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10/03/2019 às 07h00min - Atualizada em 10/03/2019 às 07h00min

Como a ciência aborda a saúde da mulher?

ANGELA SENA PRIULI
Homens e mulheres tendem a ter as mesmas doenças, por isso é tentador pensar que esse termo é sinônimo de saúde reprodutiva. Se fosse esse o caso, os pesquisadores preocupados com a saúde da mulher deveriam se concentrar principalmente em questões como:
- prevenir as mortes maternas durante o parto. Um dos maiores desafios da Organização Mundial da Saúde com relação às mulheres, que, com muito esforço, nosso Brasil conseguiu diminuir em 58% o número de mortes entre 1990 e 2015;
- compreender como se define e por que a alteração da microbiota (flora) vaginal pode levar ao parto prematuro. Só para lançar a curiosidade, nós temos uma diversidade de lactobacilos bonzinhos e malvadinhos que vivem e se conectam em nossas vaginas. No entanto, mulheres de diferenças raças parecem ter diferentes proporções deles, levando-as a ter mais ou menos risco de condições como a vaginose e a prematuridade no parto;
- investigar sobre a tendência do início precoce da puberdade e da menstruação. Provavelmente, você já notou que as meninas estão ficando "mocinhas" cada vez mais cedo, entre 9 e 10 anos de idade. Esse fato preocupa, pois quanto mais cedo menstruar, maior exposição aos hormônios femininos e maior o risco de desenvolver câncer de mama e útero, quando for mais velha. Parece haver vários motivos para que a puberdade se adiante, como a epidemia da obesidade nas crianças, maior exposição à luz (menos tempo de sono), condições familiares negativas, incluindo abuso sexual, e vários produtos químicos em alimentos processados e cabe aos responsáveis pelos jovens tomarem suas providências.

Estas são certamente preocupações importantes. Mas as mulheres também diferem dos homens em sua saúde não-reprodutiva - em como elas respondem a essas doenças e de maneiras que são frequentemente ignoradas.

Parte da divergência nessa resposta ocorre em nível celular, onde ter dois cromossomos X acaba afetando não apenas o sexo biológico de uma pessoa, mas também sua suscetibilidade à obesidade e ao câncer, entre outros transtornos. As diferenças fisiológicas entre homens e mulheres fazem com que as mulheres tenham um risco muito maior de sofrerem de uma fratura com risco de vida devido à osteoporose ou serem afetadas por formas mais diversas de doença cardíaca. Além disso, diferenças na excitação e no desejo sexual não são surpresa, mas somente agora elas estão sendo estudadas rigorosamente em mulheres.

Em quase todo nosso planeta, com exceção de alguns países europeus, há uma minoria de mulheres que trabalham na ciência - fato que parece já fazer parte do senso comum. Mas o que assusta mesmo é o fato de que muito menos mulheres e fêmeas (quando falamos de cobaias) participam de experimentos científicos na hora de testar um novo medicamento, por exemplo. O problema é indescritivelmente mais sério que uma simples demanda pela igualdade, pois as mulheres são afetadas 35% mais por efeitos colaterais dos medicamentos, justamente porque os mecanismos e os efeitos de determinadas drogas não foram devidamente investigados em homens e mulheres proporcionalmente. É essencial encontrar tratamentos que funcionem de forma eficaz e segura em toda a população e para ter sucesso, a ciência deve ser culturalmente sensível.

A saúde de cada ser vivo deve ser compreendida no seu todo, especialmente nos detalhes que a genética e o ambiente impõem. Ciência para todos! Mas uma saudação especial para as mulheres que sobrevivem às intempéries dos seus destinos.
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