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27/11/2019 às 08h15min - Atualizada em 27/11/2019 às 08h15min

O círculo de ouro

FERNANDO CUNHA

Assim como lobos e outros animais selvagens, que se unem em bandos para caçar animais de porte maior, nós, seres humanos, sentimos a necessidade de pertencer a grupos, de acordo com nossos interesses pessoais e profissionais. Nos reunimos em igrejas, clubes, partidos políticos, times ou tribos. Fazer parte de algo maior, com outras pessoas que pensam como nós, nos faz sentirmos importantes, relevantes. Porém, os grupos por si só não servem para muita coisa se não tiverem alguém que os oriente, que indique a melhor decisão a ser tomada. Alguém que mostre que vale a pena estar ali ao invés de estar em outro grupo qualquer. E o elo que cria essa supremacia do líder em relação aos demais membros da comunidade é a sua oralidade e comunicação interpessoal. Através do seu poder de persuasão e influência, o líder constrói e reafirma a sua identidade no âmbito coletivo.

Muitos de nós, que almejamos posições de liderança em diversos setores, públicos ou privados, dificilmente conseguimos efetivamente assegurar um real prestígio junto aos nossos liderados. O mesmo acontece com comunicadores e palestrantes que não disseminam as suas ideias de maneira organizada e coerente. Ao invés de investirem na formação profícua de redes de relacionamentos voltadas à valorização de sua “marca pessoal”, insistem em apenas promover estratégias esporádicas de vendas de seus produtos e serviços. Esse plano de ação, no primeiro momento, pode até gerar algumas saídas, mas não conquista seguidores leais. Grande parte do tempo “caçamos borboletas” aos quatro ventos, ao passo que, se construirmos um belo jardim e cuidarmos sempre dele, as melhores borboletas se aproximarão espontaneamente e passarão a frequentá-lo.

Imagine que existe ao seu redor um campo magnético. Uma espécie de esfera, dividida em três níveis. Existe um círculo menor bem no centro. Você está posicionado dentro dele. Um outro raio de tamanho médio circunda este círculo central e um outro ainda maior rodeia o aro médio. O magnetismo dessa grande esfera funciona como um imã, que atrai energias na medida em que irradia a sua onda. Nós, como propagadores de ideias e formadores de opinião, emitimos frequências com nossos discursos objetivando atrair pessoas alinhadas às mesmas ideias e convicções transmitidas. Não há nenhuma novidade nisso. Grandes líderes da história sempre usaram e sempre farão uso deste artifício. Primeiro apresentam o seu manifesto para depois proclamarem o chamado. A diferença é que hoje temos a internet e as redes sociais para amplificar isso.

Simon Oliver Sinek, autor britânico-americano, palestrante e consultor organizacional especialista em liderança, criou um conceito chamado Golden Circle (ou em português, Círculo de Ouro). No GC, no raio mais superficial da nossa esfera imaginária está “o que” fazemos. Um pouco mais ao centro, no interior do aro médio, está o “como” fazemos. Bem no centro está o “por que” fazemos. De acordo com Sinek, o sucesso dos líderes está mais associado à identificação que as outras pessoas têm sobre o “por que” eles fazem o que fazem do que às outras camadas da esfera. Ou seja, o que importa são os motivos que nos levam a fazer o que fazemos, e não simplesmente “o que” ou “como” realizamos determinadas coisas. Por isso, antes de propagarmos as funcionalidades e características físicas e tangíveis sobre nossas convicções, ou até mesmo de nossos produtos ou serviços, devemos difundir primeiramente o propósito e as crenças relacionadas a elas.

Pare agora por um instante e anote as respostas às seguintes questões: por que eu faço o que faço? O que me motiva a defender o meu ofício? Qual a razão da existência de meu produto ou serviço? De que maneira ele agrega valor à vida das outras pessoas? Depois propague isso. Na medida em que os motivos pelos quais defendemos nossas ideias se tornam conhecidos, mais as pessoas se conectam com elas. Desta forma, o vínculo com os “lobos” da nossa matilha ultrapassa o nível da superficialidade. A nossa comunicação está direcionada para “o que”, “como” ou para o “por que”? Não digo que os níveis mais superficiais não são importantes, mas o equilíbrio entre eles é essencial, pois, na medida em que exploramos os níveis mais profundos (“por que” e “como”) mais crédito ganhamos para nos beneficiarmos da dimensão do “o que”. Ao contrário, se insistirmos em nos mantermos nas camadas superficiais do círculo, dificilmente conseguiremos atrair as melhores borboletas para o nosso jardim.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.










 

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