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06/11/2019 às 08h43min - Atualizada em 06/11/2019 às 08h43min

Contraponto

MARIÙ CERCHI BORGES | PROFESSORA

Apanhados em estado de embriaguez ao volante, após terem provocado acidentes nas rodovias duas cenas, mostradas pela TV, chocaram. Nos dois casos, os infratores caçoaram dos policiais; um deles, depois de ser preso, chegou a exibir passos de dança no corredor da delegacia, enquanto o outro, olhando com deboche para as câmeras que filmavam a cena, disse: “Bebi sim, cerveja - umas quatro latinhas, e daí?”. Episódios dessa natureza se espalham por esse Brasil afora.

Nas escolas, diretores, professores, alunos acuados, indefesos, amedrontados. Cada qual à mercê do potencial criminoso daqueles cujo furor pode ser desencadeado ao menor gesto que venha a contrariar os seus propósitos; cada um se coloca à espreita do perigo que o outro possa representar. Do outro lado, traficantes anunciam o toque de recolher e uma cidade inteira fica literalmente paralisada em todas as suas atividades.  E mais: pais acusados de assassinar os próprios filhos, vergonhosos casos de pedofilia, corrupção instalada nos poderes constituídos, impunidade para crimes hediondos. A selvageria, a podridão e a degeneração do gênero humano ficam escancaradas aos nossos olhos... é a própria natureza humana que, obscurecida da sua verdadeira destinação, despenca abismo abaixo, numa vertiginosa corrida   aos porões da inconsciência.

No entanto, transpondo a linha divisória que separa a perversão da nobreza, quando tudo nos leva a desacreditar da presença do amor no coração do homem, o furor da natureza, fazendo a terra tremer, a chuva soterrar casas e pessoas e o chão deslizar, faz emergir, dessa desacreditada e perversa natureza humana, a solidariedade! Pessoas arriscando a própria vida para salvar outras vidas! Pessoas que, tendo perdido filhos, casa e todos os pertences, se colocam a serviço. É a generosidade, a fraternidade e a compaixão manifestando-se nas leis inscritas no coração.

Aristóteles, filósofo grego (384-322 a.C.), na sua teoria pedagógica, ao tratar do tema sobre o aprendizado do bem e do agir virtuoso, traz importantes pontos de reflexão. Para ele as coisas nobres e justas são um pré-requisito para o esclarecimento do que é o bem. O método a ser empregado para se chegar a esse bem seria uma prática intensiva que acostume a pessoa a uma conduta nobre e justa. O aprendizado do bem habilitaria a pessoa a guiar a conduta na descoberta da verdade. A quem faltar o gosto pelas coisas nobres e justas não será dado conhecer a virtude. O prazer que a pessoa sente por essas ações cresce com o seu cultivo e a sua prática. Decorrendo daí o prazer de aprender a agir virtuosamente por meio de uma correta educação.

Certamente, aqueles que estão arriscando suas vidas para salvar outras vidas, são os praticantes das virtudes a que se refere o filósofo. São os heróis anônimos, cuja felicidade reside exatamente em fazer o bem; marcam na alma humana o contraponto entre o mal e o bem. Representam a esperança de que um mundo melhor, para as futuras gerações, pode acontecer.

Que assim seja!!!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.







 

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