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30/07/2019 às 08h17min - Atualizada em 30/07/2019 às 08h17min

Hakuna Matata – Breve Reflexão

ISABELLA CONTINO DE AZEVEDO | PSICÓLOGA

Poxa vida, cresci cantarolando a música cantada por Timão e Pumba na cabeça. Mas agora, cá estou eu, refletindo sobre essa filosofia aprendida desde cedo no filme “O Rei Leão”, o único que desbancou Cinderela do vídeo cassete lá de casa! Meu Deus, que ideia maravilhosa esquecer os problemas, aproveitar cada momento e se divertir muito. Tem coisa melhor do que ignorar tudo de ruim que acontece em nossa vida e poder viver tranquilamente esbanjando felicidade? Que delícia! Pena que a consequência disso não é nada boa. Ah, mas a musiquinha é tão cativante que chega até a convencer!

Estou escrevendo este texto porque levei minha filha para assistir a live-action de O Rei Leão e ficamos choramingando em alguns (vários) momentos do filme! Longe de mim querer problematizar Hakuna Matata, mas precisamos compreender que temos a hora certa de legitimar essa filosofia. Hakuna Matata é válido, mas com moderação.

Quando algo não sai como esperado, quando as coisas vão acontecendo de forma totalmente contrária ao que imaginamos, isso dói e incomoda. É ruim até ficar pensando sobre o que aconteceu, refletindo e analisando. Nesses casos, é melhor criar algo para se distrair, se divertir, esquecer os problemas! Pode até ser melhor, mas só a curto prazo. A curto prazo porque funciona por pouco tempo. Tipo um band-aid. Cobre a ferida, esconde, mas ela vai continuar ali por um tempo, doendo. Se não cuidar, não limpar, não olhar para ela, a dor não vai passar. E então, das duas uma: ou troco o band-aid, dia após dia, para esconder a ferida ou encaro a dor e faço o que conseguir para tentar cicatrizar.

Hakuna Matata é um conselho que ajuda. Diria até que é bem terapêutico, mas não cabe em todos os momentos, pode acreditar! Eis que chega Rafiki com seu cajado dando grande choque de realidade, afirmando que o passado existe e que se não há como mudá-lo, há como ressignificá-lo, aprendendo com esse passado e, assim, transformando o futuro. Uauuuuu! É exatamente isso, Rafiki!

Para a Psicologia Positiva, o arquétipo que definiria seguidores fiéis de Hakuna Matata seria o hedonista. Hedonistas, na Teoria da Felicidade, de Tal Ben-Shahar (professor de uma das aulas mais concorridas de Harvard) seriam aquelas pessoas que aproveitam o presente focando apenas no agora, em detrimento ao amanhã. Sem fazer planos para o futuro, só pensam no bem estar imediato, ignorando consequências de seus atos presentes. Já o arquétipo para a felicidade seria aquele onde há benefício e prazer tanto no presente como no futuro. É uma forma equilibrada de perceber benefícios imediatos, ao mesmo tempo em que se pensa no futuro, e sem se concentrar somente nos aspectos negativos. Pessoas felizes vivem seguras sabendo que as atividades que lhes trazem contentamento no presente também guardam satisfações futuras.

Então Simba, ao se perceber no momento presente, tendo consciência de quem era e das responsabilidades que carregava, nos mostra que precisamos aprender a encarar a realidade com coragem e determinação. Quando Rafiki encontra Simba, seu propósito é tentar fazê-lo perceber o quadro completo da realidade, ressignificando o momento presente e também pensando no momento futuro.

A Psicologia Positiva não defende que os erros e os pontos fracos sejam ignorados, mas defende sim uma mudança do foco da questão, deixando de enxergar apenas o que vai mal para observar também o que dá certo, mesmo que em momentos difíceis! Assim temos um equilíbrio e podemos prosperar!

Não aceitar que vivenciamos emoções dolorosas como a tristeza, a raiva, o medo e a decepção nos leva a ter frustração e infelicidade. E então geralmente tentamos buscar no aqui e agora coisas que satisfaçam essa sensação desagradável, e aí cantar Hakuna Matata pode ser tentador. Mas antes de cantar, analise se isso não compromete seu futuro. A combinação de doses de prazer no presente nos possibilitará uma caminhada com mais leveza, mas essa combinação deve ser consciente com a forma com que você encara sua realidade!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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