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23/06/2019 às 13h28min - Atualizada em 23/06/2019 às 13h28min

Ceratocone: você sabe o que é isso?

ANGELA SENA PRIULI
Apresento ao caro leitor mais uma cor no calendário: o “JUNHO VIOLETA”, que visa a conscientização pública sobre o ceratocone. Essa campanha iniciou no Rio de Janeiro, mas já ganha visibilidade internacional e seus esforços devem se estender até dia 10 de novembro, o Dia Internacional do Ceratocone. Então, para esse domingo convidei os médicos oftalmologistas Dr. Adael Soares, com subespecialidade em córnea, e a Dra. Letícia Naves, com experiência em transplante de córnea, para esclarecer por que é importante que você saiba mais sobre essa doença.

Mas afinal, o que leva essa doença desconhecida por muitos ter um mês e um dia internacional dedicado especialmente a ela?

Por definição, ceratocone é o afinamento da córnea (camada externa transparente do olho), levando a sua protrusão e assumindo um formato de cone (daí o seu nome). É uma doença degenerativa da córnea que, segundo estimativas, afeta 1 a cada 2 mil pessoas no Brasil, com incidência progressiva, que pode causar baixa acuidade visual. Costuma aparecer na adolescência, entre os 12 e os 18 anos, embora possa aparecer em crianças e progredir ao longo dos anos nos adultos. Após esse período, a tendência é de estabilização.

Na maioria das vezes atinge os dois olhos, porém o acometimento é assimétrico, sendo um olho em estado mais avançado que o outro. Além do fator genético, seu desenvolvimento está especialmente associado ao ato de coçar cronicamente os olhos, já que a ação provoca uma alteração da córnea e afeta a sua espessura e o seu formato, sendo portanto, mais comum em alérgicos. Ocorre mais frequentemente também em portadores de síndrome de Down, Retinose pigmentar, síndrome de Marfan, entre outras doenças.
Como diagnosticar?

O diagnóstico do ceratocone é feito através do exame oftalmológico, associado a exames complementares como topografia e/ou tomografia corneana.

Como tratar?

Essa irregularidade da córnea torna a visão embaçada e distorcida, levando na realidade a um astigmatismo que por muitas vezes não pode ser corrigido somente com o uso de óculos de grau, sendo necessário o uso de lentes de contato rígidas especiais e, em casos mais avançados da doença, cirurgias como o cross-linking corneano, implante de anel intraestromal e transplante de córnea.
O cross-linking corneano é um procedimento indicado para casos leves a moderados, que utiliza combinação da irradiação ultravioleta A (UVA) – por isso Junho Violeta - e o fotossintetizador riboflavina na superfície da córnea, proporcionando a estabilização mecânica e aumento da rigidez corneana (reduzindo a possibilidade de progressão). De outra forma, o implante de anel intraestromal (também conhecido como Anel de Ferrara) de material semelhante a plástico em forma de lua crescente leva ao aplanamento da córnea e melhora da visão e normalmente é indicado em casos moderados e avançados que não conseguiram se adaptar com lentes de contato.

A indicação de transplante de córnea é indicado para os casos mais graves da doença. Entre técnicas mais avançadas do transplante temos a ceratoplastia lamelar, que é uma técnica que retira somente a camada anterior e média da córnea com pós-operatório imediato e reabilitação visual mais rápida, em comparação ao transplante de espessura total da córnea ou convencional.

Tem como prevenir?

Por fim, o importante é detectar o Ceratocone ainda em seu estágio inicial, o que remete à importância de exames preventivos. Não esfregar os olhos de maneira contínua é sem dúvida a grande dica para não prejudicar a saúde de seus olhos e prevenir o aparecimento do Ceratocone. Mas, por ser uma doença bastante associada à infância e juventude, também é importante que os pais estejam atentos e, em caso de surgimento de qualquer alteração na visão dos filhos, procurar um oftalmologista, pois é ele quem realizará os exames necessários para identificar qual o problema ocular e fornecer o tratamento adequado.
 
Fontes:
Carlson A. Keratoconus. Time to rewrite the textbooks , 2009.
Adimara da Candelaria Renesto; Marta Sartori; Mauro Campos. Cross-linking e segmento de anel corneano intraestromal. Arq. Bras. Oftalmol. vol.74 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2011.
Gomes et al. Global consensus on Keratoconus and ectatic diseasis, 2015.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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