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13/10/2019 às 13h45min - Atualizada em 13/10/2019 às 13h45min

Papo sério com cientistas da UFU

ANGELA SENA PRIULI

O mês é das crianças, do câncer de mama, da visão, mas como muito se fala sobre esses temas, resolvi ceder o espaço de hoje para trazer a ciência pura, feita na UFU, e falar sobre um assunto tão sério quanto os citados: a infecção generalizada (tecnicamente conhecida como sepse). Pesado? Mas é importante e literalmente vital sabermos que pesquisadores brasileiros, como a equipe do Prof. Dr. Robinson Sabino-Silva (UFU), têm se dedicado à melhor compreensão do tratamento da sepse.

A sepse é uma doença promovida por uma infecção que "cai no sangue" (por diversos agentes infecciosos), com manifestações graves em todo o corpo. Em algumas situações, essa infecção que causou está associada com uma resposta inflamatória e fica mais evidente em alguma parte do corpo, como, por exemplo, no pulmão. Em outros casos, essa inflamação pode comprometer vários órgãos e promover a falência múltipla de órgãos. Embora seja difícil determinar com precisão uma estimativa precisa da carga epidemiológica global da sepse, a ONU estima que ela possa afetar mais de 30 milhões de pessoas no mundo todo a cada ano, levando potencialmente a 6 milhões de mortes. A sepse é frequentemente subdiagnosticada em um estágio inicial, desta forma o tratamento fica muito mais complexo. Como essas infecções promovidas pela sepse podem ser resistentes aos antibióticos, é frequente a piora da condição clínica destes pacientes, o que também gera gastos altíssimos para o sistema de saúde e do serviço público do país.

Nesse contexto, uma pesquisa do Laboratório de Fisiologia Integrativa e Nanobiotecnologia Salivar, com pesquisadores da UFU liderados pelo Prof. Robinson Sabino-Silva e com alunos dos Programas de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Biotecnologia e Odontologia, demonstrou experimentalmente o efeito de uma molécula que pode reduzir o impacto da sepse no pulmão. Os resultados da pesquisa foram publicados na última semana na revista científica renomada PLoS ONE. Além disso, essa pesquisa foi conduzida utilizando recursos do CNPq, Capes e Fapemig, órgãos de fomento federais e estadual, demonstrando a importância e a manutenção do suporte da ciência em nosso país.

Mas o que nossos cientistas descobriram exatamente? Sabe-se que a sepse tem potencial para promover aumento de moléculas inflamatórias pulmonares, alterar a produção de radicais livres (estresse oxidativo) no pulmão e fechar os alvéolos que fazem as trocas gasosas no pulmão, o que leva a um aumento de mortalidade. Inicialmente, o estudo conduzido na UFU demonstrou que uma substância, o salbutamol, pode reduzir significativamente a concentração dessas moléculas inflamatórias e evitar o fechamento de alvéolos respiratórios, o que facilita as trocas gasosas no pulmão e leva a uma redução da mortalidade em casos de sepse. Foi visto que parte do efeito dessa droga é promovido por uma proteína (a SGLT1), que é capaz de reduzir a presença de água e glicose no líquido pulmonar, o que também facilita a respiração e dificulta o crescimento de bactérias. Um ponto de alerta ligada ao mecanismo de ação do estudo revelou que uma molécula que já foi usada no tratamento da diabetes chamada florizina (que é capaz de bloquear a proteína SGLT1 no organismo) pode promover aumento da inflamação pulmonar, piora do estresse oxidativo e piora nas trocas gasosas em quadros de sepse, o que promove aumento da mortalidade. Desta forma, o estudo indica que se deve ter muita atenção na utilização desta classe de medicamentos contra diabetes em pacientes com sepse, pois ele atua bem na proteína SGLT1, parcialmente responsável pelo efeito do salbutamol.

Os pesquisadores da equipe acreditam que com pesquisas nessa área, futuramente, podem haver escolhas mais assertivas no tratamento contra sepse dentro dos hospitais públicos e privados, o que certamente terá grandes benefícios para população brasileira. Bora apoiar cada vez mais a ciência brasileira?!
 
Fonte:
Cardoso-Sousa L, Aguiar EMG, Caixeta DC, Vilela DD, Costa DPd, Silva TL, et al. (2019) Effects of salbutamol and phlorizin on acute pulmonary inflammation and disease severity in experimental sepsis. PLoS ONE 14(9): e0222575. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0222575


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.




 

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