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14/06/2019 às 08h47min - Atualizada em 14/06/2019 às 08h47min

Olhar quem nos olha

CELSO MACHADO
Na minha adolescência os livros a que tinha mais acesso eram os obrigatórios exigidos pelo colégio em que estudava e que a cada ano mudavam. Os de outras matérias me despertavam somente a leitura com o objetivo de sair bem nas aulas, de aprender com eles. Os da língua portuguesa eram meus queridos. Adorava a leitura dos trechos de livros que traziam, que me levavam muitas vezes até a biblioteca para completar a leitura.

Era fascinado pelos textos de Gonçalves Dias, Malba Tahan, Menotti Del Pichia, Alphonsus Guimarães e outros autores. O fascínio era tanto que até hoje guardo na memória trechos de poesias que conheci nessa época. E, claro seus ensinamentos também.

Nesta semana em que tivemos o Dia dos Namorados, me veio na lembrança o trecho de uma delas, porque convivendo com pessoas maravilhosas que estão sozinhas, não entendo porque não encontram seus pares.

Antes porém, vou para uma divagação, porque junto com a recordação dela me veio outra de quando a recomendei a uma amiga muito querida que estava lamentando suas escolhas românticas. Dizia ela que precisava ser mais atenta nas suas escolhas, avaliar melhor quem buscava para ser sua alma gêmea. Aquela que seria sua companheira para sempre, que daria outro significado e sentido á sua vida. Porque sempre estava se decepcionando com as tentativas feitas.

Longe de ser conselheiro, mas sempre sentimental tive a ousadia de lhe sugerir outro ângulo de avaliação. Que talvez ela devesse, evidente ser criteriosa na avaliação, mas não ficar só nisso: investir nas escolhas feitas. Investir carinho, atenção, paciência, tolerância. Porque todos temos características positivas e negativas. Quem busca a perfeição, morre sozinho. E com pouca gente no enterro.

Não me incomoda se for o caso ser chamado de brega, de piegas, mas de verdade acredito que uma das maiores riquezas do ser humano é amar e ser amado.

Amar é aceitar as diferenças. Compreender individualidades, ser tolerante quanto a predileções diferentes, nunca descuidar do carinho, da atenção, da amizade, do companheirismo. Por mais óbvio que seja, olhar mais com o coração do que com a visão, porque é inexorável o tempo passa e as marcas chegam.

Terminei acrescentando mais uma sugestão, que ficasse mais atenta não só com quem lhe despertava a atenção, mas com outros com quem convivia que poderiam estar olhando para ela em busca desse mesmo objetivo.

Lógico, recorri ao poeta Menotti Del Pichia para encerrar a conversa. E segue o trecho da poesia que desde a adolescência me encanta:

“O destino que impera/ um recíproco amor às almas todas deu ./ Em vez de desejar o olhar que te exaspera. / Procura esse outro olhar que te espreita e te espera,/ Que há, por certo, um olhar que espera pelo teu”.

Quem sabe um pouco da dificuldade de encontrar um par seja porque a pessoa está focada exclusivamente em buscar alguém que idealize e não fique atenta em quem está olhando para ela com esse mesmo propósito. Mas é só uma teoria, nada mais.

Para terminar, além de poesias e textos, guardo também trechos de letras de músicas que são verdadeiras preciosidades, como estes da música “Exemplo” do extraordinário compositor Lupícinio Rodrigues: “Esse é o e exemplo que damos aos jovens recém-namorados/ Que é melhor brigar juntos do que chorar separados”.

Que sejamos “brega” se assim for a avaliação dos “intelectuais”, mas que nunca deixemos de ser namorados de quem amamos e de quem nos ama.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

Boa semana a todos. Bons beijos, abraços e “amassos”!
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