento - a fina camada de tecido semelhante ao cérebro na parte de trás do olho - fossem simples interruptores, presumivelmente estavam lá para configurar as 24 horas do dia, os tais ritmos noturnos que os pais esperam que seu bebê siga para não trocarem o dia pela noite. Mas, foi descoberto por um grupo de pesquisadores, que no segundo trimestre da gestação, ainda dentro da barriga, muito antes dos olhos de um bebê poderem ver imagens, eles podem detectar a luz.

Cientistas da Universidade da Califórnia, Berkeley, encontraram evidências de que essas células simples realmente se comunicam como parte de uma rede interconectada que dá à retina mais sensibilidade à luz do que se pensava, e que pode aumentar a influência da luz no comportamento e no desenvolvimento do cérebro de maneiras inesperadas.

No olho em desenvolvimento, talvez 3% das células ganglionares - as células da retina que enviam mensagens através do nervo óptico para o cérebro - são sensíveis à luz e, até o momento, os pesquisadores descobriram cerca de seis subtipos diferentes que se comunicam com vários lugares no cérebro. Algumas conversam com o núcleo supraquiasmático para ajustar nosso relógio interno ao ciclo dia-noite, enquanto outros enviam sinais para a área que faz nossas pupilas contraírem sob luz forte. E ainda, outras se conectam a áreas surpreendentes: a perihabenula, que regula o humor, e a amígdala, que lida com as emoções.

Essas células, chamadas células ganglionares da retina intrinsecamente fotossensíveis (ipRGCs), foram descobertas há apenas 10 anos, surpreendendo aqueles como Dra. Marla Feller, professora de Biologia Celular e Molecular da UC Berkeley, e autora sênior desse artigo publicado este mês na revista Current Biology, que estudava a retina em desenvolvimento por quase 20 anos. Os cientistas pensavam que os filhotes de ratos e os fetos humanos eram cegos neste momento do desenvolvimento gestacional, mas essas células ganglionares não só estão lá no olho em desenvolvimento, conectadas ao cérebro, mas também enviam mensagens importantes para todo o cérebro, influenciando nas sensações e comportamentos.

Em camundongos e macacos, evidências recentes sugerem que essas células também se comunicam por meio de conexões elétricas, implicando muito mais na complexidade dos olhos imaturos de roedores e primatas do que se imaginava. A Dra. Marla Feller disse que "talvez essas células participem mais do que somente em circuitos visuais, podendo atuar também em comportamentos não visuais. Não apenas o reflexo da luz pupilar e os ritmos circadianos, mas possivelmente explicando problemas como enxaquecas induzidas pela luz ou por que a terapia com luz funciona para a depressão."

Vamos torcer daqui para os avanços dessa pesquisa, que parece básica, mas pode ser aplicada até mesmo no desenvolvimento de terapias daqueles que sofrem de fotofobia, dores de cabeça recorrentes, problemas oftalmológicos e outras desordens. Um pouco de luz para o conhecimento de todos nós!
 
Fonte: Franklin Caval-Holme et al. Gap Junction Coupling Shapes the Encoding of Light in the Developing Retina, Current Biology (2019).


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 
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