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21/09/2019 às 12h00min - Atualizada em 21/09/2019 às 12h00min

Mais gordura, mais deprê

ANGELA SENA PRIULI

Para aproveitar que ainda estamos no Setembro Amarelo, continuei procurando mais dados científicos que relacionam estilo de vida e saúde mental. Veja só o que encontrei pra vocês essa semana...

Carregar dez quilos de excesso de gordura corporal aumenta o risco de depressão em 17%. Ou seja, quanto mais gordura, maior a probabilidade de desenvolver depressão. Esta é a principal conclusão de um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Aarhus e do Hospital da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

O estudo, que avaliou dados de mais de 800 mil pessoas, também indicou que a localização da gordura no corpo não faz diferença para o risco de depressão. Isso sugere que são as consequências psicológicas do sobrepeso ou obesidade que levam ao aumento do risco de depressão, e não o risco biológico direto. Se o contrário fosse verdade, teriam visto que a gordura localizada centralmente no corpo aumentava mais o risco, pois tem o efeito mais prejudicial em termos biológicos.
 
Estudos anteriores nessa área usaram predominantemente o Índice de Massa Corporal (IMC) para medir a obesidade. No entanto, o IMC é calculado apenas com base no peso corporal e na altura e, portanto, é uma medida bastante grosseira, que não leva em consideração, por exemplo, a construção e a massa muscular. Veja que muitos atletas de elite com uma grande massa muscular e uma baixa gordura corporal terão um IMC acima de 25, que é classificado como excesso de peso, de acordo com a definição comum. Isso obviamente não faz sentido. Portanto, um dos pontos fortes dessa nova pesquisa é que foi possível ampliar e analisar a relação específica entre a quantidade de GORDURA corporal e o risco de depressão.
 
No estudo, publicado na revista Translational Psychiatry, os pesquisadores analisaram dados de dois grandes conjuntos de dados genéticos: o UK Biobank, que contém dados sobre a correlação entre variantes genéticas e medidas físicas (incluindo massa de gordura corporal distribuída em partes do corpo); e o Psychiatric Genomics Consortium, que contém informações sobre a correlação entre variantes genéticas e depressão.
 
O Dr. Ostergaard, principal pesquisador do estudo, destaca que as descobertas são particularmente significativas, tendo em vista que quase 40% da população adulta do mundo está acima do peso. "Além das consequências físicas conhecidas da obesidade, como diabetes e doenças cardiovasculares, há também um componente psicológico significativo e agora bem documentado, que também precisa ser tratado. Esse é outro argumento para resolver a epidemia da obesidade", ele diz, antes de enfatizar que é importante ter uma abordagem equilibrada do problema.
 
Como uma imagem corporal negativa e baixa autoestima parecem ser as consequências psicológicas da obesidade, que são as principais forças por trás do aumento do risco de depressão, os esforços da sociedade para combater a obesidade devem focar em, antes de mais nada, NÃO ESTIGMATIZAR, pois isso provavelmente aumentará o risco de uma depressão ainda mais importante. "É vital ter isso em mente para que possamos evitar fazer mais mal do que bem no esforço de conter a epidemia de obesidade", diz o Dr. Ostergaard.

Entendeu o recado desse último parágrafo? Mudar os hábitos alimentares e abolir o sedentarismo são importantes, mas não vamos massacrar nosso familiar ou amigo que está nesse processo, pois podemos ainda piorar a condição mental deles, valeu?! Militemos com parcimônia!
 
Fonte:
Maria S. Speed M, Oskar H. Jefsen, Anders D. Borglum, Doug Speed, Soren D. Ostergaard. Investigating the association between body fat and depression via Mendelian randomization. Translational Psychiatry, 2019; 9 (1)
Aarhus University. "Excess body fat increases the risk of depression." ScienceDaily. ScienceDaily, 27 August 2019. <www.sciencedaily.com/releases/2019/08/190827095100.htm>.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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