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25/08/2019 às 15h00min - Atualizada em 25/08/2019 às 15h00min

Você é cotovia ou coruja?

ANGELA SENA PRIULI

Sabe aquela conversa de representatividade que muita gente não entende? Então, ela não se refere somente a raça ou gênero, mas sim a todas as diferenças entre nós que, de alguma forma, nos excluem da sociedade. Você é diferente em algo e sente que as pessoas te julgam por isso? Eu sinto. E abrindo meu coração aqui, hoje resolvi falar sobre ritmo biológico.

Há uns dias iniciei a leitura de um livro muuuito interessante e que super recomendo (leitura fácil da ciência), que é chamado “Por que dormimos? A nova ciência do sono e do sonho”. Nele, o renomado neurocientista e especialista em sono Matthew Walker oferece um estudo revolucionário sobre como o sono afeta cada aspecto do nosso bem-estar físico e mental. Entre os vários aspectos abordados sobre sono, um deles explica, cientificamente, que temos um "reloginho" no meio de nossos cérebros - o núcleo supraquiasmático. O nome é esquisito, mas ele é o maestro central da sinfonia rítmica biológica da vida, sendo responsável por ajustar nosso organismo ao ciclo de 24 horas do dia. Basicamente, ele define quando você dorme e quando você fica acordado.

Haja dito que todas as espécies animais, das moscas aos elefantes, apresentam um período de sono - o que ressalta a importância de dormir -, devemos lembrar que os seres humanos são diurnos, ou seja, são ativos durante o dia e dormem durante a noite. Isso quer dizer que ocorrerá uma série de mudanças ao longo do ciclo dia/noite, como por exemplo, a queda da temperatura corporal durante a noite e provavelmente o sono virá. Esse ciclo é tão rigoroso, que mesmo que vamos a uma superbalada e não durmamos à noite, nossa temperatura irá cair assim mesmo, pois isso está programado em nosso DNA. Mas, apesar das regras, a hora de dormir e acordar não é igual para todos, nós temos ritmos variáveis e aqui entra meu desabafo: meu ritmo não é o seu ritmo! (se sentiu representado?)

Vejamos os números: cerca de 40% da população é composta pelo cronotipo matutino ou cotovia, que preferem acordar ao amanhecer, ficam felizes com isso e funcionam perfeitamente bem nessa hora do dia. Outros 30% são do cronotipo vespertino ou coruja e, diferente dos primeiros, eles se sentem melhor dormindo mais tarde e acordando mais tarde na manhã seguinte, ou até mesmo na parte da tarde. Os 30% restantes são um mix de cotovia-coruja. Acho que sou essa mistura de aves aí...

Para as corujas ou o cronotipo mix, quando elas são obrigadas a acordar cedo, o ato de controlar o pensamento de alto nível e o raciocínio lógico é quase impossível, pois seu córtex pré-frontal permanece praticamente inativado, quase como um motor de carro à álcool no frio. Mas o que é vital esclarecer é que o cronotipo de uma pessoa é fortemente determinado pela sua genética e infelizmente a sociedade trata as corujas da noite como se elas fossem "folgadas" por escolha. No entanto, não se trata de um "defeito" consciente das corujas, mas sim de seu destino genético. E isso é complicado, pois o sono beneficia as espécies de milhares de formas, e esse cronotipo acaba sendo "punido" pelas convenções, como horário da escola e do trabalho que é feito para cotovias (entendeu sobre a exclusão?). Ao final, as corujas são cronicamente privadas do sono, estando mais expostas ao desenvolvimento de doenças como depressão, ansiedade, diabetes, câncer, ataque cardíaco e derrame cerebral.

Particularmente, eu lutei muitos anos contra meu estilo quase coruja de viver, mas há algum tempo tive a sorte de poder me planejar e respeitar minha genética (opa! que fique claro aqui que não é culpa da genética os maus hábitos que muitos praticamos, como por exemplo tomar café à noite, ficar no celular, fazer exercícios antes de dormir, etc). Assim, entender o quanto o sono influencia em nossas vidas é fundamental identificar seu cronotipo ainda mais, pois assim você pode transformar sua rotina e educar seu entorno para que respeitem seu ritmo, para conseguir dormir, se possível, as indicadas 8 horas com a qualidade que sua saúde merece. Não abra mão disso e boa noite!
 
Fonte:
POR QUE NÓS DORMIMOS. A nova ciência do sono e do sonho. Matthew Walker. Ed. Intrínseca, 400 páginas, 2018.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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