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03/12/2019 às 13h21min - Atualizada em 03/12/2019 às 13h21min

Gente mais ou menos

Por Ana Maria Coelho Carvalho
O Padre Fábio de Melo fará um show em Uberlândia no dia 13 de dezembro. Acredito que será emocionante. Gosto muito dos seus textos, músicas, pregações e palestras. Por exemplo, a palestra intitulada "Gente mais ou menos", que circula na internet.

Ele começa chamando atenção para o fato do aumento de um tipo de gente que é mais ou menos. Para qualquer pergunta -como vai a vida, como vai o namoro, como vai a mulher, como vai a saúde- a resposta é sempre a mesma: "Mais ou menos". Assim a pessoa vive mais ao menos e vai multiplicando o mais ou menos pela vida afora. E são muitas as situações em que podemos nos sentir mais ou menos: aprendemos inglês mais ou menos, namoramos mais ou menos, ficamos mais ou menos doentes. Daí procuramos um médico que é mais ou menos porque fez uma faculdade mais ou menos. E ele faz uma cirurgia mais ou menos na gente. Ou seja, começamos a sentir os problemas do mais ao menos quando precisamos de alguém competente. Ou quando alguém procura um marido e acha um mais ou menos, porque ele foi mais ao menos amado dentro de casa. Daí ele ama de qualquer jeito e de qualquer jeito vai embora. E se ficar, também vai ser um pai mais ou menos e ter um filho mais ou menos.

Continuando, ele afirma que isso tudo é muito triste. Não podemos deixar as pessoas entrarem na nossa vida de qualquer jeito, pois somos preciosos. A gente pode até achar algumas coisas mais ou menos, como a casa onde moramos, a rua, a cidade, o transporte, o governo. Ou a cama onde dormimos, a comida. Até acreditar mais ou menos no futuro. Mas a gente não pode, nunca, é amar mais ou menos. Ou sonhar, ser amigo, namorar, ter fé, acreditar. Tem que ser por inteiro. Gente que quer fazer a diferença na vida não pode ser mais ou menos. E a solução para deixarmos de ser mais ou menos está nas coisas simples da vida. Como na música Casinha Branca.  No começo dessa música, se fala de solidão, da falta de prazer, da felicidade cada vez mais longe, dos sonhos da mocidade não realizados. Mas de repente chega o refrão, com um sonho bem simples:  "eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, só pra ver o sol nascer..." Assim, a solução do mais ou menos não está em grandes coisas. Ele, o Padre Fábio de Melo, conta que nunca viu ninguém chorar por não ter um iate ou uma casa grande e bonita. Pode até reclamar, mas não chora. Mas quando precisamos de amor e não temos, aí a gente chora. Ou porque não temos um pai e uma mãe dentro de casa. Ou quando o pai ou a mãe olham pra gente de qualquer jeito, quando perderam a intimidade com o filho. Quando olham com tanta pressa e não são capazes de olhar nos olhos. Porque a única forma de deixar de ser pai ou mãe mais ou menos, não é a forma de falar, é a forma de olhar. Não adianta ser uma pessoa competente se o pai (ou a mãe) não consegue deixar um sorriso no filho que gerou. Numa casa onde só existem pessoas mais ou menos, não há felicidade e não há herança para deixar. Porque o importante não é a casa que você constrói e sim, o que você coloca lá dentro. Daí vale pensar no sonho da casinha branca: o que vale são as coisas simples e pequenas. O pai que pega na mão, que olha sem gritos e acusações, acreditando que o filho pode ser melhor. Que para de colocar defeitos e que conta para o filho o que acha de bonito nele e que nunca teve coragem de falar. Pode ser que o filho, sabendo o que tem de bonito dentro dele, passe a fazer as coisas bonitas mais vezes.
 
Enfim, são coisas tão pequenas, tão miúdas, esforços simples que podemos fazer todos os dias e que podem nos levar a ser inteiros, a deixar de ser mais ou menos e a fazer a diferença no mundo.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 
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