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15/02/2019 às 10h29min - Atualizada em 15/02/2019 às 10h29min

Os vírus são seres vivos?

ANGELA SENA PRIULI
Vivos ou não, esses pequeninos estão arrasando nas primeiras páginas dos jornais, onde se noticiam terrores sobre dengue, febre amarela, sarampo, zika e gripe! Sem falar que estamos perto do carnaval, época em que os tais vírus literalmente passam de boca em boca, espalhando mil doenças.

Mas se fazem tanto estrago, que tipo de pergunta é essa? Eles não são seres vivos? Acreditem, esse é um conceito (crença?) da biologia... Diante dessa verdade conflitante, convidei um colaborador superespecial, meu grande amigo e cientista de primeira: o Dr. Galber Araújo, que é PhD em Genética (UFU) e que atualmente realiza seu pós-doutorado na Universidade de Salzburg, Áustria. Uau, leiam abaixo que opinião de dar nó na cabeça!

- Controvérsia
Os vírus são organismos microscópicos que existem em quase todos os lugares da Terra. Eles podem infectar animais, plantas, fungos e até bactérias. Se uma pesquisa perguntasse às pessoas na rua suas opiniões sobre vírus, associações positivas provavelmente não surgiriam. Esse famoso e controverso microrganismo é geralmente associado a palavras como doença, infecção, transmissão, sofrimento ou risco de vida, já que as pessoas pensam principalmente em vírus como o HIV, o vírus Ebola, o vírus Zika, o vírus da gripe ou de qualquer novo surto. Mas é bom lembrar que nem todos os vírus provocam reações perceptíveis e necessariamente ruins.

Baseados em definições descritas em livros de ciências, vários pesquisadores ao redor do mundo afirmam que os vírus são organismos que não devem ser considerados seres vivos, principalmente por não possuírem células e por não serem capazes de se reproduzir sozinhos. Mas os vírus são organismos vivos?

Pessoalmente, eu acredito que as definições do que significa estar vivo são muito controversas e questionáveis. Existem muitas definições para a vida, todas as quais incluem a capacidade do organismo em se reproduzir, mover e crescer. É definido que os seres vivos possuem um mecanismo celular, permitindo-lhes exercer as funções biológicas necessárias para se manterem vivos. Por outro lado, embora os vírus consistam em DNA ou RNA, eles precisam invadir as células de um organismo vivo para se replicar. É por isso que muitos cientistas não classificam os vírus como organismos vivos, já que eles não têm um metabolismo próprio, e sem um hospedeiro (como nós, por exemplos) são incapazes de se reproduzir.
Creio que os vírus são um tipo especial de organismos vivos, pois não são tão distintos de outras formas de vida. Em essência, os vírus exploram o ambiente da célula hospedeira para fazer cópias de si mesmos, mas, na verdade, essa dependência do meio ambiente é espelhada em todas as formas de vida.

Por exemplo, para realizar fotossíntese, as plantas precisam da energia do sol, elas precisam de dióxido de carbono do ar e de água das chuvas. Para crescer, elas precisam de nutrientes e estabilidade do solo. Quando privadas dessas coisas, elas certamente não sobreviverão. Nós, como seres vivos indiscutíveis, também precisamos de oxigênio do ar e nutrição através de alimentos que podem até mesmo impactar na expressão dos nossos genes. Portanto, assim como os vírus, nós também exploramos e dependemos do ambiente ao nosso redor. De fato, para nos mantermos vivos, não precisamos muito além da alimentação e do oxigênio porque já somos muito complexos, e as plantas precisam ainda menos porque, em sua biologia, são organismos ainda mais complexos.

Os vírus, por outro lado, são seres vivos simples e incríveis que, apesar de não possuírem as ferramentas necessárias para fazer uma cópia de seu DNA, continuam a encontrar outras formas de criar novas réplicas explorando o ambiente da célula hospedeira, e isso é absolutamente fascinante. Acredito que, para nossa conveniência, tendemos a perceber os organismos vivos como seres capazes de se reproduzir, de emitir cheiros, de se mover, de serem compostos por pelos ou folhas, de estarem sempre famintos, mas em um nível molecular, essa distinção simplesmente não existe.
Temos que deixar de lado as definições que nos impedem de entender que a vida pode ser muito mais simples do que a complexidade que esperamos dela.

Biologia também é filosofia. Reflitam!
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